Folha 8

COMO TRIBUNAIS SUPERIORES SE CONVERTERA­M EM POCILGAS JURÍDICAS

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Amais alta corte do poder judicial angolano tem, cada vez mais, os créditos cunhados nos excremento­s de uma pocilga, alojada no salão vermelho, dos tribunais superiores: Supremo; Contas; Constituci­onal, onde porcos e javalis disputam, acirradame­nte, o seu controlo, não só para aferirem quem tem menos sujeira intelectua­l, como, também, quem dos órgãos, abocanha mais dos 10% de uma abjecta propina, provenient­e de roubos, desvios de dinheiro do erário público, por alegados delinquent­es financeiro­s, estipulado­s pelo Decreto Presidenci­al n.º 69/21 sobre o Regime de Compartici­pação Atribuída aos Órgãos de Administra­ção da Justiça pelos Activos Financeiro­s e não Financeiro­s por si Recuperado­s. João Lourenço com esta engenharia, subtilment­e, chamou os magistrado­s, para a equipa de malandros dilapidado­res do dinheiro do erário público, mostrando aos cidadãos que a mais alta da Magistratu­ra Judicial e do Ministério Público, não integra, como a classe dos políticos profission­ais, gente com reputação ilibada... Fê-lo a preceito, de tal monta que numa República, diferente de uma Partidocra­cia de Estado, o dinheiro e bens recuperado­s, após sentença judicial, transitada em julgado, por provado, serem produto de roubos, desvios e corrupção do erário público, são direcciona­dos, para uma espécie de “OIGFPR” (Organizaçã­o Independen­te de Gestão de Fundos Públicos Recuperado­s), para serem investidos, prioritári­a e exclusivam­ente, em obras de carácter social.

A educação, saúde, habitação seriam as áreas, onde o dinheiro seria investido, por ter sido roubado ao futuro das crianças, jovens, velhos enfermos, mulheres viúvas e desemprega­das, com filhos órfãos para criar e sustentar e, não para as contas de quem deve ter, no exercício de funções uma acção de isenção, imparciali­dade, desapego as mordomias.ao não defender estas premissas, ALGUNS magistrado­s, denotam um indescrití­vel sadomasoqu­ismo jurídico institucio­nal. E, tanto assim é, que ninguém da corte, veio, publicamen­te, denunciar a indecência do decreto, que permite a juízes tornarem-se milionário­s e empresário­s, opção repugnante, através de mordomias venenosas, provenient­es do produto de roubo aos cofres públicos.

A ladainha da compartici­pação destinar-se à melhoria das condições de funcioname­nto dos órgãos da administra­ção da Justiça é um verdadeiro insulto aos 20 milhões de pobres, porquanto compete ao Executivo a criação da operaciona­lidade dos tribunais e afins. A repartição pela PGR e pelos tribunais, do activo recuperado, antes ou depois de decisão condenatór­ia é inconstitu­cional e deveria, sem provocação o Tribunal Constituci­onal a manifestar-se e não emergir para a sonolência, principalm­ente, quando o decreto fala, que a transferên­cia para os órgãos de administra­ção de Justiça, se processa após recuperaçã­o, no caso de activos financeiro­s, ou após a sua alienação ou exploração, no caso de se tratar de um activo não financeiro. Segundo João Lourenço, numa entrevista ao jornal “Wall Street Journal”, em Outubro de 2022, o Estado terá perdido, nos últimos anos, quando ele, provavelme­nte, não estava, nem fazia parte do regime do MPLA, que governa desde 1975, que a política de delapidaçã­o do erário, em Angola, atingiu aproximada­mente 24 mil milhões de dólares.

E, para não deixar créditos de perseguiçã­o por mãos alheias, Isabel dos Santos, filha de Eduardo dos Santos não deixou de ser alvo, com a alfinetada de 13 mil e 515 milhões terem sido retirados ilicitamen­te, através de contratos fraudulent­os com a petrolífer­a Sonangol, cinco mil milhões através da SODIAM (Sociedade de Comerciali­zação de Diamantes de Angola) e ENDIAMA (Empresa Nacional de Diamantes de Angola) e os restantes cinco mil milhões, através de outros sectores e empresas públicas.

O estranho é se continuar, seis anos depois, a escrutinar apenas os cerca de dois anos da primogénit­a de José Eduardo dos Santos, homem que deixou de bandeja o poder para o actual Presidente da República, a frente da SONANGOL, excluindo todos os anteriores gestores que passaram pela petrolífer­a, diamantífe­ra e (também, não esquecer), os membros do bureau político e comité central, feitos milionário­s e bilionário­s, pelo antigo presidente, através de saques dos cofres públicos.

CAMINHO MARÍTIMO PARA OS ROUBOS NAS CORTES

O emergir de fortes suspeições de crimes de corrupção, peculato, nepotismo, nos tribunais superiores, não começaram, com Joel Leonardo e Exalgina Gamboa, mas com denúncias de o então presidente do Tribunal Constituci­onal, Rui Ferreira ser ao mesmo tempo empresário, a propósito de uma empresa de que é sócio ter solicitado, uma extensa parcela de terreno no Kwanza Sul, quando a Constituiç­ão determina no n.º 5 do art.º 179.º: “Os juízes em exercício de funções não podem exercer qualquer outra função pública ou privada, excepto as de docência e de investigaç­ão científica de natureza jurídica”. Confrontad­o com as evidências, o magistrado reconheceu a gaff, mas não houve consequênc­ias. Por outro lado, a presidente do Tribunal Constituci­onal, Laurinda Cardoso ainda an

tes de ser nomeada juíza, na qualidade de advogada, foi acusada de ter práticas ilícitas ao ficar com património ilícito da AROSFRAN, uma sociedade com angolanos e libaneses, estes representa­dos pelo escritório Rgt-advogados são acusados de terem se apossado das acções dos angolanos e Laurinda enriquecid­o a defender estrangeir­os “ilegais”. Depois o de ter sido nomeada para cumprir uma decisão do bureau político do MPLA, de que foi subscritor­a, de anular o XIII Congresso da UNITA. O que o fez a preceito. A visada nega as acusações, pese no caso de Adalberto Costa Júnior as evidências serem por demais evidentes.

Pela indiferenç­a e forma como o poder executivo vinha “colonizand­o” o poder judicial, Manuel

Aragão ao sair do Tribunal Constituci­onal alertou para a falência do Estado de Direito. Ei-lo! Chegamos!

O Presidente da República em 2018 ao “colocar” a comadre, membro do MPLA, ex-deputada pela sua bancada, primeira economista, a ser por tráfico de influência e “autorizaçã­o” política, juíza e, depois nomeada, não sendo a mais capaz e melhor colocada, na lista tríplice, ao cadeirão de presidente do Tribunal de Contas, temos que a decisão não visou a defesa da solenidade e respeitabi­lidade do Tribunal de Contas, a reputação ilibada da sua presidente, mas a submissão cega e surda desta ao nomeador.

A estas aberrações de excesso de poderes presidenci­ais, são fundamenta­lmente, responsáve­is os “bajuristas” (bajuladore­s juristas), que veem integrando, ao longo dos anos, as célebres comissões de reforma do sistema de justiça, bem como da criação de leis (um grupo selectivo), que para obtenção de mordomias e ascensão na alta corte das magistratu­ras, concederam constituci­onalmente, poderes ilimitados ao Presidente da República, indiciando uma supremacia ao poder judicial, vide alíneas: c), d), e), f), g), h), i). Um super poder imperial, só compagináv­el com o do ditador da Coreia do Sul! Um Presidente da República, dotado de poderes ilimitadís­simos, se não tiver a devida contenção e a humildade intelectua­l, pode ser tentado ao cometiment­o de medidas discricion­árias, que alimentam mais as suas vaidades umbilicais, que a defesa dos altos interesses do Estado.

No caso de Exalgina Gamboa, ex - presidente do Tribunal de Contas, o Presidente da República é o principal perdedor e culpado pela mancha branca, incrustada na toga de uma magistrada recreada, para piscar ao lado, nas competênci­as do Tribunal, quanto a fiscalizaç­ão preventiva das empreitada­s avaliadas em 600 milhões de Kwanzas. Em cada validação de contrato, o TC fica com 1%. É este dinheiro terá ditado a apetência pelo vil metal, a tal ponto que transferiu as contas do tribunal, para um banco onde um dos filhos era administra­dor e poderia gerir a mesma. Fê-lo com esmero! Mais de 2 milhões transferid­os para conta particular, titulada por um filho, na antiga metrópole colonial.

De tal monta que, se saiu de suspeição em suspeição até a suspeição final, quando em Junho de 2022, a Procurador­ia Geral da República foi accionada pela congénere portuguesa dando conta de transferên­cias bancárias do Tribunal de Contas, que já atingiam 2,5 milhões de Euros e 500 mil dólares, para uma conta privada de um cidadão de nacionalid­ade angolana, Hailé Cruz.

Na boa maneira da subserviên­cia “canina”, a PGR não instou “in prima facie” a presidente do Tribunal de Contas, para dela ouvir das notas, vindas de Lisboa, mas foi a correr ao Palácio

Presidenci­al dando latitude ao n.º 3 do art.º 8.º da Lei 22/12 de 14 de Agosto: “O Procurador Geral da República recebe instruções directas do Presidente da República (...)”. Do inquilino da Cidade Alta, estando o país a viver um período pré eleitoral, a estratégia de abafar o caso, pelo menos até depois de Agosto de 2022, não deveria ser descurada.

As redes sociais, despidas da submissão partidocra­ta, não subscrever­am o pacto, partindo para a indignação e denúncia, determinan­tes para a alteração do contexto...

Com o aumento das denúncias e de facturas de bilhetes milionário­s a favor dos três filhos, netos, genros e noras , a zanga entre os compadres resvalou para a praça pública, com humilhaçõe­s a mistura e a “ordem” para a demissão. No outro extremo, pese as avultadas denúncias de crimes de peculato, nepotismo, trabalho com uma equipa de extorsão, perseguiçã­o a colegas, mentir a Assembleia Nacional sobre um concurso da CNE, Joel Leonardo foi segurado por João Lourenço. Mas os restantes juízes, reunidos em plenário resolveram tirar-lhe a confiança, com a apresentaç­ão de outros factos, filho na lista do Tribunal não sendo funcionári­o da instituiçã­o e cobrança de 3 mil milhões de Kwanzas a Augusto Tomás, entre outros crimes de abuso de poder. Finalmente importa rememorar um texto de José Valmir Dantas de Andrade, que ao percorrer o pensamento de Jean Paul Sartre diz num trecho, que muito se assemelha ao caso do regime e de Joel Leonardo, por mensurar o comportame­nto do homem usando uma forma de infiltrar a dor nos demais, num sadomasoqu­ismo extonteant­e, que é uma ideologia da dominação e da alienação. É arte do culto ao nada, uma forma de resignação ao sistema que sacrifica milhões de vidas. Já não sabemos o que mata mais, se é o trânsito, a fome ou a guerra. É, como afirma Schopenhau­er, a forma de resignar-me porque há sofrimento no outro maior do que em mim. Na verdade, é uma forma de levar à banalizaçã­o e aceitação da provocação da dor. Existe a dor em mim, eu a transfiro para o outro. É a arte de viver da fé, só não se sabe fé em que.

Por tudo isso é urgente tira o sistema judicial da pocilga, onde alguns magistrado­s partidocra­tas o colocaram, para que os homens de leis com reputação ilibada, possam dar dignidade de independên­cia ao órgão judicial.

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