EMIS “AUMENTARÁ” ROUBO AOS MAIS POBRES
Em Angola, importa assumir, com todas as letras do alfabeto português, o país, em 2023, parou. Faliu! Melhor, regrediu, assustadoramente, por falta de políticas económicas, nacionalistas do MPLA. Implantou-se o reino do safa-se quem poder, sendo que este, não é a forma do verbo, na 3.ª pessoa do singular, mas o substantivo masculino, que representa, autoridade de mando, acção ou capacidade de governar um país, uma sociedade, ou e também, poder déspota, domínio com o controlo das forças armadas dos demais.
Só assim se entende o contínuo e violento domínio de um sistema bancário perverso, desde 1975, que eliminou o herdado da ex-província de Angola, avançado no seu tempo, tanto que teve levantamento por cartão; multicaixa (multibanco), primeiro que Portugal, em 1973/4. O sistema de empréstimo individual, aos funcionários públicos e trabalhadores liberais para a compra de bens móveis e imóveis, bem como financiamento a pequena e média economia.
Os juros e impostos, no tempo colonial, não eram indexados ao dólar, pelo que não apertavam a corda na garganta do cliente bancário.
De tal monta que muitos indígenas, que trabalhavam, na função pública, professores, alfaiates, carpinteiros, compravam muitos dos bens à prestação, tais como casas, carros, mobiliário, etc. Actualmente assiste-se a elite obtusa do poder, subjugar-se mentalmente, aos interesses do capital estrangeiro, que a corrompe, para que ela mantenha viva a continuidade do colonialismo ocidental, que desembarca , no país nas vestes de investidor estrangeiro, ao invés de colono.
É este complexo, que os leva a adoptar políticas erradas, desde um centralismo económico inicial (economia socialista), ao neoliberalismo (capitalismo atroz), com orientações precisas de “assassinar” as zonas e polos industriais, em Luanda, Huambo, Benguela, Lobito, Huíla, Moçamedes, as fazendas e o sistema agro-pecuário, no Uíge, Kuanza Sul, Kuanza Norte, Huambo, Bié, Moxico, implantado nos anos 50, 60 e 70, para tornar Angola não só autossuficiente como competitiva a nível regional, continental e mundial. E, em muitas áreas, a província do ultramar (Angola), estava mais evoluída que a Metrópole (Portugal). A lógica de inviabilizar o país para um desenvolvimento, na rota de uma verdadeira independência imaterial em que a soberania é cidadãnão deixa dúvidas a maioria dos 20 milhões de pretos pobres, 5 milhões de crianças, fora do sistema ensino, 50% sem nunca apanhar uma vacina e 15 milhões de cidadãos com malária/ ano.
No sistema financeiro o desnote, também, não fica atrás,
pois montado para a especulação ao invés do desenvolvimento, está apoiado em bancos comerciais privados, capitaneados a partir de Lisboa, Paris, Washington e Londres, como autênticas sanguessugas, com objectivo de controlar o mâximo os financiamentos e o não emponderamento dos bancos públicos do Estado, adoptando políticas de suborno, com altos quadros do Banco Central e do Ministério das Finanças, para os levar, subrepticiamente, a falência, como foram os casos da CAP, BESA, BCA, sob a tese de, os mesmos, ficarem na mão de privados. Por tudo isso, a situação social, nos últimos seis anos, regrediu para patamares inimagináveis, ao ponto daquele que não deveria roubar os pobres, o faz a céu aberto, com o beneplácito de um executivo, liderado pelos ditos revolucionários e nacionalistas, que não são, afinal, pelas práticas de empobrecimento da maioria dos autóctones, verdadeiros subservientes do capital estrangeiro e representantes da máquina colonial ocidental...
Hoje (1975-2023), a baderna é grande, como se pode aferir da nota circular n.º NCCE-20230023 da EMIS (Empresa interbancária de serviços S.A) de 05.12.23, vai alterar a “Comissão Interbancária de Levantamento em ATM (rúbrica O21) para 700,00 Kz (setecentos kwanzas) a partir do próximo dia 01 de Janeiro de 2024”. É o pico da roubalheira! “Vox populi”! EMIS diz, que não. Mas, mesmo para quem só de aritmética percebe, vê ser uma grande e violenta mentira. Primeiro, mesmo sendo comissão interbancária ela vai elevar os custos de operação entre estes (bancos). Segundo, não havendo uma relação de caridade/ beneficiência, banco-depositante, estes vão ver acrescidos, em cada operação, os juros, superiores aos anteriores, que para a maioria dos indígenas já era muito, 100,00 Kz (cem kwanzas). Terceiro, com esta engenharia de enriquecimento ilícito, por parte da EMIS e dos bancos comerciais, que só pensam em sugar e obter lucros, os filhos dos pobres, os pais destes e os pequenos empreendedores vão ser copiosamente penalizados. Um estudante, que por exemplo, o pai lhe deposite A0 1000,00 (mil kwanzas) por semana, para o transporte: casa/ escola, só poderá assistir as aulas por 1 dia e meio, pois tudo ficará na comissão entre os bancos, tudo gente com muito dinheiro.
Como se vê por ausência de uma geografia mental patriótica de quem dirige o executivo e o sistema bancário do Estado, que deveria ser regulador, mas é regulado, não só pela banca estrangeira, como também, pelos cartéis financeiros do fundamentalismo islâmico, que dominam o câmbio no mercado paralelo.
Estas máfias, fruto de anacrónicas políticas de cobranças ilícitas, têm vindo a desestimular os angolanos a depositar e acreditar no sistema bancário e este, hoje tem as suas carteiras de clientes inundadas por fundamentalistas com uma visão de ocupação e domínio colonial.
A religião e o dinheiro de sangue, que desembarcam no país, sem qualquer escrutínio, são as chaves que estão a escancarar o país, para os novos colonialistas, que têm o apoio total do poder executivo, que amanhã, tal como hoje, acontece com a maioria autóctone, terá poder mas não vai mandar nem controlar a soberania política e económica do país. E, é por isso que ainda, tal como muitos, nestas horas de angústia, me lembro da música de Eduardo Damas com letra de Manuel Paião,
“Ó tempo volta para trás”. Oh tempo, volta pra trás, Trás-me tudo o que eu perdi. Tem pena e dá-me a vida, A vida que eu já vivi. Oh tempo, volta pra trás. Mata as minhas esperanças vâs.
Vê que até o próprio sol, Volta todas as manhãs. Vê que até o próprio sol, Volta todas as manhãs.
É hora de todos pensarmos,verdadeiramente, na urgência e pertinência de um pacto de regime, entre todos os agentes políticos relevantes do país, ainda denominado Angola, nosso berço identitário, para o resgatarmos do lamaçal onde está atolado.