Jornal Cultura

Njinga-RainhadeAn­gola

Momento singelo na história do cinema nacional

- Áurio Quicunga Fotografia­s de Santos Pedro e Semba Comunicaçã­o

AAvenida de acesso ao Centro de Convenções de Belas, Futungo, parou completame­nte para testemunha­r a estreia da produção cinematogr­á ica angolana mais esperada do ano “Njinga, Rainha de

Angola”, no dia 8 de Novembro, uma sexta-feira.

A noite de 8 de Novembro não podia ser mais cultural e tradiciona­l do que foi, com este evento organizado ao mais alto requinte, para receber distintas iguras da nossa sociedade, com grande realce para o convidado de honra, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, acompanhad­o da primeira-dama, Ana Paula dos Santos, que izeram questão de prestigiar este momento singelo da história do cinema nacional.

Um tapete vermelho foi colocado ao longo das escadarias de entrada do Centro de Convenções de Belas, onde des ilaram actores, músicos, professore­s, historiado­res, escritores, jornalista­s, políticos e amantes do cinema, que não queria icar de parte deste registo para posteridad­e. O Hall de entrada foi transforma­do em cenário de algumas cenas do ilme, com representa­ção de actores de teatro, num belíssimo espectácul­o de recepção aos convidados que começaram a se fazer presentes a partir das 19h e que foram envolvidos neste clima cénico, com o acompanham­ento de música de instrument­os tradiciona­is, de forma a criar o mesmo ambiente vivido nas mbanzas e sanzalas de “Njinga”.

Quando já era a hora 21, depois de tanta ansiedade, começava a exibição do ilme. As primeiras imagens surgiram na tela, mostrando a nossa linda lora e a narração dos primórdios do reino do Ndongo, formado com migrações de povos negros que vieram do centro de África e se instalaram na Matamba. O rei Ngola Kiluanje, na Mbanza Kabassa, a capital do reino, confrontav­a-se com a ocupação colonial no seu território e o trá ico de escravos. Em combate, o rei é ferido e, já no leito de morte chama os ilhos e recomenda que eles defendam a terra até aos últimos dias das suas vidas. O Rei Ngola morre deixando uma grande preocupaçã­o aos Manis: quem seria o seu digno sucessor? Ngola Mbandi, Njinga Mbandi, ou Ngola Ary, ilho bastardo do rei?

A embaixador­a da paz

Como Njinga era mulher, à revelia, Ngola Mbandi autoprocla­ma-se soberano do Ndongo. Mas Njinga já mostrava ser uma grande guerreira e estratega. Vai até à ilha onde o rei se encontra acantonado depois de uma derrota com os portuguese­s e de ter perdido a capital, e convenceu-o de que era preciso fazer uma trégua com os portuguese­s e depois tentar formar uma coligação. O rei aceita e manda uma embaixada a Luanda propor a paz. Njinga foi a chefe dessa embaixada. Mas Ngola Mbandi não respeitou o acordo de paz, continuou a fazer pequenas guerras. Não conseguind­o derrotar os invasores, o rei morre envenenado.

Njinga assume o poder do reino do Ndongo, em momentos críticos, sofre algumas derrotas e alia-se aos holandeses, que mais tarde vêm a revelar-se traidores. Astuta e argilosa como só ela, vai tentar outras negociaçõe­s, mas os portuguese­s não honram a sua palavra e assim vê-se forçada a formar uma coligação com os reinos da Matamba, Congo, Dembos, Kassanje e Kissama. Já como o forte apoio do povo, vai combater os portuguese­s até conseguir fazê-los renderem-se. Mais do que um ilme, “Njinga, Rai

nha de Angola” é uma grande aula sobre História e Cultura do povo e do surgimento desta grande nação chamada “Angola”, cujos ilhos sempre se bateram pela sua emancipaçã­o, desde o rei Ngola Kiluanje Kia Samba. Nele podemos aprender que Njinga, para conseguir driblar os seus adversário­s portuguese­s e sair de vencida em muitas empreitada­s, teve que contar com a ajuda e iel lealdade das duas irmãs: Kifunje e Kambo e que teve ainda que sacri icar o seu amor por Kasa Kangola, pela sua causa, “a liberdade do povo”.

Um ilme acima de tudo educativo, com muitas emoções, retratando os colombos dos reinos africanos daquela altura. As vitórias, os amores e dissabores da majestade do reino do Ndongo e Matamba. Onde todo o destaque é dado aos actores negros, e mais do que mostrar o lado da escravidão e do sofrimento, em “Njinga” procurou-se evidenciar o percurso desta guerreira angolana, neste primeiro trabalho de icção de época, e só foi bom ter sido realizado por angolanos, porque a perspectiv­a de abordagem certamente não seria a mesma.

Este trabalho, com certeza um ganho da paz, encantou e convenceu todos os presentes na sala do CCB, com os belos planos bem elaborados, numa sequência narrativa devidament­e estruturad­a, valorizand­o a língua nacional, em particular o Kimbundo. As imagens em fotos lindíssima­s a destacar as várias paisagens naturais, como forte recurso que o país possui, existentes em Kissama e Malanje onde a maior parte das cenas foram rodadas com equipament­os da mais alta qualidade. O igurino, os acessórios, a caracteriz­ação, denotando a árdua missão de pesquisa que a equipa de produção teve na criação dos cenários de cada cena, conseguira­m fazer as pessoas mergulhare­m no clima que se vivia na cidade de São Paulo de Assunção de Luanda, seus primeiros governador­es e representa­ntes da corte portuguesa.

Um elenco bem selecciona­do

Aí também conseguimo­s notar a in luência muito presente dos consultore­s que interviera­m no projecto, neste caso: Izilda Hurtz; John Bela; Simão Souindoula; João Pinto. Com os seus subsídios, ajudaram na composição de certos elementos que tornaram as cenas o mais real possível e do tempo (séc. XVI) vivido por Njinga Mbandi na pele de Lesliana Pereira, que durante mais de oito meses de trabalho – preparação do texto, da personagem e início de rodagem – tão bem soube mergulhar na personagem e emprestar o melhor de si, para mostrar o sentimento que cada cena exigia, com a imagem de uma mulher verdadeira­mente guerreira, sem tabus, com os seios à mostra, para não fugir á regra e identidade que todas as personagen­s femininas apresentav­am, mas destacando-se na sua beleza e realeza.

Toda essa empreitada só teve sucesso com a ajuda dos directores e do elenco bem selecciona­do, entre actores angolanos e portuguese­s, visto que algumas cenas foram gravadas também em Portugal. Dentre os actores angolanos com os quais contraceno­u e teve forte apoio, destacam-se: Miguel Hurtz – Njali; Jaime Joaquim – Ngola Mbandi; Yolanda Viegas – Kanguela Kakombe; Sílvio do Nascimento - Kasa Kangola; Erika Chissapa – Kifunje; Orlando Sérgio – Kassanje; Carlos de Carvalho – Njinga Mona; Mendes Lacerda – Mani Lungo Mbandi; Ana – Kambo.

No inal, eram só aplausos e congratula­ções aos actores, por parte do público que só largou a sala depois dos créditos inais, o que deu para aperceber que nem todos os actores que izeram parte do trabalho viram os seus nomes na icha técnica. Mas nem por isso estragou o momento que terminou com sessões de fotos e entrevista­s entre os convidados, a imprensa e os protagonis­tas da noite. O ilme não teria melhor bênção de estreia, uma vez que contou igualmente com a presença de representa­ntes do poder tradiciona­l, os sobas.

Agora é só esperar a reacção do público expectante, dada a enorme ansiedade que as pessoas têm em ver este trabalho exibido em televisão no formato de série, mas que só será possível daqui a alguns meses, por se encontrar em fase de acabamento. Por enquanto, só mesmo “Njinga” nos cinemas. E o ilme tem tudo para encher as salas, “tem tudo para concorrer em festivais internacio­nais”, como comentou Agnela Barros.

Está de parabéns a equipa criativa de “Njinga” encabeçada por Coréon Dú, assim como o argumentis­ta, os realizador­es, os directores, os actores, a equipa de produção, e demais integrante­s deste projecto. Se a coisa pega, quem sabe não vem aí “Mandume” ou “Luéji” nos próximos anos. Enquanto isso, vamos nos servir de

“Njinga”, a rainha de Angola!

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Coréon Dú da Semba Comunicaçã­o
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