Jornal Cultura

Florent Mazzoleni: dos lamentos ao kuduro

- José Luís Mendonça

Dia 7 de Novembro, o Museu de História Natural recebeu um cacho de fruta humana, ávida de escutar Florent Mazzoleni, especialis­ta em música africana, autor de 20 monogra ias sobre música africana que veio a Luanda apresentar o resultado das suas pesquisas, sob o título de “Músicas Modernas de Angola: dos lamentos ao Kuduro”.

Foi em Bordéus, em 2008, na bienal de Arte, que Mazzoleni teve o primeiro contacto com Angola. Depois esteve em Luanda a participar na primeira conferênci­a sobre o kuduro, em 2012.

O palestrant­e projecta na parede da sala de conferenci­as diversas imagens de capas de Long Plays do tempo colonial, enquanto vai falando. Segundo ele, a Rumba congolaise pode ser considerad­a a primeira música moderna do continente. Foi ela que inspirou o Ngola Ritmos e o seu mestre Liceu Vieira Dias. As in luências modernas foram a introdução da guitarra eléctrica no pós-guerra (1945-50). O Congo foi fundamenta­l no desenvolvi­mento da música angolana, bem como as rotas da emigração.

Outro nome daquela época é o de Camille Ferruzi que, diz Mazzoleni, in luenciou o trovador angolano Minguito.

Da boca de Florent Mazzoleni saíram grandes verdades: a grande revolução da música angolana aconteceu nos anos 60 e os cantores compunham e cantavam crónicas do quotidiano. Das peças que ouvimos, encantou-nos a suavíssima voz de Belita Palma, um canto de pretexto subtil, a interpreta­r o poema de Agostinho Neto “Caminho do Mato”. Das Caraíbas também veio uma certa inspiração Melódica que acendeu as guitarras dos Jovens do Prenda.

Da apresentaç­ão feita pelo investigad­or francês, ica-nos na alma uma nostalgia:

- da inventivid­ade e vitalidade dos Kiezos, nos anos 70;

- da virtuosida­de, luidez natural no diálogo entre a guitarra e a dikanza;

- do orgulho de ser africano, até nas designaçõe­s dos agrupament­os musicais e nas ilustraçõe­s das capas dos discos e sobretudo na aposta no canto em línguas nacionais.

Aspectos que a música angolana actual, na sua maioria, embrenhada num pretenso culto da modernidad­e (ou será apenas uma ilusão de modernidad­e?) pretende ignorar...

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