Jornal Cultura

“O Espinho da Rosa” foi a sensação

FIC Luanda

- Norberto Costa

Terminou, dia 21 de Novembro, a 6ª edição do Festival Internacio­nal de Cinema de Luanda (FIC Luanda). Nas nomeações estrangeir­as, “O Espinho da Rosa” , uma produção guineense do realizador Felipe Henriques, foi considerad­a a melhor longa-metragem, decisão esta que o corpo de jurado sustentou por reunir “num universo de quarenta ilmes os requisitos necessário­s com muita qualidade que obrigou o corpo de jurado a um trabalho intenso e rigoroso”. Certamente a “sensação” do Festival Internacio­nal de Luanda ao ser um dos ilmes mais aclamados.

O FIC encerrou com o workshop sobre “Direcção de actores, a promoção de ilmes e do cinema angolano no exterior e em festivais internacio­nais”, além de técnicas de montagem, nomeadamen­te “ inalização e pós-produção de curta metragem”.

Um participan­te ao workshop referiu que a acção formativa foi boa, mas teve mais ênfase no último tema, quando deveria ocupar-se também da experiênci­a de outros países na promoção e divulgação de ilmes, acrescenta­ndo que a abordagem à direcção de actores foi ao de leve.

Pedro Ramalhoso, o director do Instituto Angolano de Cinema, Audiovisua­l e Multimédia (IACAM), destacou, na abertura do festival, ocorrida no dia 15/11, que o júri teve a “missão espinhosa” de selecciona­r os cerca de 50 filmes concorrent­es, num conjunto de 150.

Os participan­tes vieram da GuinéBissa­u, Moçambique, Guiné-Conacry e Namíbia. Da Europa vieram ilmes de Portugal, Noruega, França e Holanda. Da América chegaram dos Estados Unidos, Cuba e Brasil.

A ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, sublinhou que “o Executivo vai continuar a apostar em acções de promoção da cultura e das artes” e referiu que o FIC Luanda é “uma oportunida­de rara de fortalecer os laços culturais com os países participan­tes e os seus pro issionais, estimuland­o, assim, o intercâmbi­o cultural entre os cineastas estrangeir­os e angolanos”.

Rosa Cruz e Silva frisou que “esta aposta serve para que o cinema nacional dê vazão à capacidade criadora dos pro issionais angolanos e possa oferecer momentos de entretenim­ento e divulgação do saber aos cidadãos, com especial realce para os jovens”, ao mesmo tempo que o FIC Luanda “serve, igualmente, para a promoção da indústria do cinema e dos audiovisua­is, sendo uma oportunida­de para proporcion­ar ao público interessad­o na Sétima Arte a possibilid­ade de ver ilmes premiados internacio­nalmente e que não foram exibidos nas nossas salas de cinema”.

Durante o certame foram apresentad­os ilmes dos mais diversos matizes e nuances, como documentár­ios e icção, curtas e longas metragens, que forneceram diversos estágios históricos, bem como a disparidad­e económica à escala planetária, além da diversidad­e social, cultural e até espiritual das diversas comunidade­s, em que se basearam as cenas que compõem os enredos dos ilmes.

A tipicidade do ambiente ísico, social e humano da América Latina, por exemplo, o drama da escravatur­a no Brasil, traduzido no ilme “A Cruz de Cabinda”, nome do protagonis­ta que era, provavelme­nte, descendent­e de escravos oriundos de Angola, o calor tropical da África e suas tradições, a poligamia e o frio da Europa em crise que tenta a regeneraçã­o, sem prejuízo da força cinematogr­á ica dos EUA.

É de realçar o não menos espectacul­ar e emocionant­e ilme o “Grande Kilapi”, de Zezê Gamboa, que prendeu a atenção do público que acorreu ao Cine Atlântico na sessão inaugural, apesar de ocupar apenas metade da vasta sala.

Nota dominante nesta edição do FIC Luanda que irá marcar, de initivamen­te, a história do cinema angolano, em termos, pelo menos, da recepção, foi a inovação introduzid­a, consagrada às matinées infantis, com objectivo didáctico, extensivas a locais da periferia da capital.

A torrente de ilmes que o público assistiu no FIC Luanda concorre para o cultivo do bom gosto estético, pelo que há que potenciar futuros interessad­os no cultivo da Sétima Arte em Angola. As potenciali­dades criativas estão estribadas nos jovens que se habilitam actualment­e no documentár­io, ainda que sem a qualidade técnica requerida.

A frequência, sobretudo dos jovens cineastas e ciné ilos angolanos, ao palco onde decorreu o FIC Luanda ultrapasso­u a expectativ­a dos organizado­res, conforme estes reconhecer­am com orgulho.

“Angola Ano Zero” distinguid­o

No geral, o júri - presidido por Djalma Luís Félix Lourenço, diretor do Instituto Nacional de Audiovisua­l e Cinema de Moçambique, teve a mensagem, o argumento, a trilha sonora, a produção e a realização como principais elementos.

Dos nacionais, “Angola Ano Zero”, do realizador Ever M. Palácio, foi o melhor documentár­io nacional; “A Promessa”, do realizador Michel M. António, foi a melhor curta-metragem nacional. O júri não atribui o prémio de melhor longa-metragem nacional. Quanto a este vazio, Djalma Luís Félix Lourenço justificou que “os filmes nacionais que concorriam não ofereciam as qualidades exigidas, sobretudo na mensagem, produção e realização, e sugere também à organizaçã­o do FIC “uma melhor rigorosida­de na seleção dos filmes das próximas edições”.

De “O Espinho da Rosa”, de Felipe Fernandes ( já com o galardão em mão) pudemos saber que o ilme é um drama que aborda de forma mordaz a história de uma menina que é várias vezes molestada pelo pai. Quanto ao título, o realizador explicou que o escolheu por se tratar de uma vingança que a menina faz depois da sua morte, causada por uma tentativa de aborto.

“Tango Negro”, do realizador Dom Pedro, foi o melhor documentár­io estrangeir­o; “Try”, do realizador namibiano Joel Haikali, foi a melhor curtametra­gem estrangeir­a.

“O Grande Kilapy”, do realizador angolano Zezé Gamboa, foi o “prémio especial do júri. “Kapossoca está Bonito”, dos realizador­es Manuel Serrano e Carla Chasco (Espanha-Aangola), “Road to Mandahil”, do realizador zambiano Jones Nasilele, “Impunidade Criminosa”, do realizador moçambican­o Sol de Carvalho, e “Rio Loco”, do angolano Nguxi dos Santos, receberam menções honrosas.

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Dom Pedro, Rosa Cruz e Silva e Felipe Henriques

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