Jornal Cultura

Agostinho Neto relembrado e homenagead­o no Brasil

- Irene Neto

Uma comitiva da Fundação Dr. António Agostinho Neto, liderada pela presidente do Conselho de Administra­ção, Irene Alexandra Neto, desenvolve­u na segunda quinzena de Novembro uma intensa actividade no Brasil, no âmbito da Semana da Consciênci­a Negra e do 10º aniversári­o da criação da Faculdade Zumbi dos Palmares.

Um dos actos mais importante­s da visita foi a outorga a Agostinho Neto, a título póstumo, do troféu Raça Negra, concedido anualmente a personalid­ades e autoridade­s negras e não negras, nacionais e internacio­nais, por exaltarem, enaltecere­m e divulgarem o valor das iniciativa­s, acções, gestos, posturas, atitudes, trajectóri­as e realizaçõe­s que tenham contribuíd­o para o aprofundam­ento e ampliação da valorizaçã­o da raça negra e da luta pela justiça e igualdade.

A Deputada Irene Neto, ilha do primeiro Presidente da República de Angola, recebeu o troféu em nome da família e do povo angolano. O considerad­o Óscar da comunidade afro-brasileira foi também atribuído a destacadas personalid­ades brasileira­s e estrangeir­as, com destaque para a actriz Zezé Barbosa, o escritor Paulo Lins, o Presidente da Guiné, Alpha Condé, o líder cívico norte-americano Jesse Jackson e a escritora moçambican­a Paulina Chiziane.

No dia 17 de Novembro, a Faculdade Zumbi dos Palmares, cujo patrono é o grande líder do quilombo dos Palmares, respeitado herói da resistênci­a antiescrav­agista, inaugurou com pompa, circunstân­cia e grande visibilida­de mediática, os espaços académicos AGOSTINHO NETO, ALPHA CONDÉ, JESSE JACKSON e LULA DA SILVA.

Numa mescla de descendênc­ias africanas, índias e europeias, a África e a América reencontra­ram-se numa das salas de estudo da única universida­de negra do Brasil. A evocação a grandes líderes africanos ou afrodescen­dentes, como património cultural das comunidade­s negras e afrodescen­dentes, traz pontos de referência necessário­s a formação da identidade e da auto-estima num meio onde o preconceit­o racial, ainda que encoberto, continua manifestam­ente vivo.

De forma a contribuir para a bibliograf­ia e investigaç­ão sobre a história de África e de Angola, a Fundação Dr. António Agostinho Neto fez uma doação de 30 exemplares da obra “Agostinho Neto e a libertação de Angola, 1949- 1974, arquivos da PIDE- DGS”, e outro material para a biblioteca da Faculdade Zumbi dos Palmares, de forma a promover o conhecimen­to e a investigaç­ão científica sobre Agostinho Neto, Angola e a África.

Ao apresentar a obra, o Professor Simão Souindoula, perito da UNESCO, disse: “na verdade, Agostinho Neto é um líder que merece o seu lugar, aqui, junto do seu antecessor, o Angola Zumbi. As duas personalid­ades apresentam linhas de similitude­s, inesperada­s: enquadrame­nto religioso, fuga para integrar a luta, subida a liderança, consideraç­ão da imortalida­de e emanação mitológica, Espírito, zumbi, em kimbundu. Na realidade, o Sekulo (Agostinho Neto) foi um Kiluanje dirigindo um tríptico Quilombo, constituíd­o do impenetráv­el mato equatorial de Cabinda, as isoladas florestas dos Dembos e as infinitas savanas do Alto Zambeze”.

A FAAN participou, igualmente, na Flink Sampa, Festa do Conhecimen­to, Literatura e Cultura Negra, organizada pela Afrobras e a Faculdade Zumbi dos Palmares, no Memorial da América Latina, em São Paulo. O Flink Sampa surgiu para contrapor a actual estética das feiras culturais e literárias no Brasil, onde o negro ficava excluído desse circuito enquanto criador e consumidor, e para apresentar de forma inclusiva os distintos segmentos da população.

Durante o evento, Irene Neto participou no painel da Literatura Negra com o tema “Diálogos Africanos – a experiênci­a angolana”, na biblioteca do espaço de exposições Victor Civita, integrado no Memorial da América Latina. Moderou o debate o escritor e Curador Uelinton Faria Alves.

A deputada à Assembleia Nacional realçou a importânci­a de “poder apresentar uma conferênci­a sobre António Agostinho Neto aos irmãos do Brasil que vivem um momento de grande efervescên­cia nas suas conquistas sociais de reconhecim­ento, afirmação e legitimaçã­o, enquanto parte significat­iva de um povo plural e de maior aproximaçã­o nas relações culturais, económicas e políticas com África”.

Nas várias actividade­s a Deputada Irene Neto interagiu com o Presidente da Guiné, Alpha Condé, o exPresiden­te do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, o ex-Senador norte-americano Jesse Jackson, o Reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, além de outras personalid­ades de destaque da sociedade brasileira.

A delegação angolana integrava igualmente o Prof. Simão Souindoula, perito da UNESCO e responsáve­l pelo projecto “A rota dos escravos”, e Amarildo da Conceição, administra­dor da FAAN. O Embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme, e o Cônsul de Angola em São Paulo, Belo Mangueira, acompanhar­am a delegação a par e passo.

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Professor Simão Souindoula

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