Rir à mwangolé
GOZ’ AQUI
““Lembrome que, quando eu era miúdo saía à rua e era sempre ‘estigado’, as pessoas estão sempre a gozar umas com as outras. Foi assim que nasceu este nome
GOZ’AQUI.
Todas as quintas-feiras, a partir das 20:30 h, o grupo GOZ’AQUI realiza um espectáculo de stand up comedy, em plena baixa de Luanda, junto aos Correios (marginal) com duração aproximada de 1 hora e 30 minutos. Os onze elementos que fazem o espectáculo são todos muito jovens, e sabem fazer rir o público, utilizando as nossas malambas e as nossas makas do dia-a-dia. É bem o rir à mwangolé. Humor nascido no Sambizanga ou no Cazenga, onde a chuva deixa tarefas de transportar pessoas às costas, humor da cidade, o chinês novinho em folha, a falta de sistema no banco, o fenómeno da gasosa, com os seus contrastes sociais, en im, um humor que entra com um écran de caixa de papelão a transmitir notícias da boca dos Magma. Quem não ri de ouvir anunciar que “o Talatona tem funje canalizado graças aos estrangeiros” é porque escondeu a boca na nuca.
Na busca constante da arte de descontrair, depois de mais um dia de trabalho, fomos ali junto à Marginal, participar no primeiro aniversário do GOZ'AQUI. Era o dia 21 de Novembro, uma quinta-feira quente. Quem são, então, estes mizangalas que nos esvaziam do stress e gozam com a própria desgraça e com a nossa estupefação?
1. Os Magma (dupla composta por Custódio Dias da Silva e Adilson Miguel) 2. Timajó (Timóteo João) 3. Cabe & Chipa (Afonso Monteiro Malanje e Lourenço Pedro da Silva) 4. Mr. Nack (Anacleto Lopes) 5. Agente Formiga e Ya Papy (Pascoal D. Pedro e José Luís Conda) 6. Richa (Richard Congolo) 7. Kunandembo( Adão Fernando Manuel)
8. e o apresentador Maestro( Inácio Mumonha André).
Talentos em evolução
A psicóloga brasileira Sílvia Helena Cardoso, fundadora e editora-chefe da revista ‘Cérebro & Mente’, constatou que o riso “é um elemento importante de nossa biologia comportamental humana. Ele parece ter sido seleccionado pela evolução como um dispositivo importante para a nossa sobrevivência.” É dentro desse dispositivo de sobrevivência universal que vemos actuar o explosivo duo Agente Formiga e Ya Papy, sobretudo quando o Agente Formiga, de olhos acesos, nos traz à memória a performance do lendário Charles Chaplin. Pascoal Pedro é super-activo, criativo e mutante. Fazem um contraste simétrico: um é sério; o outro, Ya Papy, cujo sonho é ser o Mister Bean, com o corte à Nástio Mosquito, vem sempre a rir.
“O riso inicia uma cadeia de reacções isiológicas.” A primeira reacção isiológica que temos, quando o Richa levanta a camisa e mostra a cicatriz de fogo na barriga e diz “eu também sou laton”, é de partir o coco a rir. Richa é um grande artista cómico, a sua seriedade faz rir, mesmo que não abra a boca, pois tem uns olhos de um Nzambi próximo do nosso coração. Reproduz na perfeição certos caracteres psicológicos (o gago) e é uma paz de alma.
“Cientistas especulam que o riso libera transmissores neuroquímicos chamados endor inas, os quais reduzem a sensibilidade à dor e promovem sensações prazeros e de bem estar.” O bemestar que sentimos quando Mister Nack, o mimético, sobe ao palco, nasce no plexo solar. Mister Nack não ri nunca. Diz coisas aparentemente sérias, coisas da vida pelas quais passamos sem saber que, a inal, são absolutamente risíveis.
Na mesma linha se enquadra Timajó. Só que mais re inado e mais metódico. Pede um trabalho de re lexão do espectador. É um humorista ilósofo. E tem consciência disso.
Se os Magma não existissem, o mundo não seria o mesmo. Aliás, desde que eles começaram a fazer rir no palco, Angola descobriu uma nova via da paz universal. Não é que o próprio Custódio da Silva, vestido de ‘colant’, é capaz de se transmutar em gay chinês, ele é Xinxun Contu, , enquanto o seu companheiro Adilson traduz o arremedo de cantonês que ele pronuncia? E não é que Adilson, o apresentador de televisão, declara que “Angola descobriu um novo planeta, o Zango 4?
Cabe & Chipa buscaram inspiração em Papa Ngulo e Xico Caxico. A dupla que se reuniu em 2008, também fala aos domingos, na rádio Escola, no programa Show de Domingo. São eles que dão ao público as novidades da periferia, angústias e situações que, cobertas de humor, deixam de ser críticas.
Mas ainda temos o baixinho Kunandembo, que, da janela dos seus dentes kamabuinhi, nos lança o que chama “o ouro da comédia”, que é quando um indivíduo, por si só, se transforma num objecto de paródia. “Infelizmente, nós, os baixinhos, somos muito parecidos com as crianças, por isso, estou a criar barba”, diz Kunadembo.
O Maestro, Inácio André, é quem faz toda aquela juventude exuberante rodopiar no palco. Para além de apresentador, também é artista. Por isso, faz que apresenta, mas está mais é a fazer rir, que ele lá sabe das suas piadas. Maestro tem a noção de que “se pode, através do humor, resolver questões de violência doméstica e muito mais”. É a voz do Maestro que anuncia que o GOZ’AQUI tem “piada para qualquer tipo de idade, igreja, cerveja, inveja são temas em cima da bandeja. GOZ’AQUI: um espaço onde “vale tudo, só não vale icar chateado!”
Da ‘estiga’ ao gozo
“A função do riso é a de comunicação. É uma mensagem que nós enviamos às outras pessoas comunicando disposição para brincar, ligar-nos a elas, icarmos felizes e fazê-las felizes, mostrarmos que somos pací icos.” Então, só poderia mesmo estar à frente deste elenco de jovens risonhos, um comunicador nato. O seu nome é Tiago Costa, um jurista emprestado à imprensa, fundador deste sonho. “Lembro-me que, quando eu era miúdo saía à rua e era sempre ‘estigado’, as pessoas estão sempre a gozar umas com as outras. Foi assim que nasceu este nome GOZ’AQUI. “Gosto de humor, vejo-me a trabalhar nele no meu dia-a-dia. Porquê não compilar isso com as pessoas que têm talento?”, explica Tiago. Por isso é que, no GOZ’AQUI, tudo, até mesmo o acto de respirar, é um mar de risos.
“Podese, através do humor, resolver questões de violência doméstica e muito mais