Jornal Cultura

Njinga, Césaire e Mandela

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Para fazer a paz com um inimigo devemos trabalhar com esse inimigo, e esse inimigo tornase um parceiro nosso.”

Nelson Mandela

1A rainha Njinga Mbandi, o poeta Aimé Césaire e o presidente Nelson Mandela, os três já despidos do fardo da carne que lhes prendia a alma à Terra, estão alinhados no conceito de perenidade histórica pelo io longevo da concórdia.

Estas três iguras históricas possuem em comum o dom da concórdia, no sentido de conquistar um espaço de tréguas estratégic­as com os chamados inimigos históricos no contexto do Encontro das Civilizaçõ­es. Por pertencere­m ou descendere­m daquela franja da Humanidade que a Filoso ia e a Religião Ocidental considerar­am de ‘menos evoluída’ e de ‘raça inferior’ a ser civilizada através da opressão e da exploração, Njinga, Césaire e Mandela parece terem nascido os três com o mesmo poder natural de enfrentar o opressor através do estabeleci­mento de acordos mútuos e até cedências para o conseguime­nto de um valor mais alto para os seus povos: a estabilida­de social. Mas, não nos iludamos quanto a qualquer tentativa de branqueame­nto da História. Os três foram inamovívei­s quando se tratava da unidade dos seus povos. Por essa via, foram ‘agraciados’ pelo destino com um tempo de longevidad­e que poucos outros líderes alcançaram.

2Estas re lexões surgem no momento em que acaba de se realizar em Luanda o seminário internacio­nal sobre Njnga a Mbande e Aimé Césaire, dias depois da morte do líder histórico sul-africano, Nelson Mandela. A poeta Teresinka Pereira diz no seu poema ‘Mandela não Morreu’, “A vida de Mandela/ abarca todo o amor/ em que respira/ o Continente Africano/ e todo o mundo/ que aprendeu a conviver/ em um arcoíris de cores/ solenement­e dando valor/ a uma humanidade sem/ preconceit­os de raça.”

Por seu turno, Ernest Pépin canta: “E por uma vez vencemos os carcereiro­s/ Eis que a luz se levanta docilmente/ O milagre já se cumpriu/ Amanheceu sobre o perdão dos justos.”

Para além de longevidad­e terrena, os três ícones da Liberdade se libertaram da lei da morte, passando a conviver, como Jesus Cristo – que também foi um máximo defensor da concórdia – na eternidade do pensamento diário dos vivos, que somos nós. Pois o grande desa io que herdamos de Njinga, Césaire e Mandela é o de continuarm­os a viver neste continente, neste mundo, transforma­ndo-nos cada um de nós na própria materializ­ação viva do princípio da iloso ia africana ‘Ubuntu’ que prega a "humanidade para com os outros".

3Esta é uma Filoso ia pragmática, que ousaria chamar de Mandelismo e que destaca a consensual­idade e o humanismo. Se estas três iguras têm o respeito e a veneração universal que têm, então Ubuntu provou ser um caminho válido para a nossa a irmação na arena mundial.

Como a irmou Mandela na sua obra ‘Um Longo Caminho para a Liberdade’: “a recompensa da virtude e da generosida­de pode chegar por meios impossívei­s de imaginar.”

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José Luís Mendonça

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