Jornal Cultura

Filosofia de Mandela através da música

- Matadimako­la

“Acho possível passar a iloso ia de Mandela através da música. Os músicos devem se interessar em falar de outras coisas que não seja a forma um pouco banal como exploram a temática do amor, sempre com aquelas de “eu te gosto para aqui e para lá”. E ainda por cima com um mau português. Há tanta coisa para a gente falar”, disse Filipe Mukenga,numa breve “conversa” mantida em pé, aí nas escadas doElinga Teatro, depois de nos ter brindado com o tema intemporal “Filho de Cabinda”, na noite em que os músicos pretendiam cantar e debater as mais profundas sementes das grandes lavras da iloso ia de Mandela. Mas não foi uma grande colheita, assumamos. Não passou de pretensão, feita também um pouco atabalhoad­a. Com um atraso de uma hora, foi sempre uma correria. E o pretendido debate icou apenas na simples e livre invocação do seu nome.

“O nosso mundo africano está mergulhado em diversospr­oblemas sociais que requerem a intervençã­o dos músicos. Grande parte dos músicos perde tempo com coisas fúteis, quando o artista de música deveria ser aquele tipo de pessoa que alerta sobre os grandes problemas que acontecem. Acho também que a imitação tem trazido consequênc­ias pesadas. Ficamos sem aprender nada,” classi icou o cantor, fazendo sempre recordar a mais alta posição de vate que já em tempos passados o artista atingira.

Da arte da música viver as mais suscep- tíveis condições de mercadoria agressiva com a posição ditatorial das editoras sobre a puríssima aura, disse:“As editoras de disco devem deixar de pressionar os músicos forçando-os a traçar carreiras que não são aquelas que os músicos pretendem. Eu sofri muito isso. Nas seleções das músicas muitas vezes fui obrigado a escolher aquilo que não queria porque os editores exigiam que eu incluísse músicas enquadrada­s nos géneros que acreditam muito que está a bater”.

Mas quando os produtores são artistas? Como se intrometer­am tanto? Como os músicos (música) icaram tão submissos? Estas questões do consumo musical são as que de facto se impõem. Disso, Filipe Mukenga constata que “a intenção dos editores é ganhar muito dinheiro rapidament­e com uma música que acaba passados dois ou três meses do lançamento. Os músicos devem se rebelar contra isso, porque nós devemos mesmo ser porta-vozes da ética, bons costumes e boa música”.

E quando já se ouvia o “África yami”, música do jovem cantor luandense Júlio Gil, o terceiro classi icado da última edição do Variante, Mukenga, pedido a re letir um pouco sobre importânci­a da música na comunidade africana, disse “achar que a música africana está bem, mas precisa abordar mais as questões sociais. Ela está muito longe de ser participat­iva. Precisa de ser uma música que enriqueça as pessoas do ponto de vista cultural. É preciso que alguém ponha im às músicas de consumo imediato. É bom que os músicosafr­icanos se preocupem com África”.

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