“Goethe!”: o fim do filme e o início da vida
O ilme acaba com um inal feliz, com o personagem virando amante romântico e escritor produtivo, ou melhor, no início da vida. Do ilme, poucos poderão entender a noção de estar “além do Bem e do Mal” como uma estável explicação romântica. A mais pensada, e talvez por isso a menos lagrante. Mas o que seria então a morte e a vida diante de um amante indiferente a ambos e desprovido de qualquer noção de bem e de mal? Com certeza trataríamos de trazer com urgência esta re lexão de Nietzsche para explicarmos a febre atiçada por Goethe com a criação de “Werther”, publicada em 1774 e considerada a causadora de uma onde de suicídios por aqueles que por amor quiseram ultrapassar as aprisionáveis no- ções de bem e de mal em favor do amor lamejante que perpassa o ilme do director alemão Philipp Stölz.
Sem desejar trazer com minuciosidade exaustiva a vida daquele a quem responsabilizamos pelo romantismo – com um enredo exigente e perspicaz; “Goethe!” é mais a reencarna- ção ílmica do ambiente de criação de Werther, e tudo gira em torno da publicação, tanto que a escolha de “Werther” para título também se justi icaria igual.
As personagens seguem os maneirismos da época, com todas as imperfeições costumeiras e discrepâncias de representação, sendo a causa nobre do amor várias vezes preterida por ambições sociais, simbolizadas no ilme pelo pai de Lotte (Miriam Stein), que a empurra para os braços do “socialmente promissor” Kestner (Moritz Bleibtreu). A negrura do romantismo in luencia o director, que traz a imagem de fundo com uma acentuada escuridão, apesar da viva movimentação dos seus personagens e da exposição de planos su icientemente belos para as pretensas tristeza e escuridão. Quis mostrar a sua fúria: a vida… Ou que o amor é o único acto su icientemente indomável, tanto que converte um acto de suicídio em máxima demonstração de afecto; como acontece com o amigo de Goethe, aquele que no ilme vive completamente a “febre” do romantismo, e não Goethe – interpretado por Alexander Fehling, que ainda se rende à razão.