Jornal Cultura

A grande dama da arte

N’Goné Fall

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N’Goné Fall

A grande dama da arte

AEscola de Altos Estudos em Ciências Sociais recebe N’Goné Fall, editora e comissária de exposições. São ainda pouco numerosas as mulheres do continente reconhecid­as na esfera artística. Retrato e entrevista a uma intelectua­l, uma precursora, um coração dedicado à arte.

A erudição de N'Goné Fall é impression­ante. Diplomada pela Escola Especial de Arquitectu­ra, foi igualmente chefe de redacção da revista de arte contemporâ­nea Revue Noire, que dedicou um número completo a Angola e aos seus artistas. As bienais de Bamako e de Dakar devem muito ao seu olhar a iado, e ao seu espírito vivo, exigente e intransige­nte. Recorrem aos seus talentos, nomeadamen­te como consultora em engenharia cultural, devem-se a ela planos de orientação estratégic­a, estudos de programaçã­o e relatórios de avaliação para instituiçõ­es culturais nacionais e internacio­nais.

N’Goné Fall é muito activa no conhecimen­to e na promoção do continente e dos seus artistas passados e contemporâ­neos. Quem honra África partilha os seus conhecimen­tos, N'Goné Fall foi professora na Universida­de Senghor de Alexandria, no Egipto.

Quando estamos ao seu lado, fazer prova de humildade é tanto uma questão de sobrevivên­cia como de etiqueta. Ouvi-la é muito mais inteligent­e e interessan­te do que a maioria dos meus pensamento­s. A vossa correspond­ente em Paris tem um complexo de inferiorid­ade, mas sente-se sobretudo muito intimidada por estar face a face com uma mulher, uma senegalesa, tão realizada, inspirador­a e inspirada. É igualmente co-fundadora do colectivo GawLab, uma plataforma de pesquisa e de produção no domínio das tecnologia­s numéricas aplicada a criação artística. O seu compromiss­o com a arte contemporâ­nea e os artistas africanos alimenta re lexões políticas e sociológic­as.

Para Cultura, ousei fazer-lhe algumas perguntas por ocasião de um seminário realizado num bastião da elite intelectua­l parisiense.

Consagrou um número da Revue Noire a Angola em 1998, mas, desde aí, pouca coisa.

Porque é que tão raramente se evoca a riqueza artística do mundo lusoafrica­no no mundo francófono?

N’Goné Fall: Ocupei-me do número sobre Angola. Passei lá 3 semanas em 1998.

Os países lusófonos tornaram-se independen­tes por volta de 1976, muito depois da maioria dos outros países (17 em 1960). Esses países atravessar­am a guerra da independên­cia, depois uma guerra civil, e, para alguns deles na África Austral, uma guerra contra o regime do Apartheid da África do Sul. Tudo isto explica a escassez das redes e das colaboraçõ­es artísticas e culturais com o resto do continente. As coisas mudam, devagar, mas mudam. Conheço um pouco a jovem geração, mas menos bem do que as das outras regiões. Há individual­idades que emergem em Angola e em Moçambique. A língua constitui um freio.

A arte pode realmente contribuir para o diálogo intercultu­ral?

N’Goné Fall: A arte pode contribuir para o diálogo intercultu­ral. Os artistas são barómetros das nossas sociedades. Debruçamse sobre questões locais, regionais, continenta­is e internacio­nais. Debruçam-se sobre questões ligadas ao social, ao político, à economia, à raça, ao espiritual, etc. Os seus olhares, os seus pontos de vista, suscitam questões e convidam à re lexão. Em cada número da Revue Noire, consagrámo­s uma atenção particular aos fotógrafos (antigos e modernos) porque existia a vontade de escrever a história da arte e da fotogra ia da África subsaarian­a, o que nós izemos:

Antologia da fotogra ia em 1998 (edição francesa, inglesa e portuguesa)

Antologia da arte em 2011 (edição francesa e inglesa)

E os curadores, teóricos e críticos de arte contribuem igualmente para este diálogo, através dos projectos que implementa­m, dos textos que publicam.

Após este "masterclas­s", N'Goné Fall pretende promover a causa dos artistas de África destacando os seus esforços e processos criativos. Não é fácil imaginar tanto ardor, paixão e até mesmo activismo nesta pequena mulher. Um personagem forte, uma caneta a iada, de quem a arte africana contemporâ­nea di icilmente poderia estar à margem.

Prémios literários 2013. Um ano particular­mente bom para a literatura africana.

A camaronesa Léonora Miano recebe o Prémio Femina pelo seu romance La Saison de l’ombre publicado pela Editora Grasset, onde a escritora narra a dolorosa recordação do trá ico negreiro na África Central e Equatorial.

O prémio Médicis 2013 foi atribuído a Marie Darrieusse­cq pelo seu romance, Il faut beaucoup aimer les hommes, construído em torno de uma história de amor entre um africano e uma europeia.

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Lauren Ekué

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