Jornal Cultura

A ver se DEUS ainda é de barro preto

KUKINA

- J.l.mendonça

ino Damião desdiz a cor, monta a garça na via interdita da estética formal, manda os miúdos da zunga comprar carvão transparen­te e invisível pra se enfeitar com ele nos seus dreads em lorescênci­a. Ele aparece assim com um sorriso em linha recta, o sorriso que lhe nasce dos olhos, magro como as linhas da sua nova proposta intitulada Kukina. Dançar para tecer ligações?

O salão da dança colorida é a Galeria SOSO, no Hotel Globo onde, até 29 de Dezembro, Lino Damião tem duas dezenas de quimeras manufactur­adas em Luanda e em Lisboa. São elas produtos de uma imaginação deslavada de precisões lineares, o pincel se namora com o ladrar global de um remoinho de desejos, há coisas que parecem ser mas não existem, ou existem de verdade onde ninguém existe, Lino Damião dá conta de sonhos de algum candengue perdido nas costas da zunga, a derreter a cor dos carros até deixarem a sua mãe perfurar os olhos quentes e oblongos da cidade.

Háum ovo para rebentar nos resíduos do dia, um chapéu no ar e um prato de peixe que o tempo consolida no olhar da assistênci­a, o Lino pinta para provocar o ‘bilo’ das mentes e o sorriso das mulheres que mais se coadunam com a atmosfera aparenteme­nte irrisória daqueles traços felizes de serem invólucros de cores desgarrada­s.

E também traz colagens sobre fundos cromáticos antípodas, mas há muita coisa que há-de icar por dizer, como esse sorriso enigmático de Lino Damião no meio dos desenhos a tecer o ninho da beleza, qual pássaro de sal negro a diluirse em telas de entrega (a ver se DEUS ainda é de barro preto).

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