Resgatado dos arquivos
No passado dia 5 de Fevereiro foi lançado no jango da UEA, o volume com as 12 edições do boletim “Cultura” (segunda série) da Sociedade Cultural de Angola. O trabalho é o resultado de uma pesquisa e selecção de Irene Guerra Marques e Carlos Ferreira, e fo
Épara nós um privilégio apresentar este livro, fruto de um trabalho conjunto de recolha, pesquisa e estudo que vimos fazendo há muitos anos.
Nunca nos conseguimos conformar com a pouca ou nenhuma atenção dada, até agora, a uma das mais importantes, talvez a mais importante e mais consolidada estrutura existente até à década de 60, que permitia o curso livre da poesia, do conto, do desenho, do estudo cientí ico angolanos, en im, das mais diversas formas de resistência literária e cultural de antes do dia 4 de Fevereiro de 1961, que comemorámos ainda ontem.
Com efeito, e a uma distância que nos permite hoje, com profundidade, enquadrar a Sociedade Cultural de Angola, o seu funcionamento, as suas actividades múltiplas (além do boletim Cultura, o cinema, a música, o teatro e a pintura, as reuniões políticas clandestinas e a cumplicidade de grande parte dos membros da “Cultura” já integrada no movimento político de emancipação), há que reconhecer e identi icar esta associação e os seus principais responsáveis, como parte essencial do longo processo que viria a despoletar a luta de libertação nacional.
GESTA PELA SOBERANIA
Percorrendo estes boletins (em número de doze), e olhando para o seu corpo redactorial, não é di ícil concluir que todos, praticamente todos, desde o seu director, os chefes de redacção, os secretários de redacção, aos corpos gerentes da própria Sociedade Cultural, estavam já ao tempo do lado do futuro, junto dos que se haviam de lançar na gesta pela soberania e pela independência nacionais.
É um preito de homenagem a todos eles, é a reposição de uma verdade histórica indiscutível, que nunca tendo sido posta em causa, foi sendo sempre remetida ao silêncio. Permitam-me abrir aqui uma excepção para recordar e homenagear, de forma sentida, o Dr. Eugénio Ferreira, então Director da “Cultura” cujo humanismo, saber, profunda consciência da realidade e grande modéstia, foi, sem nunca dar nas vistas nem pôr-se em bicos de pés, o maestro desta transformação do papel da Sociedade Cultural de Angola e da “Cultura” ao serviço da comunidade e dos valores culturais angolanos.
Este trabalho não seria possível sem o apoio do escritor Costa Andrade, que nos mostrou pela primeira vez uma parte destes boletins ainda em estado razoável de conservação; sem o necessário trabalho de busca e de investigação na Sociedade de Geogra ia de Lisboa, e na Torre do Tombo, em Portugal, apoiado desde a primeira hora pelo Secretário-Geral da União dos Escritores, a partir do surgimento da ideia até ao dia de hoje em que os doze números da chamada “Cultura II” e o respectivo processo da pide-dgs vêm a luz do dia.
O Carlos Ferreira e eu, já estamos a preparar um novo trabalho… É o destino de quem, em consciência, sente o dever de deixar para as gerações futuras matérias de estudo de carácter cultural que consideramos fundamentais e indispensáveis para a história que todos estamos a construir, e que outros começaram há muitos e muitos anos. Como outros darão continuidade depois de nós. Cumprindo um dever cívico que a nós próprios nos impusemos. Ajudando a exercer a função de formadores de consciências, na feliz expressão do primeiro presidente da República Popular de Angola, Dr. Agostinho Neto.