Jornal Cultura

Alegorias do Carnaval

- JoséLuísMe­ndonça

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É nos carros alegóricos que o carnaval ganha a sua expressivi­dade cinética, a sua icção artística, enriquecen­do o âmbito do espectácul­o visual que é o des ile dos grupos.

Os carros alegóricos surgem sempre como cenário ambulante de representa­ção igurativa do grupo carnavales­co, a seguir ao pendão com as insígnias.

Quanto ao aspecto ideológico, a alegoria transporta para os olhares e ouvidos atentos do público uma ideia moral, de pendor didáctico, no nosso caso, muitas vezes, desde o ido Carnaval da Vitória, incorporan­do alguma máxima política.

Esta é, aliás, a própria natureza desta forma de expressão artístico-literária que, desde a era de Platão, nos legou a Alegoria da Caverna.

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Hoje em dia, o nosso carnaval está numa fase de maturação implícita, pois, nada em Angola no domínio da Cultura pode icar, dada a dinâmica da vida social, inocente face ao impacto da Globalizaç­ão económica que inscreve nos seus meandros, factores causais de assimilaçã­o artística, através da força das indústrias culturais dos países mais desenvolvi­dos. Também não está imune às formas do pensar dos agentes culturais e das suas necessidad­es de a irmação e de conquista de valor(es) sociais. E este quadro da manifestaç­ão das artes em Angola tem a sua pulsação ritmada por ondas de criação espontânea (populares), mas é publicitad­a ou difundida por canais de transmissã­o o icial, onde se situa o peso maior da Comunicaçã­o Social. Só que, neste âmbito perdura a vontade do difusor carnal com a sua mundividên­cia propensa a moldar o gosto de um certo público mais vulnerável à “batida da moda”.

Mas queimar os neurónios em busca de um bode expiatório no pelouro da Cultura é tarefa inglória. A Cultura de um país não se faz nos gabinetes o iciais, faz-se na rua, nas casas, nos quintais, na rádio, na televisão, nos computador­es dos DJs, nas discotecas e na circulação dos suportes culturais, a partir das produtoras. É com estes agentes e nestes espaços que se deve trabalhar, numa linha de parcerias actuantes, com os intelectua­is pelo meio a entretecer­em as linhas de con luência. Dentro desse espírito, a maturação da instituiçã­o chamada carnaval angolano ainda implícita, ou em potência – devido ao jogo audaz das forças que nele deviam interagir e não se digladiar – há-de se manifestar ou re-manifestar a seu tempo.

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Essa aparição do ‘novo’ no carnaval depende, e muito, da força e da criativida­de das indústrias culturais que, até hoje, não abarcam ainda a vertente das alegorias da maior festa do povo angolano.

Por isso, se os carros alegóricos que, no ano passado, des ilaram na Avenida Dr. António Agostinho Neto, ainda pecam pelo defeito da ingenuidad­e e da pobreza material dos adereços e fantasias, isso só denota a pouca atenção que o ramo da Indústria devota à Cultura, no apoio aos empresário­s privados deste sector que haverá, certamente, como em todo e qualquer país do mundo. Por exemplo, no tocante aos carros alegóricos, estáse a imaginar fábricas que produzam imagens em madeira, plástico, ou outra matéria prima necessária para compor adereços e fantasias de intenso brilho e magno esplendor.

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