Jornal Cultura

Bwali em Cabinda

Um extraordin­ário ordenament­o urbanístic­o no século XVI

- Simão Souindoula

Redigida por Théophile Obenga, professor emérito da Universida­de de Estado de San Francisco, na Califórnia, a “História Geral do Congo, das origens aos nossos dias”, publicada nas edições L’Harmattan, em Paris, apresenta no seu capítulo 13 (volume IV) uma notável síntese das fontes primárias sobre os Reinos do litoral da África centro oeste, no quadro da zona de partilha histórica regional.

Oegiptólog­o do Congo da margem direita, con irma que a capital de Loango era, igualmente, designada, nas relações antigas, como Banza Lovangiri, Mbanza Luangiri, Luandjili ou Loandjili.

Outras apelações encontrada­s, ai, são Lwanjdili, Lovango, Boarie ou Buri.

O relato do geógrafo holandês Olfert Dapper, na sua “Descrição de África” (1686), que, contrariam­ente a Andrew Battel, nunca visitou a região, coloca a referida capital numa área montanhosa que ele chama Lovangomon­go ou Luangomong­o, cidade na serrania. Outra denominaçã­o que indica o desenhador neerlandês é Mampili.

Tudo indica, então, que houve uma bwali anterior, no hinterland de Loango, Cidade de origem dos Nfumu.

Segundo Battel, a capital, situavase, no fim do século XVI, a três milhas do mar e estendia-se numa grande planície. A cidade estava cheia de palmeiras, “bakoves” e bananeiras e era muito relaxante. As casas eram construída­s em baixo das árvores. As ruas eram largas e sempre bem limpas. O mercado abria todos dias a partir do meio dia. Era um sítio dos mais agradáveis. MORFOLOGIA Tais eram a morfologia e algumas caracterís­ticas de Bwali, no im do século XVI e nos primeiros anos do século XVII. Segundo Battel, Banza tinha quase a dimensão da cidade de Rouen.

No cálculo moderno, Bwali tinha cerca de 16 quilómetro­s quadrados de super ície.

Em 1787, Degrandpre, o icial da Marinha francesa, que fez uma estadia de negócios esclavagis­tas na região, notou que “Banze Loango é um grande espaço contendo cerca de 15.000 almas”. Isso dá uma densidade de, aproximame­nte, 1000 habitantes por km/quadrado.

O Padre Bernadino Ungaro, missionári­o italiano, que introduziu em 1663 a religião cris.ã no “Si Vili “,indicou que a corte real era constituíd­a de 300 pessoas. Um ano depois, ele baptizou mais de 12 000 sujeitos de Nganga Mvumba. HAUPSTAT Degrandpre atribui a forte massa demográ ica à poligamia e avalia a população total do tríptico Loango/KakongoMal­emba/Ngoyo Cabinda, em 60.000 habitantes.

Para Obenga, Bwali era uma verdadeira haupstadt com casas construída­s como na Itália.

Era o centro de recepção de produtos vindos da sua periferia Makonde, Sekie e Katte. A cidade vivia, naturalmen­te, de uma agricultur­a de auto subsistênc­ia feita de manioque, legumes e frutas, assim como da pequena criação pecuária doméstica.

O Mampili tinha, igualmente, os seus famosos príncipes ma-kaia negociante­s esclavagis­tas, os seus nganga e os talentosos artesãos (ngangulas, salineiros, ceramistas, tecedores e pescadores).

A “town of Mani Longo”, bem articulada ao trá ico negreiro atlântico funcionava, continuada­mente, como cidade-entreposto.

Este posicionam­ento mercantil que fez surgir à volta de Bwali “terras” e “pontas” de retenções e trânsito de escravos provocaria a gradual decadência da cidade, que, no im do século XVIII, se torna a sombra dela própria.

Bwali apanhou a contracorr­ente, implacável, da história esclavagis­ta e colonial, que interrompe­u a inteligênc­ia urbanístic­aafricana.

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