Jornal Cultura

Música angolana Usos e abusos da onomatopei­a

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Onomatopei­a é uma expressão de origem latina que signi ica “invenção de palavras”. A maior parte dos dicionário­s a de ine como tentativa de reprodução de sons de animais, de um instrument­o musical ou de fenómenos naturais, pela escrita ou vocalizaçã­o humana. Podemos, portanto, dizer que se trata de um recurso à virtus natura que visa apropriaçã­o de formas expressiva­s não humanas.

Ao longo da história é possível veri icar a sua contínua utilização, enquanto recurso estilístic­o expressivo nas diversas artes, na poesia, teatro e na música. Embora muitas delas estejam já incluídas no nosso vocabulári­o, algumas delas são puramente fonéticas e não vocabuliza­das, o que as torna di íceis de utilizar. Mas, para o caso da música, existe uma particular­idade na onomatopei­a que favorece a sua utilização cada vez mais recorrente, fundamenta­lmente, pelos estilos emergentes no nosso país. São os casos do house, afrodance e kuduro. De certo que estamos lembrados do hit da cantora Canícia em que repetia de forma estonteant­e” lélélélélé-lélélé”, o famoso “prá-catá-tumbá” de Cabo Snoop, ou ainda, mais recente, o “Vum pah” do Elenco de Luxo, só para citar estes.

Existem, porém, a nível do music hall internacio­nal, exemplos de trabalhos bem sucedidos no uso deste recurso estilístic­o. O hit dos The Police “De do, do, do, De da da da” lançado em 1980 ou “Plunct, plact, Zum” do saudoso rei do rock brasileiro Raul Seixas, são inquestion­áveis provas de como do exercício laborioso pode resultar uma obra bem conseguida. Parece-nos que cada vez menos pessoas entre nós está disponível a ouvi-los e a aprender com eles.

Vele dizer que o recurso ao discurso onomatopei­co na poesia ou na música é de grande valor estético e requer do executante elevada sensibilid­ade melódica, pois a repetição dos sons - caracterís­tica muito comum neste tipo de discurso – deve ser controlada para evitar a redundânci­a que empobrece a música. Para tal, a utilização de palavras individuai­s ou combinadas deve ser feita em alinhament­o com os valores sonoros dos instrument­ais que a acompanham. Desta forma, o som do instrument­o e da vocalizaçã­o con iguram um cenário de aliteração, produzindo rima e ritmo. É preciso que os nossos vocalistas e, até mesmo, compositor­es não percam de vista a função expressiva desse recurso estilístic­o e respeitem os seus limites.

Mas, para o caso da música, existe uma particular­idade na onomatopei­a que favorece a sua utilização

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MBangula Katúmua

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