Contribuição de historiador angolano ao estudo da Teologia Africana
Acabam de ser publicadas em Paris, nas edições L’Harmattan, as actas da Conferência Internacional sobre Simon Kimbangu (18871951), durante um encontro subordinado ao tema “O homem, a sua obra e a sua contribuição para a libertação dos povos negros”.
Dentro dos especialistas que contribuíram para este resultado, Simão Souindoula, que, numa notável comunicação intitulada ”Simon Kimbangu sobre as cinzas inculturantes da Profetiza Ardente”, estabeleceu a aproximação entre a “dissidência” antoniana, do inicio do século XVIII, no antigo Kongo, e o cismo “kinduadista”, na região do Baixo Rio, emergido nas primeiras décadas do século XX.
Editado em dois tomos, sob a coordenação de Elikia Mbokolo e Kivilu Sabakinu, esta compilação espraia-se sobre 502 páginas.
Nota-se, entre os aportes publicados, os de Théophile Obenga e do seu jovem colega, Laurent Gankama da Universidade Marien Ngouabi de Brazzaville, os comparatistas Lututala Mumpasi do CODESRIA e Mamadou Sy, de Dakar, Jean Pierre Dozon, da Escola dos Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris e a sua confrade Elisabetta Maino, Rémy Banzenguissa da Universidade de Lille, Serge Mboukou da Universidade Paul Verlaine de Metz, Aurélien Mokoko Gampiot, do Centro Nacional francês da Investigação Cientí ica, Kodi Muzong da Chantam House de Londres, Anne Melice, da Universidade de Liège e Ramon Sarro, da Universidade de Lisboa.
Lê-se, igualmente, as intervenções de Katrien Pype da Massachusetts Institute of Technology, dos USA, de Peires Jeff da Rhodes University, em Graham Town, na África do Sul, de Eduardo Franca Paiva, da Universidade Federal do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, no Brasil, e dos irmãos antilhanos, Olivier e Yvan Birna.
COLISÃO POLÍTICA
En im, aprecia-se as análises da washingtoniana Sheila S. Walker, da norte-americana Ramona Tascoe, de Pierre Mujomba da Saint Michael College, Colchester, Vermont, nos Estados Unidos de América, de Nyunda ya Rubango e o seu colega erudito Ngwarsung Chiwengo da norte-americana Creighton University, Dianne Diakhite da Universidade de Emory, nos EUA, e de Martin Kalulambi Pongo de Universidade de Ottawa, no Canadá.
Os principais eixos das exposições ora publicadas, salientam a inevitável colisão política que devia provocar o movimento religioso do baptista de Nkamba, a sua incontornável dimensão anticolonial, a sua irreversível expansão nacional, regional e, um pouco mais tarde, internacional, o seu sólido enraizamento antropológico, a sua previsível fractura teológica, a sua justi icativa revindicação na iliação nas cismas cristãs anteriores e a sua in luência estruturante na emergência das Igrejas neo-cristãs negras, aparentadas, na região.
O 30 de Junho de 1960, data da independência do Congo-Léopoldville foi, invariavelmente, recordada, em tela de fundo, nas análises como a concretização da grande profecia dita nos anos 20 par o predicador dissidente. E é um dos ilhos espirituais, Joseph Kabasele, nascido no Baixo Congo, que dará à África e à sua diáspora, o seu hino à dignidade, “Indépendance Cha Cha”.
As contribuições orientaram-se, igualmente, sobre o exemplo, heróico, de auto-desenvolvimento kimbanguista, em diversos domínios tais como a educação, a saúde, a agricultura, etc.
Simão Souindoula recordou o facto da terra na qual foi imposta, logo no im do século XV, uma tenaz evangelização, o espaço do antigo Reino do Kongo ter registado diversas contracorrentes desta mutação religiosa.
O historiador notou dentre os” cismas” surgidos, os animados por Kimpa Vita, no início do século XVIII, e Simon Kimbangu, logo no primeiro decénio do século XX.
PATERNALISMO
Catequista, o nativo de Nkamba se dará, rapidamente, conta da distância, bem visível, que se constitui entre o humanismo propagado nas Santas Escritas, a afferrolhagem colonial e o paternalismo das Igrejas.
Cristão convencido, ele engajara um movimento alternativo que apresentara similitudes, previsíveis, com a facção antoniana, na sua vontade de a irmar, após uma poderosa visão divina, um cristianismo africano, de sair da dominação estrangeira, de irradiar uma nova fé e diminuir a pena dos doentes graças à “Boa Palavra”.
O antigo estudante do Baptist Missionary Society predirá como a inicia- da da “Marimba do Kongo “, num mesmo entusiasmo das populações, uma inversão racial no panteão cristão e na sociedade, mas igualmente, a restauração do Reino.
Mensagem com conteúdo, em última análise, visivelmente blasfematória e dissidente, Simon Kimbangu, como a Dona Beatriz, serão condenados, sob uma Inquisição fria, para o “Ntumua ya Nzambi´a Mpungu”, e uma Inquisição quente, para a a iliada do “kimpasi”.
O Profeta contribuirá, num percurso coincidente como o da jovem “Apóstata”, a a irmar um cristianismo niger, promovendo, por si próprio, o respeito dos valores de fraternidade, de elevação da vida humana e de solidariedade social.
Para este perito da UNESCO, o realce pelos kimbanguistas dos valores fundamentais tais como a fraternidade, o respeito da vida humana, o trabalho e a solidariedade social é uma dinâmica que é necessário apoiar na perspectiva da Renascença da Afrikiya.