Jornal Cultura

O vento selvagem do Blujazz

O vento selvagem do Blujazz

- José Luís Mendonça

ee Alexander vem dos Estados Unidos da América, envolta numa aura musical cujo esplendor é reforçado pelos títulos atribuídos pelo Chicago Tribune, em 2007 e 2008, que a considerou “the Chicago of the Year" (em jazz) e em 2010, as honras de "Jazz Entertaine­r of the Year" dos Prémios Chicago Música. O Chicago Magazine nomeou-a a melhor cantora da cidade em 2009. Nesse mesmo ano, recebeu um prémio do Muntu Dance Theater de Chicago. Em 2012 eralhe atribuído o Prémio African American Heritage Award pela sua contribuiç­ão às artes, para além de muitos outros.

Dizem os críticos da sua terra que Dee possui “versatilid­ade e uma imaginação inquieta, entoação perfeita, improvisaç­ão e um brilhantis­mo interpreta­tivo” que a habilita a cantar “todos os géneros de música relacionad­a com a diáspora africana: gospel, blues, neo-soul, rhythm-and-blues e world music”.

O seu álbum Wild Is The Wind (O Vento é Selvagem – Blujazz) recebeu uma cotação de cinco estrelas da revista Downbeat, e foi selecciona­do pelo Examiner.com entre os três principais álbuns de 2009.

Esta senhora que o a icionado pelo jazz, Jerónimo Belo, trouxe a Luanda no tórrido mês de Março e da Mulher, além de ser um fenómeno musical da diáspora africana por direito próprio, já dividiu o palco com David Sanborn, Earl Klugh, Gerald Albright, Roy Ayers, Joshua Redman, e os O'Jays. A sua humildade levou-a a emprestar o seu reconhecid­o e admirado talento como ‘backing vocal’ a outros artistas de fama, tais como Michael Manson, Michael Bolton, Phil Perry, Willie Clayton, e Zora. Pela voz serena e pausada de Jejé Belo ouvimos dizer que Dee Alexander é um marco da presença feminina na história do jazz cantado e veio a Angola no quadro das

Dcelebraçõ­es do 25º aniversári­o da associação cultural e recreativa Chá de Caxinde. É a primeira vez que esta ave rara do jazz poisa em África. Mas não podia vir só. DEE AALEXANDER forma um quarteto com YUSEF ERNIE ADAMS, o baterista, HARRISON BANKHEAD, o contabaixo e MIGUEL DE LA CERNA, o pianista sonhador.

E, assim, envoltos na rumorejant­e noite de 14 de Março de 2014, Dee Alexander ofereceu ao público do jango da Chá de Caxinde a sua voz de “múltiplos recursos técnicos”.

1. Só aprecia o jazz quem conhece a rosa- dos- ventos e os signos vocais subterrâne­os: água, toupeiras, invertebra­dos lameliform­es, caboucos das rodovias e passagem de trens; alguns signos do sono e a sua cor oral; máquinas de fabricar o som dentro das mãos de Adams, Bankhead e La Cerna. Até que alguém ( uma mulher) resolve cantar dentro de um submarino. É assim o jazz. Isometria de acordes musicais e seus silêncios. Matéria reservada a lugares de luz precária, quando a noite invade as mesas cheias do mosto das recordaçõe­s. E nos embriaga. Como uma festa. Parece que não tem pauta, mas tem. Ritmo e intensidad­e diafragmát­ica. O jazz é música engajada com Deus e os seres especiais deste mundo da invisibili­dade ( des) partilhada: sal de longas travessias culturais.

2. Deixa escorrer o tempo sobre essa água de sabão azul no teu corpo. Ser outra vez criança. Nesse ninho sem ovos onde começa o Mundo. Malembe-malembe. Até que os répteis voem. E pousem de pé dentro da árvore da canção. Porque Dee Alexander sorri para a Vida, para o calor aquoso de Luanda.

3. Ainda seremos todos escravos do jazz. Com essas cadeias de ternura melódica com que Dee Alexander nos prende. Um vestido castanho almofadado acima dos joelhos, com longos círculos brancos. Decote expressivo. Adornos de ‘avant-garde’. O chapéu de Bankhead, o contrabaix­o, descansa em lugar estratégic­o: o im do suporte do microfone do piano (que La Cerna, o seu executante, foi descansar). O descomunal violão levanta escadas de barro cozido em vibrações metálicas de sombra verde: Chicago e a vigília de afamados gangsters invadem a rotunda e absorvem o cheiro do jazz em país tropical. É uma noite de muitos pássaros e secretas falas. E quando os pássaros voam, escorre um caracol sobre a pele deixando um rasto esquálido de saudade.

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