Cultura angolana ficou viúva de Manuel Faria, Samuel Aço e Fulas de Carvalho
O ministério da Cultura anunciou, em notas de condolências que recebemos na nossa redacção, que três ilustres figuras do nosso meio cultural e científico – Fulas de Carvalho, Manuel Faria e Samuel Aço – já não nos acompanham nesta longa marcha pelo desenv
Fulas de Carvalho é o pseudónimo de Bartolomeu Sebastião de Carvalho e nasceu a 14 de Maio de 1958, no Dande, província do Bengo, tendo falecido no dia 29 de Maio deste ano.
Fulas de Carvalho entrou para o meio artístico no decorrer dos anos 70, atraído por outros jovens que encontraram na música uma forma de expressão do seu protesto contra regime colonial vigente à época em Angola, tendo ingressado no agrupamento “Os Angoleneses”, onde se notabilizou como vocalista.
“Ficam na nossa memória colectiva os feitos deixados por esta figura. Partiu o artista, mas ficou a voz registada nas variadas canções do disco “Kudikola Kuetu”, dos Jovens do Prenda”, enaltece a nota assinada pela ministra Rosa Cruz e Silva.
Manuel Faria disse adeus a este mundo no passado dia 30 de Maio. Foi um notável promotor cultural nas décadas de 70 e 80, quando era proprietário dos centros recreativos Kudissanga Kua Makamba e Kianda Kya Anazanga, nos quais se notabilizaram grandes estrelas da música angolana, tais como Elias dyá Kimuezo, Bonga, Teta Lando, Artur Nunes, David Zé, Urbano de Castro, Luís Visconde e tantos outros. Estes deram alma ao principal palco de Luanda, o “Kudissanga”, que galvanizou o povo através da música de intervenção política para um sentimento nacionalista. Por esse facto, Manuel Faria constitui uma pedra fundamental na defesa dos ideais da independência, facto que o levaria às cadeias da PIDE/DGS, por diversas vezes.
O antropólogo Samuel Aço morreu sem sinal previsível no dia 4 de Junho, vítima de doença, no Hospital Sagrada Esperança, em Luanda.
Samuel Aço é natural de Caluquembe, província da Huíla, onde nasceu a 26 de Junho de 1945. Viveu a sua infância no Namibe até aos 12 anos, altura em que se mudou para Luanda. Em Lisboa, estudou Psicologia, mas logo mudou de curso, iniciando os estudos em Antropologia.
Com o curso ainda incompleto, viajou compulsivamente para Angola, depois da independência do seu país natal, em 11 de Novembro de 1975. Regressaria mais tarde a Portugal para terminar a licenciatura, o que aconteceu em 1983.
Samuel Aço, homem de cultura dedicado à investigação sobre questões sócio-culturais angolanas, exerceu várias funções de direcção no ministério da Cultura, era docente na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, e foi fundador do Centro de Estudos do Deserto. Conta com colaborações e artigos dispersos por várias publicações nacionais e internacionais.
Até à data da sua morte exercia o cargo de presidente do júri do Prémio Nacional de Cultura e Artes 2014.
“Ao longo da sua vida, partilhamos momentos ímpares no processo de resgate, valorização, promoção e desenvolvimento da Cultura Nacional, particularmente, no domínio do Património Cultural Imaterial”, lê-se na nota assinada por Rosa Cruz e Silva.
Nós que conhecemos pessoalmente o kota Aço, sempre nutrimos um respeito e uma devoção por este companheiro de boné proletário e barba a condizer com o nome, a pele tisnada pelo fogo do deserto e um olhar de anjo que dava vontade de permanecer a ouvi-lo filosofar sobre as coisas da Vida. Agora, lamentamos não ter andado mais tempo com Samuel Aço. Mas ele também não era homem vazio de afazeres e ocupações.
É assim a vida! Porque a morte não é para quem passa o tempo a trabalhar em prol da Humanidade.