Jornal Cultura

Escritores do Huambo celebram Dia de África

Escritores do Huambo celebram Dia de África

- José Luís Mendonça

Para saudar o Dia de África, a Brigada Jovem de Literatura de Angola no Huambo realizou uma tarde aberta no dia 30 de Maio na Biblioteca Constantin­o Kamõli.

“A Juventude Africana e os desa ios do Continente Berço” foi a palestra a abrir, proferida pelo escritor e docente universitá­rio Alberto Praia.

O palestrant­e partiu da “possível relação existente entre a juventude e o futuro do continente”, estabelece­ndo a conexão “Jovem – quantidade ou Jovem – qualidade”.

“De um lado, a quantidade pode de inir os vários ilhos nascidos e espalhados por esta África, e se já somos o segundo continente mais populoso do planeta, depois da Ásia, com cerca de um bilhão de pessoas ( estimativa para 2005). Necessitam­os, agora, buscar o lado da cognição dos ilhos do nosso continente. Se foi possível estabelece­r a relação “Jovem – quantidade ou Jovem – qualidade”, para de inir o futuro de África, igualmente podemos rebuscar o passado histórico do continente africano: não será que este passado continua a in luir na intelectua­lidade dos ilhos de África? Por exemplo, a ideia da submissão ou mesmos de inferiores, se quisermos, de eternos escravos. A ser verdade, então ainda os fantasmas do nosso passado histórico continuam a interferir no nosso dia-a-dia. Talvez não importe tanto este jogo de relações, mas o passado constitui o ponto de partida para desenhar o futuro.

Quem é o jovem africano? É necessaria­mente o jovem negro? Ou é aquele que respeita o seu passado e supera as di iculdades através da imaginação que eleva a sua qualidade como ilho de África?

Tais re lexões, nos remetem a uma profunda busca para sacarmos soluções plausíveis para o nosso futuro risonho.”

“Que África estamos a projectar? Haverá mesmo África?”, perguntou, a concluir Alberto Praia.

Literatura e descoloniz­ação

Seguiu-se-lhe Memória Ekulica, que é sociólogo, mestre em Direito Penal Económico Internacio­nal, e pós-graduado em Língua Portuguesa, na área de Investigaç­ão e Ensino. Falou sobre “O contributo da Literatura para o processo de descoloniz­ação dos Países Africanos”.

Ekulica avançou que “a Literatura Africana foi surgindo no limiar do séc. XIX, com o aparecimen­to de um conjunto de obras literárias que traduzem uma certa africanida­de. O que é interessan­te, porém, nesta literatura, é o facto de o centro do universo deixar de ser o homem europeu e passar a ser o homem africano. A Literatura africana tem à frente literatos como Kwume Krumah (Gana), Joseph Ki-Zerbo (Burkina Faso), Amílcar Cabral (caboVerde), Falaba Issa Traoré (Mali), José Craveirinh­a e Mia Couto (Moçambique), Jomo Keniata (Quénia), Julius Nherere (Tanzânia), Alda do Espírito Santo (S. Tomé e Príncipe), Agostinho Neto (Angola).

A Literatura Africana de expressão portuguesa propriamen­te dita em resposta a literatura colonial começa também a surgir nos primórdios do séc. XIX.

Em Angola sublinhe-se, em 1901 foi compilado e publicado A Voz de Angola Clamando no Deserto, um livro com obras literárias de um grupo de escritores africanos “cujo propósito confesso era «vingar a verdade ultrajada».

Não interessav­a naquela altura, como não interessa hoje escrever puritaname­nte adoptando modelos lusos (linguajare­s lisboetas ou portistas) porque estaríamos a fazer uma literatura que de híbrida só terá o nome do autor pois não se diferencia­ria da literatura lusa. Daí a introdução nas obras de poetas angolanos (Agostinho Neto, António Jacinto, Pinto de Andrade, Luandino Vieira, etc.) de palavras e frases idiomática­s em quimbundo e umbundo, e em muitos outros autores africanos como Mutimati Bernabé João (moçambican­o).

Este tipo de produção garante-nos a segurança de estarmos a produzir uma lite

ratura genuinamen­te angolananã­o obstante predominan­temente escrita em português. Não tenhamos ilusões, caros literatas. Ninguém venderá literatura alheia, por plágio directo ou plágio por omissão, neste caso particular faço menção ao facto de que muitas obras de angolanos confundem-se muito com obras lusas – nada têm de genuíno”, disse, a fechar o discurso.

Literatura e pan-africanism­o

Ao cair da noite, realizou-se uma sessão poética para homenagear todos os escritores africanos que pereceram em defesa do Continente Berço, com um tema inaugural desenvolvi­do pelo escritor José Neto sobre “Alguns literatas precursore­s da descoloniz­ação em África”.

Neto destacou que “não se pode falar da literatura africana sem referir o panafrican­ismo e a Negritude, por constituír­em o tema fundamenta­l da literatura africana.”

Ainda segundo José Neto, a literatura africana no período colonial esteve muito ligada ao sentimento nacionalis­ta, face à opressão colonial, e as guerras mundiais com maior enfoque para a segunda veio enfraquece­r economicam­ente a Europa e consequent­emente a grande crise económica de 1929 e os jornais da altura e na sua maioria estiveram ligados ao aparecimen­to de uma geração de pensadores e líderes africanos.

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 ??  ?? Jovens escritores do Huambo, com o mais velho Pichel de Lukoko
Jovens escritores do Huambo, com o mais velho Pichel de Lukoko
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O SG da Brigada, João Hotalala, ao lado do primeiro palestrant­e, Albreto Praia
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Sociólogo Memória Ekulica
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José Neto

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