PAISAGENS PROPÍCIAS
Património cultural intangível
O mês de Julho, com o Cacimbo a arder no poço húmido dos olhos, veio coreografado de “PAISAGENS PROPÍCIAS”, a peça dos “sóbrios amantes do leite:/
(...), Hereros cultivadores de anharas/ caminheiros da estepe/ sombras da savana”, fecundada no discurso poético “Primeira Proposta Para Uma Noção Geográ ica”, de Ruy Duarte de Carvalho, e que a Companhia de Dança Contemporânea de Angola (CDC) montou no Centro Cultural Português.
Parida em 2012 pelo coreógrafo Rui Lopes Graça, com música original de João Lucas e desenho e igurinos de Nuno Guimarães, esta peça entrou no concerto das Nações, pela porta de Lisboa em 2013, e depois encantou Cuba, Israel e Espanha.
O jornal Cultura foi lá visitar os sete pastores do corpo, António Sande, os três irmãos Curti, Armando Mavo, André Baptista e Adilson Valente, e descobriu o grande território de um palco aumentado no auditório Pepetela, onde estes bailarinos se metamorfosearam numa civilização que faz da dança sobre “os areais da suave brisa (...) um corpo móvel de paisagens/ protegidas por clareiras de fartura”.
O FILME
O olhar dos bois é mitológico. “Mensageiro das identidades/ de que se forja a fala do silêncio”. Parecem deuses de pele e leite branco. E as paisagens à volta são propícias ao sonho e aos movimentos (dança) da Alma. Daí o canto ao compasso das palmas e os seios úberes que rodopiam no chão nu. Dançar faz parte da anatomia da Terra. Principalmente se o pó se levanta das sandálias tricotadas de pneus. Pés calçados dos homens, que as mulheres Herero nascem para dançar descalças.