Até sempre Nadine Gordimer
A morte da sul-africana Nadine Gordimer (13/07), aos 90 anos, representa o desaparecimento ísico de uma grande escritora e de uma personalidade que sempre se distinguiu pela defesa dos valores humanos da igualdade e solidariedade.
Nadine Gordimer recebeu o Prémio Nobel de Literatura em 1991, chamando, mais uma vez, a atenção para a ignomínia que era o apartheid, na África do Sul.
A escritora disse, numa entrevista, que o dia em que se sentira mais orgulhosa na sua vida, não fora quando recebeu o Nobel, mas quando, em 1986, testemunhara num julgamento, para salvar a vida de 22 membros do ANC acusados de traição.
Nadine Gordimer nasceu na cidade de Springs, no Transval, em Novembro de 1923, ilha de emigrantes judeus. O pai era joalheiro, nascido na Lituânia, e a mãe originária de Londres.
A mãe de Nadine, impressionada com o modo como eram tratadas as crianças negras, abriu uma creche, para dar-lhes apoio gratuito. Nadine começou a escrever aos 15 anos, pequenas histórias que publicou com o nome de Face to Face, dez anos depois.
Estudou na Universidade de Wittwatersrand, Joanesburgo e viajou bastante por África e América do Norte. Casou duas vezes e teve dois ilhos.
Ao longo da vasta carreira Nadine Gordimer publicou mais de trinta livros, incluindo o romance A História de Meu Filho (1990), Burger's Daughter (1979) e July's People (1982). Em 1974, a escritora ganhou o prémio Man Booker pela obra O Engate.
Está traduzida em mais de trinta línguas e recebeu numerosos prémios e doutoramentos honoris causa.
O Nobel de Literatura foi-lhe atribuído, segundo o comité organizador, por ser possuidora de uma "escrita épica magní ica".
Voz contra o apartheid
Uma das principais vozes contra o regime do apartheid, Nadine Gordimer publicou o seu primeiro livro em 1949, um ano depois do Partido Nacional chegar ao poder e o icializar a segregação na África do Sul. Amiga de Nelson Mandela, chegou a ser militante do Congresso Nacional Africano, que considerava ser a força política mais progressista do país.
De forma quase inevitável, a sua escrita foi in luenciada pelos acontecimentos do país e a injustiça e a opressão do apartheid tornaram-se temas recorrentes na sua obra literária.
As suas narrativas tinham como tema principal o apartheid, o exílio e a alienação. Vários dos seus livros foram censurados pelo governo racista, mas mesmo nos momentos mais sombrios do regime, que durou de 1948 a 1994, a escritora recusou-se a deixar a África do Sul.
O engajamento político da escritora, porém, não deve ofuscar a qualidade da sua prosa simples e subtil, despida de sentimentalismo. Ao receber o Nobel, Nadine deixou claro que a literatura era a sua principal vocação. "Algumas pessoas dizem que me deram o prémio não pelo que escrevi, mas pela minha actividade política. Mas eu sou uma escritora. Essa é a minha razão
para continuar a viver", declarou.
Frases da escritora
" A arte desafia a derrota pela sua própria existência, representando a celebração da vida, apesar de todas as tentativas para degradá- la e destruí-la."
"A solidão da escrita é muito assustadora. Está muito perto da loucura, desaparecemos por um dia e perdemos o contacto."
"Nos países onde a repressão prevalece, o escritor não deve censurarse a si mesmo nem dar-se por vencido."
"A linguagem foi e continua a ser a capacidade milagrosa que o ser humano possui como único ser dentro do milagre da criação."
"Eu era uma prova viva da teoria de que os livros estão feitos de outros livros."
"A necessidade de escrever vem de dois impulsos: do que acontece no teu interior e do que te é imposto a partir da sociedade, do país, da política e da
moral."