Jornal Cultura

A prossecuçã­o do associativ­ismo angolano em Leopoldevi­lle e Portugal

- FILIPE ZAU*

Face às agruras do trabalho forçado, muitos dos cerca de 700 mil trabalhado­res assalariad­os angolanos com o estatuto de “indígenas”, que, na década de 1950, eram anualmente obrigados a trabalhar, tanto para administra­ção, como para as grandes e médias empresas privadas portuguesa­s ou estrangeir­as, passaram a emigrar para território­s vizinhos, fora de Angola. As rusgas tornavam-se cada vez mais frequentes, “quer nos muceques, como nas sanzalas e, até mesmo, nas escolas, com o intuito de arranjar homens para o ‘contrato’.” Tal facto, associado ao sistemátic­o despovoame­nto das terras, criava nas populações um permanente sentimento de inseguranç­a e medo. Corroborav­a, por outro lado, para a destrutura­ção das comunidade­s tradiciona­is e para o desequilíb­rio das famílias africanas rurais e peri-urbanas, devido à diminuição da natalidade, à falta de braços para o trabalho, ao rápido empobrecim­ento por falta de meios de subsistênc­ia.

Como resultado do reconhecim­ento de uma maior conscienci­alização da injustiça praticada, cresceu nestas populações rurais e nos poucos intelectua­is da época um profundo sentimento de revolta e as condições objectivas para a emergência do associativ­ismo dentro e fora de Angola.

A UPNA e a ALIAZO

Face à administra­ção colonial, cada agremiação acabou, no fundo, por de inir o seu espaço de actuação de acordo com as preocupaçõ­es sociais, o local de emigração e o sentido de autonomiza­ção. Daí que, em 1954, tivessem sido criadas, no Congo-Leopoldevi­lle, duas associaçõe­s de naturais do norte de Angola: a UPNA – União dos Povos do Norte de Angola e a ALIAZO – Aliança dos Originário­s do Zombo, que, mais tarde, acabaram por estar na origem da fundação de duas organizaçõ­es políticas de carácter nacionalis­ta: a UPA – União da Populações de Angola e o PDA – Partido Democrátic­o Angolano.

Segundo Edmundo Rocha, houve também uma tentativa frustrada de criação da Associação Africana do Sul de Angola, fundada por trabalhado­res ferroviári­os da ex-Nova Lisboa e do Lobito. Porém o seu programa não mereceu o agrado das autoridade­s coloniais, o que levou ao seu rápido encerramen­to.

A Casa dos Estudantes do Império

Há 70 anos atrás, por pressão governamen­tal e pelos apoios inanceiros regulares dos governos-gerais das colónias e das empresas privadas, a Casa dos Estudantes de Angola transformo­u-se na Casa dos Estudantes do Império (CEI), mais precisamen­te, em 1944. Reunia, no espírito do regime colonial, estudantes oriundos das várias colónias africanas, indiana e de Macau, numa intensa actividade associativ­a e de apoio assistenci­al, onde não faltavam as actividade­s de carácter desportivo e cultural. Todavia, a sua secção de Coimbra contava com um grupo de estudantes angolanos que, em contacto com organizaçõ­es políticas portuguesa­s anti-fascistas, como o Movimento de Unidade Democrátic­a (MUD Juvenil) e o Ateneu de Coimbra, vieram a assumir uma postura menos conformist­a em relação aos dirigentes da CEI, em Lisboa.

Dos estudantes angolanos em Coimbra destacavam-se: Agostinho Neto, Lúcio Lara, João Vieira Lopes, Urbano Fresta, Carlos Veiga Pereira e Fernando Costa Campos. É no seio da CEI que, entretanto, surgem em Lisboa duas organizaçõ­es políticas clandestin­as de luta anti-fascista e anti-colonialis­ta: o Movimento Anti-Colonialis­ta (MAC) e o Movimento de Estudantes Angolanos (MEA).

Como o ambiente na sede da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, não era considerad­o o mais propício para os estudantes africanos mais progressis­tas, estes passaram a reunir- se no 1 º andar do n º 31, da Rua Actor Vale, em Lisboa, em casa da Senhora Dona Andreza, da família Espírito Santo, de S. Tomé. Ali se realizavam palestras e várias sessões de tertúlia no chamado Centro de Estudos Africanos (CEA), que tiveram como objectivo a redescober­ta do “Eu africano”, na corrente nativista também apelidada de “negritude”. De entre os jovens que se reuniam no CEA figuravam os nomes de Mário Pinto de Andrade, Francisco José Tenreiro,

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Fundadores do Clube Marítimo Africano
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