A prossecução do associativismo angolano em Leopoldeville e Portugal
Face às agruras do trabalho forçado, muitos dos cerca de 700 mil trabalhadores assalariados angolanos com o estatuto de “indígenas”, que, na década de 1950, eram anualmente obrigados a trabalhar, tanto para administração, como para as grandes e médias empresas privadas portuguesas ou estrangeiras, passaram a emigrar para territórios vizinhos, fora de Angola. As rusgas tornavam-se cada vez mais frequentes, “quer nos muceques, como nas sanzalas e, até mesmo, nas escolas, com o intuito de arranjar homens para o ‘contrato’.” Tal facto, associado ao sistemático despovoamento das terras, criava nas populações um permanente sentimento de insegurança e medo. Corroborava, por outro lado, para a destruturação das comunidades tradicionais e para o desequilíbrio das famílias africanas rurais e peri-urbanas, devido à diminuição da natalidade, à falta de braços para o trabalho, ao rápido empobrecimento por falta de meios de subsistência.
Como resultado do reconhecimento de uma maior consciencialização da injustiça praticada, cresceu nestas populações rurais e nos poucos intelectuais da época um profundo sentimento de revolta e as condições objectivas para a emergência do associativismo dentro e fora de Angola.
A UPNA e a ALIAZO
Face à administração colonial, cada agremiação acabou, no fundo, por de inir o seu espaço de actuação de acordo com as preocupações sociais, o local de emigração e o sentido de autonomização. Daí que, em 1954, tivessem sido criadas, no Congo-Leopoldeville, duas associações de naturais do norte de Angola: a UPNA – União dos Povos do Norte de Angola e a ALIAZO – Aliança dos Originários do Zombo, que, mais tarde, acabaram por estar na origem da fundação de duas organizações políticas de carácter nacionalista: a UPA – União da Populações de Angola e o PDA – Partido Democrático Angolano.
Segundo Edmundo Rocha, houve também uma tentativa frustrada de criação da Associação Africana do Sul de Angola, fundada por trabalhadores ferroviários da ex-Nova Lisboa e do Lobito. Porém o seu programa não mereceu o agrado das autoridades coloniais, o que levou ao seu rápido encerramento.
A Casa dos Estudantes do Império
Há 70 anos atrás, por pressão governamental e pelos apoios inanceiros regulares dos governos-gerais das colónias e das empresas privadas, a Casa dos Estudantes de Angola transformou-se na Casa dos Estudantes do Império (CEI), mais precisamente, em 1944. Reunia, no espírito do regime colonial, estudantes oriundos das várias colónias africanas, indiana e de Macau, numa intensa actividade associativa e de apoio assistencial, onde não faltavam as actividades de carácter desportivo e cultural. Todavia, a sua secção de Coimbra contava com um grupo de estudantes angolanos que, em contacto com organizações políticas portuguesas anti-fascistas, como o Movimento de Unidade Democrática (MUD Juvenil) e o Ateneu de Coimbra, vieram a assumir uma postura menos conformista em relação aos dirigentes da CEI, em Lisboa.
Dos estudantes angolanos em Coimbra destacavam-se: Agostinho Neto, Lúcio Lara, João Vieira Lopes, Urbano Fresta, Carlos Veiga Pereira e Fernando Costa Campos. É no seio da CEI que, entretanto, surgem em Lisboa duas organizações políticas clandestinas de luta anti-fascista e anti-colonialista: o Movimento Anti-Colonialista (MAC) e o Movimento de Estudantes Angolanos (MEA).
Como o ambiente na sede da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, não era considerado o mais propício para os estudantes africanos mais progressistas, estes passaram a reunir- se no 1 º andar do n º 31, da Rua Actor Vale, em Lisboa, em casa da Senhora Dona Andreza, da família Espírito Santo, de S. Tomé. Ali se realizavam palestras e várias sessões de tertúlia no chamado Centro de Estudos Africanos (CEA), que tiveram como objectivo a redescoberta do “Eu africano”, na corrente nativista também apelidada de “negritude”. De entre os jovens que se reuniam no CEA figuravam os nomes de Mário Pinto de Andrade, Francisco José Tenreiro,