Jornal Cultura

OCIREMA

A Vida & os ditongos da Cultura

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Ocirema, no bolso da memória decorámos tua pena indignada nos sabendo a tortulho de aluvião nos sabendo a peixe de sábado escabeche com maruvo fresco ainda. Ocirema, te kandando no tempo irmão-camarada quando casávamos no quintal sem muro sem grades só com dois barris de ino e cacusso de boca fechada prá não falar do ngulo assado no carvão da tia Emília e se dançávamos bué o semba do Lamartine e do Sabú o samba do Martinho e o café do Francô. Na Mutamba tua pena sangrava na semântica catedral da rotativa esse culto religiosam­ente celebrado domingo a domingo com a voz dos poetas a pele mítica do Carnaval e o traço meticuloso da História a ser cantada letra a letra. Ocirema, teu olhar de navio na Ilha da Nossa Senhora do Cabo e dos axiluanda sem camisa a puxar redes de esperança ancorou na contra-costa sabes? a minha sombra não foi de fato e gravata comer no Alto das Cruzes a festa da tua morte recuso carpir ventos de mármore sobretudo tu que sempre relutaste atracar no cais sem retorno. Ocirema, saíste de cabaça erguida a levedar a Vida & os ditongos da Cultura.

Luanda, 14 de Agosto de 2014

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