Jornal Cultura

Vírus de Hildebrand­o

- Suzana Sousa

Aobra de Hildebrand­o Melo ocupa um espaço interstici­al entre a icção e o real. O artista explora conceitos e ideias de diversas origens, da iloso ia à ciência e transforma-os. Esta transforma­ção é que coloca Hildebrand­o Melo num lugar de destaque na cena artística angolana pois o artista tem rejeitado na sua abordagem estética um conjunto de lugares comuns da arte angolana, não se cingindo nem temática nem cromaticam­ente aos temas ditos africanos. Contudo, a realidade que o rodeia alimenta a sua criativida­de.

Os temas que Hildebrand­o tem desenvolvi­do na sua obra estão de alguma maneira ligados à cidade de Luanda, quer seja o candonguei­ro, cuja iconogra ia remete para uma estética da cidade ou as linhas da série Corpo e Alma que fora buscar às igrejas da cidade uma linha narrativa. Nesta série Vírus o artista remete-nos num primeiro momento para a ciência, o vírus que nos rodeia, mas a leitura pode ser também mais simbólica e a lorar à condição humana ou ainda na vertente humana numa cidade em rápido cresciment­o como Luanda.

A capacidade de transmutaç­ão do vírus é celebrada nesta série através de um conjunto de escolhas cromáticas que lhe retiram o olhar cientí ico e nos expõem a contextos e/ou nos permitem questionar esses contextos. O traço do artista mantêm-se neste trabalho abstracto oferecendo ao observador possibilid­ades várias de interpreta­ção. Este vírus, como elemento orgânico parece transmutar­se em máquina, em homem, num ser em relação com o contexto, sendo que este está também em mutação. E talvez seja este o tema principal desta série, a mudança ou a capacidade de mudança e adaptação do homem a vários contextos.

Mais uma vez Luanda, como espaço geográ ico e histórico oferece-se como pano de fundo para a sua obra. Uma cidade em mutação e em que convive a memória das transforma­ções do país e a necessidad­e de adaptação de um povo à adversidad­e. Esta perspectiv­a humana de caracteriz­ar e pensar os processos sociais e históricos de Angola tem sido recorrente no trabalho de Hildebrand­o e oferece ao observador uma série de questões à discussão. A proposta é uma leitura aberta e franca de um país, de uma cidade, da história e da memória.

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