A marimba no Top dos Mais Queridos 2014
A marimba no Top dos Mais Queridos 2014
Malange, 4 de Setembro de 2014. Pavilhão Palanca Negra. O grupo Marimba de Kalandula abre o Top dos Mais Queridos com uma sinfonia do hino nacional. O som ancestral da marimba faz fé no seu poder musical que lhe permite ser agregado a modernas técnicas e criar uma integração de épocas musicais.
Contudo, a intrusão desta no processo da modernização musical encontra alguns entraves, preterida por instrumentos electrónicos que garantem facilidade. Da sua experiência e entendimento como músico, Mito Gaspar é de opinião que uma das soluções para o processo criativo seria procurar o momento certo: “Porque os instrumentos tradicionais, uma marimba, um kissange, tocados no momento certo produzem na música um efeito único. E é um pouco isso que procuro fazer no meu próximo disco. Desta empreitada de homenagear os instrumentos tradicionais, sei que a vez passada foi a dikanza e desta vez a marimba. Talvez isso destaque no acervo da nossa música popular instrumentos que possivelmente ainda não temos catalogados. A classi icação destes instrumentos poderá nos ajudar a compreender as origens e algumas primárias razões de ser que se arrastam até essa contemporaneidade. Eu quero fazer muita coisa acústica, e, fundamentalmente, que desponte e se valorize os instrumentos tradicionais. E não uma mera retórica”.
Por outro lado, da sua necessidade de especi icação das zonas Malange, Uíge e Kwanza Norte, considerou ser o momento oportuno para chamar o repto da responsabilidade colectiva na conservação da zona da marimba: “A cultura é transversal a todos nós. Sozinhos não conseguiremos. Pesquisa, divulgação e estudo exigem que todos façamos algo para que os nossos instrumentos tenham cara internacional e deixem de ser objectos de uma música apenas de consumo interno. Tal como nós temos a mania de ouvirmos até o que nós não entendemos, esperamos fazer da nossa música uma alternativa”.
Entretanto, da tímida aceitação de novas estéticas, Mito refaz que essa forma de divulgação também é um caminho que os fãs encontraram para projectar os seus ídolos às grandes conquistas; e recuando um pouco no tempo, diz que antes podia haver um certo receio na absorção da musicalidade, mas sempre procurou compensar com a mensagem: “Porque nada era estranho à nossa realidade cultural e ancestralidade. Eram apenas os nossos ritmos resgatados para a modernidade”.
O seu novo disco está agendado para o próximo ano. Promete um esforço redobrado na sua edição. O mesmo será uma trilogia, composta por um disco de inéditos, The Best e um dvd com um pouco da história das andanças de Mito Gaspar.
Mito Gaspar também prestou uma singela aos Ndengues do Kota Duro, com uma rapsódia rebuscada do cancioneiro popular de Malange e que eles foram os precursores por tomar a coragem de trazer esta música que há muito tempo icou dada de autoria desconhecida, classi icada como música de recriação dos povos de Pungo a Ndongo.
“O Kota Duro já é falecido, mas o tema tem toda pertinência naquilo que é o saber popular, naquilo que é a iloso ia da oratura tradicional Kimbundu”, disse o músico.
Velho Maduro
Líder do grupo Marimba da Kalandula, Chama-se Manuel António Nvunda e tem 73 anos. Mas os miúdos tratam-no de Velho Maduro, nome com que icou conhecido até hoje. foi na década 50 que se iniciou como tocador de marimba, acompanhado pelo seu irmão mais velho, de quem imitava arranjos arrojados e aprendia as lições elementares dos grandes tocadores. Há muito tempo que o irmão faleceu. Maduro traçou um percurso que se distinguiu com entrega e dedicação. Nascido em Kalandula, conservou a regra da marimba ser tocada por três elementos. Ainda jovem, começa a tocar nos óbitos. E com a imposição de outras culturas religiosas protestante e adventista, só os óbitos católicos aceitavam nas cerimónias fúnebres a função lúdica do marimbeiro. Já tocou em vários pontos do país e conta das suas memórias um momento ímpar em que foi convidado a tocar na visita do saudoso presidente Agostinho Neto a Malange.
Maduro testemunha que antigamente quase todos dançavam à volta da marimba, ao contrário do que acontece nos dias actuais, em que só as meninas pequenas estão disponíveis a dar uns toques de dança. “Os mais velhos são maridos e as mulheres são mães adultas. Eles já não aceitam mais vir dançar. Só as crianças é que ainda se animam com a dança. Mas o processo de aprendizagem se estende a várias gerações”, explica o mestre.