O que e Literatura?
mo cartas, biogra ias e diários à categoria “literária”.
Um dos registos mais antigos que se tem acerca do tema deve-se a Aristóteles, que elaborou um conjunto de anotações em que busca analisar as formas da arte e da literatura do seu tempo. Para isso, o pensador elaborou a teoria de que a poesia (género literário por excelência na época) era “técnica” aliada à “mimese”, diferenciando os géneros trágico e épico do cómico e satírico e, por im, do lírico. Segundo o ilósofo, o que difere a arte literária, representada pela poesia, dos textos investigativos em prosa é a qualidade universal que a imitação permite. Ao imitar o que é diferente (épico e tragédia), o que é inferior (comédia e sátira) e o que está próximo ( lírico), o artista cria a “ ictio”, isto é, “ icção”, inventando histórias genéricas, porém verossímeis.
Os escritos de Aristóteles são questionados nos dias de hoje, uma vez que a literatura sofreu uma evolução sem precedentes nos últimos séculos, aceitando novos géneros e presenciando a criação de novos meios de veiculação, como a internet. Todos esses factores acabam na de inição clássica de literatura e gerando novas atribuições ao longo de seu desenvolvimento e recepção. O que é Literatura? Não há uma de inição estabelecida acerca do conceito de literatura. Ela varia de acordo com o momento histórico e com as condições de recepção do seu material (porque embora a literatura seja basicamente composta por textos literários, ainda há inúmeras discussões acerca do que seria esse “texto” e de quais seriam os seus meios de difusão). Além disso, podese acrescentar que a literatura é, na realidade, uma reunião de diversos aspectos estruturais, sociais e culturais dentro de uma manifestação textual. Há artistas, como o poeta norteamericano Ezra Pound, que a irmam que o poeta tem uma função social porque a sua obra e as suas palavras estão carregadas de signi icado. O poeta também diz que os escritores possuem uma função social de inida em razão de se encontrarem na posição de escritores, de trabalhadores das palavras e, portanto, possuem responsabilidade social. Sabemos que a literatura além de re lectir a realidade vista pelos olhos dos artistas, é um veículo de disseminação de ideias e, independente de seu teor, causa determinados impactos e sensações no imaginário de seus leitores.
Segundo o teórico Jonathan Culler, a literatura é um acto de fala que contrasta com outros tipos de actos de fala. O que acontece, geralmente, é que os leitores acabam por identi icar o acto de fala literário por este se encontrar num meio associado à literatura (como por exemplo: livro de poemas, secção indicada numa revista literária, biblioteca etc.), além disso, o texto literário diferencia-se dos textos não literários em razão da atenção dispensada nesse tipo de texto, isto é, não é esperado que se leia um romance ou um poema como se fosse uma manchete de jornal ou um anúncio nos classi icados, ou ainda como se estivéssemos a ouvir uma notícia veiculada na rádio ou na televisão.
Podemos ir ainda mais além e pensar que o que diferencia um texto literário de um não literário é a maneira como a narrativa é construída. No romance, predomina a narrativa ficcional em forma de prosa ( geralmente uma história inventada, com personagens inventados e um conflito específico que norteia as atitudes dos personagens), na poesia, versos seguindo estruturas formais ou livres ( sem rima) sobre diferentes assuntos. Essas especificações com relação às formas são o que caracterizam os géneros textuais.
O que diferencia a literatura dos demais textos do “dia-a-dia” é o seu carácter iccional. Porém, esse conceito também é questionável, uma vez que temos diversas manifestações textuais que podem ser consideradas literatura, como por exemplo, livros escritos baseados em acontecimentos reais, como é o caso do livro A sangue frio, do escritor e jornalista norteamericano Truman Capote. Esse livro icou conhecido como pertencente a um género intitulado “jornalismo literário”, pois Capote acompanhou pessoalmente o desenrolar do caso registrou os fatos presenciados e os depoimentos das testemunhas em forma de romance. Nele, o autor se baseia em um evento não iccional para produzir um romance no estilo jornalístico, porém, permeado de subjectividade e de literariedade.
O mesmo acontece com o livro Os Sertões, do brasileiro Euclides da Cunha. Considerado um clássico da literatura brasileira, seu relato acerca do conflito em Canudos é preciso, porém, o texto literário deve- se ao estilo narrativo de Euclides, recheado de elementos do género, e segue sendo estudado nas