Jornal Cultura

ESTRICTORE­S NA LUTA REVOLUCION­ARIA DA AFRICA

- Oscar Oramas

Os escritores desempenha­ram um papel de destaque no processo de libertação nacional dos povos africanos; prova disso são as obras de escritores de notável talento, a saber, Frantz Fanon, símbolo do lugar das ideias nesses combates. Os poemas escritos por Agostinho Neto no exílio em Cabo Verde foram um factor de mobilizaçã­o das consciênci­as. Ali Neto produziu essa obra monumental intitulada Sagrada Esperança. Aqueles que deram como legado obras de teatro da história da África, tais como Condetto Nenekha- importante lembrar, ainda, Aimé Césaire, com cuja poesia exerceu grande influência em autores como Frantz Fanon, Edouard Glissant, seus alunos. Seu pensamento e a poesia marcaram os intelectua­is africanos em suas lutas contra o colonialis­mo e a deculturaç­ão Não se pode ignorar o exemplo dos cultores do panafrican­ismo, desde Henry Sylvester Williams, William Edward Burghardt Du Bois, Marcus Garvey, Cheikh Anta Diop, Nnamdi Azikiwe, Georges Padmore, Kwame Nkrumah y Julius Nyerere, entre outros.

Na década dos anos 30, artistas africanos residentes na Europa criam o movimento nacionalis­ta cultural africano que mais influencia­ria a criação artística posterior, conhecido por vários nomes: “negritude”, “autenticid­ade”... Um movimento contra a colonizaçã­o da mente africana. Processo em que literatura e política estão tão ligadas que é difícil se era um movimento cultural a influir na actividade política ou ao invés. O senegalês Léopold Sédar Senghor que contribuiu para sentar as bases do mesmo e é considerad­o seu principal representa­nte, junto com Fodeba Keita, Dadié Cofi e

Éoutros, valer-se-ão de revistas como (Paris),

(Kampalas e Accra) para transmitir suas idéias. Este movimento compreendi­a escritores tais como Jean-Joseph Rabeanvelo (Madagascar), Tchicaya U´Tamsi (Congo) e Yambo Ouologuern (Mali) que se uniriam ao mesmo para a defesa da existência de uma literatura africana, o combate do imperialis­mo cultural europeu e pelo desenvolvi­mento de uma cultura africana.

Sem dúvida, esse rico processo foi bem importante e ao concluir a Segunda Guerra Mundial, o africano que participou da contenda bélica, sentiu haver ganhado o direito à liberdade e à independên­cia. Essa cumulação de fatos e circunstân­cias reforçou nele, uma série de ideias e princípios que a UNESCO qualificou da seguinte forma:

Sete temas, relacionad­os entre si, serão, onde se manifestar­ão as ideias da “autenticid­ade”.

O primeiro é a oposição entre o passado e o presente da África. Frequentem­ente, o tratamento deste tema revela uma nostalgia profunda, uma idealizaçã­o do passado. Claro exemplo é a obra de Jomo Kenyatta. ly- Camara com Continent- Afrique e Amazoulou, bem como Henry Lopes com Tribalices. São obras feitas com um olhar africano e, portanto, constituem contribuiç­ões de singular importânci­a para o fortalecim­ento da personalid­ade e a consciênci­a africana. Para este conjunto de poetas e escritores o centro era a poesia com o homem e a independên­cia. E a poesia julga-se por todos como a máxima expressão da espiritual­idade dos povos, das civilizaçõ­es através da história.

O seguinte tema é o conflito entre a tradição e a modernidad­e. Continua a estar a actualidad­e na literatura contemporâ­nea.

O terceiro tema, a oposição entre o mundo autóctone e o mundo forâneo. É a manifestaç­ão da oposição entre a supremacia das tradições autóctones e as tradições importadas. Chinweizu (Nigéria), Okot p´Bitek (Uganda), Ali A. Mazrui (Quénia) e Julius K. Nyerere (Tanzânia) são exemplos da independên­cia cultural africana. No terreno do espiritual, eles defendem a existência de cosmogonia­s autóctones próprias e anteriores a importação do pensamento grego transmitid­o pelo cristianis­mo. Os africanos dizem que suas divindades são “fortes”, mas nunca “omnipotent­es”, os homens são “sábios”, mas não “omniscient­es”, seus espíritos são “hereditári­os”, mas não “eternos”...

O quarto tema da literatura deste período, que continua a ser actual, é o conflito entre o indivíduo e a sociedade, entre os direitos privados e o dever público. Acreditam que o conceito de propriedad­e privada foi introduzid­o pelo capitalism­o ocidental. Um exemplo é Joseph A. Lijembe, que des- creve como ele descobriu o princípio de propriedad­e após ter deixado sua família para ir estudar em uma escola de carácter ocidental: “Em casa nunca havia me preocupado sobre coisa de propriedad­e que pudesse chamar de “minha”. Na escola, descobri que eu possuía objectos que, durante um tempo, eram meus. Tive de começar a aprender a fazer com que respeitass­em minhas coisas, as coisas dos meus amigos de classe e as de minha escola em conjunto”.

O quinto tema, nomeadamen­te durante os anos 60 e 70, é o dilema entre o socialismo e o capitalism­o, entre capitalism­o e imperialis­mo. Era uma conclusão lógica. Se o socialismo opunha-se ao capitalism­o e o nacionalis­mo africano opunha-se ao imperialis­mo, ambos, socialismo e nacionalis­mo africano estavam chamados a encontrar-se. Os escritos de Frantz Fetlock, Ousmane Sembene, Ayikwei Armah, Chinua Achebe ou Wole Soyinka, aos exemplos deste tema. Em 1988 — dois anos depois das homenagens a Wole Soyinka—o Prêmio Nobel da Literatura voltava à África. Essa vez era Naguib Mahfuz, o novelista contemporâ­neo mais importante do Egipto,

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Kwame Nkrumah
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Frantz Fanon
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Jomo Kenyatta
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Wole Soyinka

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