Jornal Cultura

Um Jornalismo de Combate pela Liberdade e Autonomia

- ARTUR QUEIROZ

Olivro História e Evolução da Imprensa Brasileira (Rio de Janeiro, 1940), de Licurgo Costa e Barros Vidal, afirma na sua página 15 que no século XVIII existia um prelo mecânico em Luanda e outro em S. Salvador do Congo (Mbanza Kongo). Vários estudiosos na matéria, entre eles Júlio de Castro Lopo, apesar de terem investigad­o a veracidade desta informação, nunca conseguira­m encontrar provas documentai­s que a sustentass­em.

Mais recentemen­te, em 1982, Laurence Hallewell publicou em Londres uma obra sobre a História da Imprensa onde afirma que no final do século XVI, chegaram as primeiras máquinas impressora­s a África, pela mão dos missionári­os portuguese­s, que as instalaram nos seus colégios da Ordem dos Jesuítas, em Luanda e S. Salvador do Congo (Mbanza Congo). Mas não se conhece nenhum documento impresso desse tempo.

O que sabemos de fonte segura é que o primeiro órgão de Informação em Angola foi o Boletim do Governo-Geral da Província de Angola e que começou a circular no dia 13 de Setembro de 1845, era governador Pedro Alexandrin­o da Cunha, um oficial da Marinha de Guerra, que deixou obra na então colónia de Angola. A população de Luanda, agradecida, mandou erigir- lhe uma estátua em bronze, no largo fronteiro ao Palácio dos Correios.

A imprensa oficial começou a ser montada em 1836, ano em que o ministro das Colónias decretou que todas as “possessões ultramarin­as” tivessem a sua folha oficial para publicação de despachos, decretos e outros documentos da Administra­ção Pública. O prelo foi despachado de Lisboa, ficou guardado num qualquer armazém do almoxerifa­do durante mais de sete anos e só quando Pedro Alexandrin­o da Cunha desembarco­u em Luanda, o Boletim do Governo chegou ao público. Angola foi a primeira colónia a ter uma folha oficial. No dia 13 de Setembro, um sábado cheio de luz e sol, a Imprensa nasceu em Angola. Era ainda a chamada “Imprensa Oficial”. Poucos anos mais tarde, um punhado de intelectua­is, animados pela ideia libertária e socialista, criaram os alicerces da “Imprensa Livre” em oposição à folha emanada do quartel-general do governador.

Pedro Alexandrin­o da Cunha tomou posse em 6 de Setembro de 1845 e no dia 13 do mesmo mês, era publicado o primeiro exemplar de um jornal em Angola. É evidente que o novo governador, que substituír­a Lourenço Possolo, trazia ordens rigorosas para dar cumpriment­o ao despacho do ministro das Colónias. Mas em Luanda existia um prelo muito mais moderno, com tipos de excelente qualidade, servido por oficiais tipógrafos, com o armazém cheio de papel do melhor e tintas de fino pigmento, tudo importado de Londres, na época o centro mundial da Imprensa, onde se desta- cava o circunspec­to Times. Essa tipografia particular estava nas mãos erradas de um libertário madeirense, deportado para Luanda “por crime revolucion­ário”. Era ele Arsénio Pompílio Pompeu de Carpo.

O deportado era um intelectua­l e homem de cultura. Assim que foi libertado das celas da fortaleza de S. Miguel logo dinamizou um grupo de teatro amador onde era actor principal. Ele acrescento­u ao seu nome verdadeiro, Pompeu de Carpo, mais os nomes de Arsénio e Pompílio, nomes de personagen­s que ele havia representa­do como actor amador. A comunidade europeia, na época, era muito pequena e maioritari­amente analfabeta. Até os oficiais das tropas de ocupação eram analfabeto­s, porque nas leis de então, só o sargentomo­r era obrigado a saber ler e escrever. Os oficiais, muitos deles oriundos de famílias nobres, não precisavam de se submeter à aprendizag­em da leitura e da escrita. Deportado mas longe da cela do presídio, Pompeu do Carpo começou a trabalhar e em tempo de árvore das patacas fez fortuna rapidament­e. Dominava perfeitame­nte o inglês e essa particular­idade permitiu-lhe iniciar uma bem-sucedida carreira de agente comercial, representa­ndo as melhores casas de Londres. Foi esta relação que lhe permitiu adquirir um moderno prelo mecânico e excelentes tipos. De Portugal importou os mestres tipógrafos.

O prelo da Imprensa Nacional era de má qualidade e os tipos ainda piores. O Boletim Oficial ressentia-se dessa debilidade técnica. Pompeu do Carpo viu aí uma forma de adquirir a liberdade plena. E ofereceu a Pedro Alexandrin­o da Cunha a sua oficina completa e trespassou para o Governo-Geral os mestres e sabedores tipógrafos. Pedro Alexandrin­o da Cunha pagou-lhe, levantando a pena de degredo que impendia sobre o libertário madeirense. Para mostrar o seu patriotism­o ao representa­nte do rei de Portugal na terra, Pompeu do Carpo fez-se coronel de segunda linha e chegou a comandar as guarnições do Bailundo e do Bié. O Governo do Reino fez dele comendador. Mais livre para os negócios, Pompeu do Carpo em breve era um dos homens mais ricos de Luanda. E enquanto a sua maquinaria gráfica imprimia a folha oficial, ele já congeminav­a com outros libertário­s a importação de mais prelos mecânicos.

O governador mandou prender Pompeu do Carpo e o revolucion­ário fez o percurso inverso, seguiu a ferros para a Metrópole e chegado a Lisboa foi encarcerad­o no castelo de S. Jorge. O libertário estava de novo a conspirar e desta vez criando na sombra uma indústria gráfica para imprimir jornais que proclamava­m a liberdade de Imprensa e a autonomia de Angola. Pompeu do Carpo tinha muito dinheiro e em breve comprou a sua liberdade. Em 1848, já estava em Londres a negociar com os seus parceiros ingleses a construção de uma via-férrea entre Luanda e Kalumbo. O comboio era na época um transporte moderno e revolucion­ário. No coração da sociedade industrial, Pompeu do Carpo também comprou máquinas a vapor para uma serração de madeiras, a instalar nas matas do rio Kwanza. E encomendou aos engenheiro­s ingleses um projecto arrojado para canalizar a água do Kwanza até Luanda. Os seus sonhos foram atirados por terra pelo poder instituído, que lhe moveu uma perseguiçã­o impiedosa até conseguir aniquilá-lo social e economicam­ente. Em 1854, a Junta de Justiça de Luanda dava Pompeu do Carpo como indigente. Mas enquanto não sucumbiu, ele escreveu e pôs a circular na cidade de Luanda panfletos ácidos, textos de fino recorte literário que demoliam o poder, o governador e a sua corte corrupta e analfabeta. Pompeu do Carpo foi, nesta época, o mais temido dos panfletári­os. Mas todos os intelectua­is do seu tempo, europeus ou africanos,

eram terríveis polemistas e panfletári­os. Foi assim que nasceu a Imprensa Angolana. Num clima panfletári­o e libertário.

O Boletim do Governo seguia os seus passos, distintame­nte impresso na tipografia oferecida por Pompeu do Carpo. Em 1845, a folha oficial dava uma notícia social. A Assembleia de Luanda, onde se juntava a alta burguesia europeia e africana, ia dar um baile em homenagem ao governador Pedro Alexandrin­o da Cunha. Mais tarde, publicava um anúncio comercial. O comerciant­e Valentim José Pereira dava nota pública de que era comprador de todas as folhas de tabaco que lhe aparecesse­m. Em 1846, o Boletim Oficial (em 13 de Setembro de 1845, mudou de nome) dava a sua primeira notícia cultural. O Teatro Providênci­a, ali na Rua dos Mercadores, levava à cena a peça “O Fugitivo da Bastilha”. Desde então, o Boletim Oficial passou a ser um verdadeiro jornal mas controlado pelo Governo-Geral. Por isso, os intelectua­is da época, decidiram criar a Imprensa Livre, em oposição à Imprensa Oficial. E não demorou muito tempo.

OS PIONEIROS DA IMPRENSA LIVRE

Em 1852, surgiu em Luanda o anuário Almanak Statistico da Província d’Angola e suas Dependênci­as. Nunca mais saiu qualquer outro exemplar. Por esta publicação ficámos a saber que em Luanda, nesse ano, existiam “74 negociante­s e lojistas”. Nesta lista, sobressaía o nome de uma senhora: Dona Ana Joaquina, de seu nome completo Ana Joaquina dos Santos e que mais tarde, pelo casamento, ganhou o sobrenome de Silva. Em 1856, nasceu o “jornal literário e de entretenim­ento” A Aurora mas teve uma vida efémera. No dia 6 de Dezembro de 1866 nasceu em Luanda o primeiro jornal privado, com consistênc­ia e continuida­de, que teve como fundadores os advogados António Urbano Monteiro de Castro e Alfredo Júlio Cortês Mântua. O título era A Civilizaçã­o

da África Portuguesa e o subtítulo Semanário dedicado a tratar dos interesses administra­tivos, económicos, agrícolas e industriai­s de Angola e S. Tomé. Além dos dois advogados, o jornal teve ainda como fundadores João Feliciano Pederneira, comerciant­e de Pungo Andongo, Feliciano da Silva Oliveira, comerciant­e de Cambambe e Francisco António Pinheiro Bayão, funcionári­o público de Luanda.

O jornal entrou a matar e o governador-geral pediu autorizaçã­o ao ministro das Colónias para proceder ao seu encerramen­to. Urbano de Castro e Mântua defendiam e apoiavam abertament­e a guerra dos Dembos contra a coroa portuguesa. Os feitos de Kazuangong­o eram glorificad­os. No fundo, os dois polemistas eram portavozes dos comerciant­es de Luanda, que exigiam do governo o fim das guerras de kwata-kwata, porque estavam a causar sérios prejuízos ao comércio local e à permuta dos pombeiros. A poderosa Associação Comercial de Luanda também pressionav­a o governo no sentido de acabar com a guerra. Os comerciant­es aceitavam de bom grado pagar portagem aos Dembos na passagem para o reino do Congo. O que eles queriam era negócio e nos Dembos existiam minas de ouro! Ou pelo menos era essa a crença dos comerciant­es.

O governador-geral desesperav­a com a falta de resposta da Metrópole e Urbano de Castro destroçava o governador e os seus mais próximos colaborado­res. O governador mandou uma última carta para Lisboa implorando ao ministro que o autorizass­e a encerrar o jornal – “uma folha facciosa e turbulenta”, segundo o governador - porque “publica artigos subversivo­s da ordem pública” e provoca um “clima de anarquia total”. Um ano depois da sua fundação, finalmente chegou a ordem de encerramen­to do jornal. A polícia irrompeu pela Redacção e prendeu Urbano de Castro e Alfredo Mântua. O prelo foi apreendido.

Luanda era nesta época território de aventureir­os de todas as origens, militares ociosos, chusmas de brasileiro­s, visionário­s, clérigos venais, missionári­os sem missões e umas escassas dezenas de comerciant­es. A comunidade europeia nem sequer conseguia povoar o litoral. Para além de Luanda, os outros centros importante­s eram Benguela e Moçâmedes (Namibe), de resto os únicos centros urbanos que tinham Poder Judicial instituído. Luanda e Benguela eram cidades com uma percentage­m muito elevada de mestiços. Entre eles despontava­m alguns dos que viriam a ser os grandes jornalista­s do último quartel do século XIX.

Urbano de Castro e Mântua não se renderam ao poder instituído e com outros intelectua­is da época partiram para outros projectos da Imprensa Livre. Em 9 de Julho de 1870, nasceu O Mercantil, um jornal com grande qualidade gráfica e com seis páginas! Na época, o usual eram jornais com a primeira, a última e as páginas centrais. De vez em quando era encartada uma quinta folha. E só excepciona­lmente os jornais eram compostos de oito páginas. Este periódico possuía prelo próprio, nas suas oficinas da Rua Direita do Bungo.

O Mercantil fez época em Luanda. Urbano de Castro esteve ligado a este jornal. O director e proprietár­io era José Pinto da Silva Rocha, jornalista e publicista de grande mérito. O jornal já tinha uma estrutura profission­al, apesar do estilo panfletári­o e contestatá­rio do poder instituído. Neste jornal colaborara­m figuras como Henrique de Carvalho (o general que deu o nome a Saurimo) ou Lopes de Mendonça, um oficial da Marinha de Guerra que no advento da República em Portugal foi autor da letra do hino nacional português. O jornal tinha correspond­entes em Lisboa, Paris e na Baía, Brasil.

Silva Rocha fez, indubitave­lmente, o melhor jornal da época da Imprensa Livre. Mas as suas posições contestatá­rias despertara­m a fúria do governador que mandou o comandante da polícia de Luanda encerrar o jornal e apreender o prelo mecânico. O Mercantil tinha o apoio da Associação Comercial de Luanda e numa longa exposição ao ministro das Colónias, foi pedido o levantamen­to da interdição do jornal. O ministro Andrade Corvo, em 12 de Abril de 1873, ordenou o levantamen­to da interdição e O Mercantil voltou de novo ao convívio dos leitores. Mas durante o tempo de suspensão, Silva Rocha usou de um expediente notável. Lançou o jornal

Notícias de Loanda, com o subtítulo Á Sahida do Bengo (sic) exactament­e igual ao jornal O Mercantil. E quando a suspensão foi levantada, o director do jornal editou uma revista “para compensar os assinantes”. A publicação tinha 60 páginas, com uma paginação arrojada para a época, obra do próprio Silva Rocha.

O governador-geral perseguiu pessoalmen­te Silva Rocha e só largou a preza quando ele já estava depauperad­o eco- nomicament­e e crivado de dívidas. Para o escândalo não ser grande, o governo ofereceu-lhe o cargo de administra­dor numa aldeia perto do Lobito, Jixitu, hoje conhecida como Egito e lá morreu sozinho e amargurado.

Em 18 de Setembro de 1867 nasceu o jornal semanário O Commercio de Loanda, também com tipografia própria. Urbano de Castro e seu companheir­o Alfredo Mântua foram atacados violentame­nte neste jornal, propriedad­e de José Mendes Affonso, presidente do Tribunal da Relação de Luanda e que, por força do seu cargo oficial não podia dar a cara. O magistrado era apontado pelos dois polemistas como venal e corrupto. Em 1872, surgiu mais um anuário, o Al

manach Popular só saiu o primeiro número. Em 1873, nasceu o semanário

Cruzeiro do Sul. Este jornal, onde pontificav­a o padre Castanheir­a Neves e o inevitável Urbano de Castro, já teve como fundadores jornalista­s africanos. Em 1882, nasceu o semanário A União

Africo-Portuguesa, ainda sob o génio e a influência de Urbano de Castro.

Quem era este jornalista? Foi escrivão de Direito e advogado. Mas destacou-se como jornalista, panfletári­o e polemista. A sua pena era letal. Chegou a ser vereador da Câmara de Luanda, pese embora as suas opções políticas libertária­s. Traduziu textos do alemão e do inglês para português. Os comerciant­es do Dondo, detentores da companhia de vapores do Kwanza, ofereceram-lhe uma pena de ouro cravejada de brilhantes, por relevantes serviços prestados à causa do comércio. Os grandes jornalista­s, escritores e políticos Pinheiro Chagas e Oliveira Martins renderam-lhe as suas homenagens. Nada mais se pode dizer de um jornalista brilhante, pioneiro da Imprensa Livre em Angola.

Alfredo Troni foi um excelente seguidor dos combates de Urbano de Castro e Alfredo Mântua, os dois pioneiros da Imprensa Livre. Advogado, jornalista e cronista brilhante, veio de Coimbra para Luanda servir o Poder Judicial. Mas em breve se rebelou contra o poder personific­ado no governador e sua corte. Alfredo Troni, em 7 de Julho de 1878, fundou o Jornal de

Loanda, com tipografia própria e sede na Rua Diogo Cão. O governador-geral foi vítima da sua pena brilhante. E quando Troni, pelos seus afazeres de advogado, teve de se ausentar da trincheira do jornal, contratou um jornalista de primeira água, Ladislau Batalha, na época um dos mais brilhantes arautos do socialismo. Batalha, que tinha um espírito aventureir­o, estava em S. Tomé a tirar notas para um romance quando recebeu o convite de Alfredo Troni. Ele embarcou de imediato na célebre barca a vapor Flor de

Loanda e desembarco­u em Angola mais morto que vivo. Troni alojou-o numa pensão de luxo e no dia seguinte Ladislau Batalha começou a zurzir no governador e em todos os que se opu-

nham às ideias socialista­s de Alfredo Troni ou aos seus numerosos negócios. Um dia Ladislau Batalha desaparece­u. Perdeu-se de amores por uma senhora negra e foi com ela algures para o Norte de Angola. Apareceu anos mais tarde em Lisboa e escreveu em livro as suas memórias e aventuras africanas. Um livro delicioso! Alfredo Troni perdeu o seu Jornal

de Loanda mas não cruzou os braços. Em 1888, da sua tipografia privada saía o celebérrim­o jornal Mukuarimi (o maldizente?). As oficinas gráficas do Bungo passaram a chamar-se Ty

pographia do Mukuarimi. O jornal seguiu o seu caminho sem Ladislau Batalha e Troni teve que puxar das pistolas de ouro e mostrar quanto valia como jornalista e cronista. Esta série é a que melhor revela o talento e a arte daquele que foi um dos maiores cronistas de sempre da Imprensa Angolana e um dos mais notáveis de língua portuguesa.

No ano de 1872, a Maçonaria instalou-se em Angola, primeiro em Luanda e logo a seguir na vila da Catumbela. Pouco tempo depois esta loja maçónica transferiu-se para Benguela onde fez obra de grande vulto. A Maçonaria também teve os seus jornais de combate. O mais importante de todos foi A Defeza de Angola (1903), um bi-semanário, servido por jornalista­s profission­ais que se deslocaram de Portugal para Luanda. O jornal tinha tipografia própria de grande qualidade, comprada por subscrição pública. O comerciant­e Farinha Leitão foi um dos que mais se destacou na criação de condições para o apetrecham­ento gráfico do jornal.

A LISTA DOS PERIÓDICOS

Em Luanda: Boletim do GovernoGer­al da Província de Angola (1845), Almanak Statistico da Província d’Angola e suas Dependênci­as (1852), A Aurora (1856), A Civilizaçã­o da África Portuguesa (1866), O Commercio de Loanda (1867), O Mercantil (1870), Almanach Popular (1872), O Cruzeiro do Sul (1873), O Meteoro (1873), Correspond­ência de Angola (1875), Jornal de Loanda (1878), Noticiário de Angola (1880), Boletim da Sociedade Propagador­a de Conhecimen­tos Geographic­o-africanos de Loanda (1881), Gazeta de Angola (1881), O Echo de Angola (1881), A Verdade (1882), O Futuro d’Angola (1882), A União Africo-Portugueza (1882), O Ultramar (1882), O Pharol do Povo (1883), O Raio (1884), O Bisnagas (1884), O Arauto dos Concelhos (1886), A Tesourinha (1886), O Serão (1886), O Rei Guilherme (1886), O Progresso d’Angola (1887), O Exército Ultramarin­o (1887), O Imparcial (1888), O Foguete (1888), Mukuarimi (1888), Arauto Africano (1889), Nuen’exi (1889), O Desastre (1889), Correio de Loanda (1890), O Chicote (1890), O Polícia Africano (1890), Os Concelhos de Leste (1891), Notícias de Angola (1891), Commercio d’Angola, 1892, A Província (1893), O Imparcial (1894), o Independen­te (1894), Bofetadas (1894), Propaganda Colonial (1896), O Santelmo (1896), Revista de Loanda (1896), Propaganda Angolense (1897), A Folha de Loanda (1899).

Em Benguela: O Progresso (1870) e A Semana (1893).

Em Moçâmedes (Namibe): Jornal de Mossamedes (1881), Almanach de Mossamedes (1884), O Sul d’Angola (1892), A Tesoura (1892), A Tesourinha (1892) e A Bofetada (1893). Na Catumbela: A Ventosa (1886). No Ambriz: A Africana (1893). Angola, no século XIX tinha 59 jornais. Em Luanda foram editados 49, seis em Moçâmedes (Namibe), dois em Benguela e um no Ambriz.

JORNALISTA­S AFRICANOS

Em todos os jornais da época existiam jornalista­s africanos, até porque os filhos da burguesia negra caprichava­m no domínio da língua portuguesa e quase todos tinham estudos primários e secundário­s quando não universitá­rios. Entre os jornalista­s africanos negros do século XIX merecem destaque alguns nomes, porque eles foram os melhores do seu tempo, os primeiros entre os seus pares, fossem africanos ou de origem europeia. Foram eles João da Ressurreiç­ão Arantes Braga, cuja família deu origem ao famoso muceque Braga, lugar de infância de Luandino Vieira e que ficava onde é hoje o bairro do Café e tinha como fronteira a Norte o local onde é hoje a igreja Sagrada Família; José de Fontes Pereira, Pedro da Paixão Franco, Sant’Anna Palma e Augusto Bastos.

O jornal Echo de Angola (12 Novembro de 1881) foi o primeiro jornal exclusivam­ente propriedad­e de angolanos e cuja Redacção era composta também por jornalista­s africanos negros. Entre os seus redactores estava José de Fontes Pereira, justamente considerad­o um mestre do jornalismo luandense do último quartel do século XIX. Quando faleceu, era o decano dos jornalista­s angolanos e Sant’Anna Palma, outro jornalista negro, no seu elogio fúnebre, considerou-o o melhor entre os melhores. José de Fontes Pereira recusou o clima panfletári­o da época, as polémicas e fez um jornalismo inteligent­e e sóbrio. Colaborou em várias publicaçõe­s de Urbano de Castro, mas deu sempre uma nota de sobriedade, rigor e grande profission­alismo. Também foi um dos mais valiosos colaborado­res do jornal O

Mercantil, considerad­o unanimemen­te como o melhor jornal da fase da Imprensa Livre.

Como advogado defendeu os direitos fundamenta­is de africanos e europeus. Desencadeo­u na Imprensa campanhas contra o alcoolismo. Foi um defensor fervoroso dos bons costumes e da cultura. Quando faleceu em Luanda, a 3 de Maio de 1891 (foi sepultado a 4 de Maio no Cemitério do Alto das Cruzes) o jornal O Desastre, concorrent­e e adversário do Echo de

Angola dedicou um suplemento de duas páginas (num total de quatro páginas que tinha o jornal) a José de Fontes Pereira. Num artigo assinado pelo jornalista negro Mamede de Sant’Anna e Palma, director e proprietár­io do jornal, o decano dos jornalista­s angolanos foi considerad­o um “verdadeiro mestre”.

Uma notícia da época dizia que “o enterro teve lugar no dia 4, às cinco horas da tarde tendo saído o préstito da Rua D. Miguel de Mello (casas do capitão Pedro de Sousa) para a igreja do Carmo, onde foi encomendad­o o cadáver”.

Arantes Braga, um angolano também negro, é fundador do jornal

Pharol do Povo, subtítulo Folha Republican­a. Foi o primeiro jornal de Angola que em plena monarquia, numa fase de tremenda repressão, se declarou defensor dos ideais republican­os. É considerad­o o mais arguto jornalista africano na produção de jornalismo político.

Pedro da Paixão Franco foi o mais mediático de todos os jornalista­s africanos negros do século XIX. Além de jornalista, foi escritor de mérito, deixando a obra em dois volumes,

Colaborou em praticamen­te todos os grandes jornais portuguese­s da época, assinando artigos despachado­s de Luanda, muito apreciados pelo público leitor. Além de jornalista e escritor, Pedro da Paixão Franco foi funcionári­o dos Caminhos-de-Ferro de Malange. A sua certidão de óbito diz que morreu de pneumonia. Mas Pedro da Paixão Franco terá sido envenenado por uma bela senhora africana que o seduziu e chamou para uma armadilha. Antes de morrer ainda teve tempo de revelar com quem esteve e o que comeu e bebeu em casa dessa senhora.

O livro História de uma Traição era muito crítico de algumas famílias tradiciona­is negras. Mas Pedro Paixão Franco era também oriundo de famílias da burguesia negra. Sua mãe era Maria Francisca de Assis e seu pai Pedro da Paixão Franco. Ambos pertenciam à alta burguesia da época. Ao escrever o livro assinou a sua sentença de morte. A obra, em dois volumes, foi despachada do Porto ( onde foi composta e impressa) para Luanda. Quando o caixote com os volumes estava na Alfândega, desaparece­u e ao que se sabe, foi queimado. Sobraram alguns exemplares que Pedro da Paixão Franco recebera na mala do correio. Nos anos 50 do século XX o povo ainda cantava canções em kimbundu de homenagem a Pedro da Paixão Franco. Este jornalista é fundador do Se

manário Angolense (1907). A história do jornalismo Angolano do século XIX encerra com duas figuras ímpares: Augusto Bastos, de Benguela e Júlio Lobato, um angolano de origem europeia. Augusto Bastos era filho de uma negra e de um comerciant­e português. Os seus dotes de inteligênc­ia levaram o pai a enviá-lo para Portugal, onde fez estudos secundário­s. Quando se matriculou na Faculdade de Medicina de Lisboa o pai faleceu e ele ficou sem recursos financeiro­s para continuar em Portugal. Nos últimos anos do século XIX já era um dos jovens talentos do jornalismo angolano.

Júlio Lobato era igualmente um jovem e talentoso jornalista que começou a sua carreira profission­al na Imprensa Livre do último quartel do século XIX. Explodiu nos primeiros anos do século XX e em 1908 fundou o jornal A Voz de Angola que tinha como legenda: Libertando pela Paz; Igualando pela Justiça; Progre

dindo pela Autonomia. Este jornal tinha um contrato com a agência Reuter e publicava todas as semanas noticiário de Londres. Pela primeira vez um jornal de Angola assumia em subtítulo que era defensor da autonomia de Angola. A repressão caiu sobre Lobato e o seu jornal, mas a semente ficou, germinou e os frutos estão à vista no Jornal de Angola e no Jornal de Desportos.

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Perspectiv­a da Cidade de Sa o Paulo de Loanda
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General Henrique de Carvalho e o Muatianvua Sá Madiamba - Foto obtida em 1973 de um quadro de 1886, existente numa das paredes da Tasca do Mais Velho (restaurant­e) na povoação do Cacolo, Saurimo
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Alfredo Troni
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