Solidariedade: a permanente Utopia da geração dos Estudantes do Império
JOSÉ LUÍS MENDONÇA
“Foram anos de descoberta da terra ausente. E dos seus anseios de mudança. Conversas na Casa dos Estudantes do Império, onde se reunia a juventude vinda de África. Conferências e palestras sobre a realidade das colónias. As primeiras leituras de poemas e contos que apontavam para uma ordem diferente. E ali, no centro mesmo do império, Sara descobria a sua diferença cultural em relação aos portugueses” (Pepetela, 1992, A geração da utopia, p. 13). Da consciência de ser culturalmente diferente para a consciência política da necessidade de sonhar uma nova ordem mundial anti-colonial e uma sociedade mais justa, foi um passo decisivo tomado pelos associados da então Casa dos Estudantes do Império (CEI, 19441965) “criada com o beneplácito do Estado Novo, como instituição de enquadramento dos jovens universitários oriundos das colónias portuguesas a estudar em Portugal”. No passado dia 28 de Outubro, no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra, Pepetela, autor da obra que ficciona as conversas e lutas desses jovens estudantes, e que também foi um dos personagens reais da Utopia Africana, reviveu essa saga, na homenagem à Casa dos Estudantes do Império, promovida pela UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa. Será que Pepetela e os seus correligionários, hoje já na idade da sabedoria, puderam, ali na mais antiga universidade portuguesa, realizar que medida dos seus ideais não foi mera Utopia?
Na cerimónia inaugural, Victor Ramalho, Secretário-Geral da UCCLA, considerou que “os jovens que então vieram estudar, porque não havia universidades nos territórios colonizados em África, tiveram um papel importantíssimo na vida de todos nós.” Para aquele responsável da UCCLA, “seria verdadeiramente indesculpável, se nós não erguêssemos esta memória. Uma memória solidária, afectiva, uma memória que também irmanou o povo português – é útil que se diga, é necessário que se afirme. Porque esses jovens que saíram foram os precursores da CPLP, quando criaram a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas – CONCP.”
Mais adiante, Victor Ramalho constatou como a roda da História Universal originou, através do Encontro de Civilizações, “novos países” e, em cada um desses países, “a fronteira do Mundo. Porque somos todos países que abrem as portas do mar aos continentes. Ao continente africano, com Angola, Moçambique, num caso no Índico, noutro no Atlântico, mas também em S. Tomé e Príncipe e em Cabo Verde (verdadeiros porta-aviões), mas também aqui em Portugal, o país mais próximo das Américas, do ponto de vista da relação marítima e porta de entrada, por isso, das Américas, mas também em Timor-Leste, mas também obviamente em Macau.”