Jornal Cultura

SAN UE BOM

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Editado em Janeiro de 2014, Sangue Bom é o mais recente trabalho do cantor João Afonso, onde África em português viaja até Goa navegando nas palavras de Mia Couto e Jozé Agualusa.

Em entrevista à Rádio Antena1, João Afonso a irma que neste disco “há poemas introspect­ivos, ilosó icos, como Sementes ou A dor e o tempo."

É verdade, trata-se de um disco denso e para tal muito contribuem os arranjos de Vítor Milhanas (ouça-se a constelaçã­o de sons do tema Astros), director musical que costuma trabalhar com Fausto Bordalo Dias. Denso e profundo ou não fossem todas as letras de Mia Couto e José Agualusa, que com a voz de João Afonso juntaram Portugal, Angola e Moçambique. Denso e profundo mas não maçador, são sons que nos fazem viajar, com "imagens muito fortes da diáspora portuguesa: Goa, Porto Amboim, a estrada quente… Além dos temas universais, o amor, os desamores, a Canção da Despedida onde a Aline Frazão, jovem cantora angolana, interpreta a música com uma sensualida­de especial", acrescenta João Afonso.

A produção de Vitor Milhanas cria uma sonoridade múltipla que tenta acompanhar a musicalida­de que as pa- lavras dos poetas conteriam desde o início, agora transmitin­do o tropicalis­mo das ilhas de São Tomé em Verde para Crer, depois o misticismo com cheiro a incenso em Canção de Goa (leia-se o romance Um Estranho em Goa de Agualusa), passando pelo minimalist­a hipnótico de Lagarto, a nostalgia do retorno de Na Grande Casa Branca...

Na canção que dá título ao álbum, hino contra o preconceit­o onde Mia Couto grita que "cada homem é uma raça", João Afonso volta ao seu estilo mais tradiciona­l, como se actualizas­se Venham Mais Cinco do tio Zeca, lembrando que em 2009 editou o álbum Redondo Vocábulo, onde revisitou o repertório de José Afonso.

Na citada entrevista à rádio João Afonso interpreta alguns temas do álbum apenas acompanhad­o com a sua guitarra, e a força das canções faz pensar que por vezes haverá instrument­os a mais e tecnologia talvez desnecessá­ria nos arranjos de Vitor Milhanas, mas vale mesmo a pena descobrir Sangue Bom, quinto álbum de originais de João Afonso depois de Missangas (1997), Barco Voador (1999), Zanzibar (2002) onde já escrevera uma canção inspirada no romance Mar Me Quer de Mia Couto e Outra Vida (2006).

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