BONGA: LAVRA DE JINDUNGO CRESCEU
Existe um belo trecho da música de Bonga, “Elia wayé, kalunga nguma wa mwambata”, co-interpretado pela cantora norte-americana Tracy Chapman que faz deste grande intérprete o verdadeiro embaixador da música angolana. A sua voz de lixa iníssima, a incontornável colagem à tradição são garantias de plena originalidade na grande plantação desta arte nobre. Nos anos 70, sai o seu álbum Angola 72 que o lança poderosamente na world music. Daí até Bairro, o último trabalho do cantor, produziu 38 CDs e umas 5 centenas de canções. A sua música inclui canto de intervenção contra o colonialsmo e as injustiças sociais. Inclui folclore e expressão das mágoas e alegrias do povo angolano. Um percurso que saiu do Marçal, chegou à França e retornou a Angola, já sem o cabelo à Jimmy e a barba hirsuta, agora de óculos escuros, para receber, depois do prémio Nacional de Cultura e Artes em 2010, pelos “muitos e intensos anos de vida artística permanentemente consagrados à defesa, promoção e divulgação da alma rítmica da música de Angola”, a mais alta distinção honorí ica da França no domínio da cultura.
Na verdade, no dia 10 de Dezembro, na Residência de França em Luanda, o Embaixador Jean-Claude Moyret, condecorou Bonga Kwenda ( José Adelino Barceló de Carvalho) com as insígnias de Cavaleiro na Ordem das Artes e Letras. Em França, no início dos anos 70, ele frequentou assiduamente o mundo da música em Paris, bem dinâmico na altura. A França foi o seu país de acolhimento antes da independência de Angola e Bonga mantém no país de Edith Piaf o seu coração.
A cerimónia de condecoração das insígnias das Artes e Letras desenrolou-se num ambiente muito caloroso ao ritmo da música, obviamente, mas também das danças tradicionais e dos cantos em Kimbundu, principal idioma falado na província de Luanda.
Hoje, o “Kaombo é que pica” o percurso artístico de Barceló de Carvalho. “Lavra de jindundo cresceu/ plantação virou roça”, como apregoa o génio inventivo do cantor .