Jornal Cultura

Relíquias da literatura angolana

- Norberto Costa

Vários títulos da literatura angolana, cuja primeira edição foi efectuada, no princípio da década de 50 e primeira metade dos anos 60, pela Casa dos Estudantes do Império(CEI), em Lisboa, em Portugal, nomeadamen­te, “Poemas” de Viriato da Cruz, “A fuga” de Arnaldo Santos, “Acácias Rubras” de Costa Andrade, “Amor” de Mário António”, “A cidade e a infância” de Luandino Viera, no âmbito dos festejos do 50º aniversári­o da CEI a ser celebrado no próximo ano, com encerramen­to das bodas de ouro marcado para Maio de 2015.

O título de estreia de Luandino Vieira, conta com uma nota introdutór­ia de Costa Andrade, intitulada “A abrir”, onde escreve:

“Desvaneceu-me o teu convite, meu Luandino Viera! Não se convidam indivíduos como eu para apresentar alguém, muito menos um livro. Foi decerto a amizade que te ditou a atitude e ela mesma me impõe o dever de aceder”, acrescenta­ndo que “mais forte se torna essa imposição porquanto o teu livro é uma mensagem de Amor e Fraternida­de, traz ´palavras de todos os portos do mundo, portos de todo o mundo´”.

Costa Andrade frisa que do livro “dirão os críticos o que melhor não sei dizer, poderão acusar-te de pouca segurança por vezes, falta de maturidade talvez, de vires um pouco atrasado...mas a estreia será(estou certo) auspiciosa!”, reforçando que “são tão quentes as tuas palavras. São horas que viveste, palavras que vêm do mais profundo de ti sem que as tenha ditado o sonho. Ofereceste-nos o testemunho de uma época não muito distante no tempo, mas grandement­e afastada na sucessão das imagens da nossa cidade. Os acontecime­ntos são mais velozes que o tempo. Não pára o ilme da vida.”

Costa Andrade refere ainda que “não são lagrantes já, esses painéis que expões. Os teus contos são do tempo ´batuques defronte da loja do Silva Camato (...)”, acrescenta­ndo que “Novas imposições quebraram o ritmo e a multiplici­dade dos “grandes desa ios” de então. Eram outras canções de roda em noites de luar no morro, como escreveu o poeta(...)havia mãos pretas e mãos brancas segurando o mesmo chão das Ingombotas.”

Ele pontualiza que as personagen­s Ricardo e Marina “estão agora distantes”, muito embora “sejam amigos (amigo de atresa nunca deixa de ser Amigo) vivem realidades diferentes que os conduzem talvez ao mesmo im, mas são tão opostas suas vidas, suas fomes, seus novos conhecidos, seus empregos, seus bairros, seus lares. Iguais por vezes os sonhos. Iguais decerto as recordaçõe­s.”

O prefaciado­r insiste con iante “a tua mensagem de Amor ninguém destruirá porque não há força capaz”, observando antes que foi “quando jurámos ´não mais falar da cor` de todos os homens.”

Finalmente, remata que “o teu livro, um pouco de todos nós e da terra imensa, é de uma época que as crianças de agora não vivem e muitos não entendem, mas um dia virá”.

Outra mensagem de amor pode ser captada no título de Mário António dessa colecção da CEI, poeta de que vos falaremos adiante, em obediência a uma ordem cronológic­a nada despiciend­a na periodizaç­ão literária.

Per is dos autores reeditados

Viriato da Cruz, o famoso poeta da expressão telúrica da angolanida­de, nasceu a 19 de Março de 1928, no Porto Amboim. Esta reedição traz a público os primeiros poemas da sua lavra que se lhe conhecem, á excepção de dois que vieram a público recentemen­te, no livro a si dedicado, intitulado “Viriato da Cruz- o homem e a obra”, reunindo ensaios analíticos da sua interessan­te produção poética, percurso literário e da sua atribulada trajectóri­a política...

Viriato da Cruz participou no primeiro congresso de artistas e escritores negros , em Paris, em 1956,onde fez uma comunicaçã­o intitulada... Neste mesmo ano redigiu a lápis o célebre manifesto do MPLA, com a sua letra miúda...

É secretário geral do MPLA no primeiro comité-director criado em Conacry em 1960.

Outro seu companheir­o de geração literária reeditado +e Mário António, com o t+titulo amor...

Mário António nasceu em 1934, em Maquela do Zombo, Uíge...

José Viera Mateus da Graça (Luandino) nasceu em 1936 em Furadouro, Portugal. Cedo veio com os pais para Angola. Viveu a infância a Luanda, o pano de fundo da sua obra literária, incluindo a linguagem coloquial dos musseques que o destacou como um dos maiores inovadores da literatura angolana e que lhe valeu a atribuição do prémio da SPE e levou ao encerramen­to desta última associação e consequent­emente da CEI, em 1965, dado que autor gramava no Tarrafal uma pena maior de 10 anos acusado de subversão ao estado colonial, posicionan­do-se a favor da luta clandestin­a pela libertação de Angola.

“Atento observador do meio social onde viveu, buscaria nele os temas da sua escrita. Desde muito jovem foi autor de vários contos, novelas e romances de temática luandense, a irmando-se como criador de um novo padrão literário em persona- gens e na linguagem quotidiana falada nos musseques”- lê-se na contracapa.

Tem colaboraçã­o literária dispersa em diversas publicaçõe­s, nomeadamen­te o jornal “O Estudante”, “A cultura”, no Boletim Cultural do Huambo, no diário Província de Angola (que antecedeu o Jornal de Angola) e na revista mensagem da CEI.

Foi várias vezes premiado pela qualidade da sua obra literária, destacando-se a atribuição do prémio ao conto “A vida Verdadeira de Domingos Xavier, pela Sociedade Cultural de Angola, em 1961. Seguido do prémio João Dias, da CEI, atribuído ao conto “A cidade e a infância”, em 1962. Dois anos depois o célebre livro “Luaanda”, seguido de vários prémios como da associação nacionalis­ta onde militou a Anangola (do kimbundu, os ilhos de Angola). Depois da independên­cia esteve vinculado à media e à cultura, tendo sido director da TPA e do Instituto de Angolano do Cinema. Foi o primeiro secretário-geral da UEA, tendo sido membro fundador da primeira associação surgida em Luanda depois da independên­cia. Em 2006 recusou a recepção do Prémio Camões de Literatura, por alegadas razões íntimas. Vive em Portugal desde 1992, depois das mudanças políticas operadas em 1991.

Consta entre os seus títulos mais divulgados no país e no estrangeir­o, escritos maioritari­amente no cárcere, “Vidas novas”, “Velhas estórias”, “No antigament­e na vida”, “Macadumba”, “Nós os do Makulussu”, entre outros. Mais recentemen­te deu à estampa “O rio e os guerrilhei­ros”, que retrata a luta de libertação nacional, um seu tema privilegia­do desde antanho, depois de um longo período de defeso por banda do autor, que icou trinta anos sem escrever, ou pelos menos sem publicar um livro.

Já o seu companheir­o de “Geração da cultura” ( posterior à “Geração da Mensa-

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Agostinho Neto
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Mário Pinto de Andrade
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Luandino Vieira

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