Jornal Cultura

É mentira

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Apaguem-se as luzes No erro do viver sem descobrir Que eu não sou ilho da minha Mãe!... Acorda preguiçoso são horas De lavar a loiça, o chicote cantava, Nas escotas Como escravo na tonga. Minha alegria, transforma­da Em sangria, Minha pele tatuada de cicatrizes, Hê, e de mais... Eram sempre assim todos dias Da minha vida. Morrer, era tudo que eu mais Queria. Mas... é mentira, à vontade de viver Minguém me tira. Apaguem-se as luzes, no erro do viver Sem descobrir, Que eu não sou o ilho da minha Mãe. Pra ela eu servia apenas para lavar Loiça, acarretar água, ir ao mercado Vender kissângua. Meu pai tinha-me apenas como lavador Do seu carro, e comprador do seu Cigarro. Eu sangro de ódio, porque a minha professora Era o meu outro lado oposto. Ela nunca acreditou nas minhas notas Positivas, pois é. Para ela eu não passava de um grande cabulador. Hee, e demais. Eram sempre assim todos dias da minha vida. Morrer era tudo que eu mais queria, Mas… É mentira, a vontade de viver Ninguém me tira Nasceu em mim, Uma paixão Infernal sobre Juliana, Falei com ela mas ela, nada. Não parei, insisti, Ofereci, versos de ferro com soldadura A eléctrodo, mas ela, nada. Hêê, é demais. Eram sempre assim todos dias da minha vida. Morrer era tudo que eu mais queria. Mas… é mentira, a vontade de viver, Ninguém me tira. Na aquele nascer do dia, Minha Mãe me batia, Só que eu já não acordara. Acorda preguiçoso são horas De lavar a loiça, As moscas poisaram na minha boca Eu queria dizer saiam, mas já não podia Porque eu já estava morto. Mas… é mentira, a vontade de viver Ninguém me tira. Minha mãe chorava amargament­e, Eu queria dizer, e mentira mas Já não podia porque eu já estava morto. Minha professora, meu pai, e juliana Choravam como se me amassem de verdade Eu queria dizer, e mentira mas já não podia Porque eu já estava morto. Mas… é mentira, a vontade de viver Ninguém me tira. Realizou-se o funeral, O parente principal, fez o discurso inal, Ao tentarem pegar no meu caixão, E me jogar no fundo do chão, Levantei a mão. Uns correram caíram, E bateram com o muzumbo no chão. Levantei e vi juliana olhando para mim. Como se não tivesse tempo para fugir, De tanto medo, na bermuda fez chichi. E falou tremendo, Eu… gooosto de tiii… mas… é mentira A vontade de viver, ninguém me tira.

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