CELAMAR apresenta OUTRA OPÇÃOde cerâmica colectiva
“Pretendemos revitalizar este domínio da arte, cada vez mais esquecido em Angola”, disse Marcela Costa, proprietária da galeria CELAMAR, envolta na maresia do início da Ilha de Luanda, a propósito da exposição colectiva OUTRA OPÇÃO, aberta ao público no passado dia 5 de Dezembro.
A cerâmica é a arte de trabalhar com argila criando objectos de utilidade para a vida quotidiana. A cerâmica artística não sendo uma arte desconhecida, distingue-se da cerâmica industrial, pela beleza aliada à utilidade prática. Com esta exposição, o público teve o privilégio de ter em Luanda artistas dedicados e que têm dado o melhor de si, “artistas experientes que resolveram apostar na promoção dos seus trabalhos e no desenvolvimento de todas as formas de artes plásticas, passando o testemunho aos mais no- vos que serão o pulmão e o renascer de todas as esperanças perante os desa ios do amanhã”, lê-se no pan leto mural descritivo.
São 9 ceramistas, Eric, Keto, Varela, Kavunuaku, Orlando Lopes, Coquenão, Nkongo, Cirilo e Chad, cujo alvo é trabalhar “para construir uma história, criar uma herança de que a futura se geração se orgulhará”.
Os artistas que a Galeria CELAMAR apresenta em OUTRA OPÇÃO, possuem atrás de si uma carreira internacional marcada pela vivência e sobretudo pelos atalhos que conduziram ao entendimento entre o desenho e a argila.
Henrique Ngundu (Eric) con idenciou à reportagem do jornal Cultura que, desde muito cedo, já na escola primária gostava muito de desenhar, e mesmo em casa, o que mais gostava de fazer era traçar formas e pintá-las. O seu pai descobriu essa veia artística e matriculou-o numa escola de belas artes. Foi nesta escola que aprendeu a trabalhar a argila, a enforná-la e fazer sair do forno peças sublimes, como as que ali na CELAMAR nos deu gosto ver.
Do conjunto das 72 peças expostas, destacam-se os candeeiros com luz íntima, os vasos estilizados e as máscaras cromadas. Um par destes vasos altos foi tecido com tanta perfeição e minúcia que parece tecido com pedaços de vegetais. Mas também se exibiram pequenos potes e vasos decorativos e quadros de pedaços de argila, com motivos africanos. Destes últimos, o quadro que representa dois tocadores tendo por pano de fundo a baía de Luanda, com a abobada do BNA a sobressair é uma excelente harmonização do sonho com a matriz económica do mundo em que vivemos. Pequenos elementos decorativos, como peixes, aves, canecas e bustos, de um cromo metalizado podem rivalizar com a melhor arte importada, o que pressupõe um melhor aproveitamento destas mãos mágicas projectando uma dinâmica de desenvolvimento artístico que ultrapasse o mero momento da exposição.
Marcela Costa escancarou-nos as portas da sua oficina de cerâmica, nas traseiras da galeria. Ali, pudemos constatar como se molda a argila acumulada em três tanques de cimento, a roda de moldar, as peças de corte e modelagem e os dois fornos conseguidos já há alguns anos. Trabalho de paciência e de amor à Arte, que permite tirar ouro raro do barro. Processo alquímico que nasce do dom das mãos e se solidifica na purificação da cozedura.