Jornal Cultura

CELAMAR apresenta OUTRA OPÇÃOde cerâmica colectiva

- José Luís Mendonça

“Pretendemo­s revitaliza­r este domínio da arte, cada vez mais esquecido em Angola”, disse Marcela Costa, proprietár­ia da galeria CELAMAR, envolta na maresia do início da Ilha de Luanda, a propósito da exposição colectiva OUTRA OPÇÃO, aberta ao público no passado dia 5 de Dezembro.

A cerâmica é a arte de trabalhar com argila criando objectos de utilidade para a vida quotidiana. A cerâmica artística não sendo uma arte desconheci­da, distingue-se da cerâmica industrial, pela beleza aliada à utilidade prática. Com esta exposição, o público teve o privilégio de ter em Luanda artistas dedicados e que têm dado o melhor de si, “artistas experiente­s que resolveram apostar na promoção dos seus trabalhos e no desenvolvi­mento de todas as formas de artes plásticas, passando o testemunho aos mais no- vos que serão o pulmão e o renascer de todas as esperanças perante os desa ios do amanhã”, lê-se no pan leto mural descritivo.

São 9 ceramistas, Eric, Keto, Varela, Kavunuaku, Orlando Lopes, Coquenão, Nkongo, Cirilo e Chad, cujo alvo é trabalhar “para construir uma história, criar uma herança de que a futura se geração se orgulhará”.

Os artistas que a Galeria CELAMAR apresenta em OUTRA OPÇÃO, possuem atrás de si uma carreira internacio­nal marcada pela vivência e sobretudo pelos atalhos que conduziram ao entendimen­to entre o desenho e a argila.

Henrique Ngundu (Eric) con idenciou à reportagem do jornal Cultura que, desde muito cedo, já na escola primária gostava muito de desenhar, e mesmo em casa, o que mais gostava de fazer era traçar formas e pintá-las. O seu pai descobriu essa veia artística e matriculou-o numa escola de belas artes. Foi nesta escola que aprendeu a trabalhar a argila, a enforná-la e fazer sair do forno peças sublimes, como as que ali na CELAMAR nos deu gosto ver.

Do conjunto das 72 peças expostas, destacam-se os candeeiros com luz íntima, os vasos estilizado­s e as máscaras cromadas. Um par destes vasos altos foi tecido com tanta perfeição e minúcia que parece tecido com pedaços de vegetais. Mas também se exibiram pequenos potes e vasos decorativo­s e quadros de pedaços de argila, com motivos africanos. Destes últimos, o quadro que representa dois tocadores tendo por pano de fundo a baía de Luanda, com a abobada do BNA a sobressair é uma excelente harmonizaç­ão do sonho com a matriz económica do mundo em que vivemos. Pequenos elementos decorativo­s, como peixes, aves, canecas e bustos, de um cromo metalizado podem rivalizar com a melhor arte importada, o que pressupõe um melhor aproveitam­ento destas mãos mágicas projectand­o uma dinâmica de desenvolvi­mento artístico que ultrapasse o mero momento da exposição.

Marcela Costa escancarou-nos as portas da sua oficina de cerâmica, nas traseiras da galeria. Ali, pudemos constatar como se molda a argila acumulada em três tanques de cimento, a roda de moldar, as peças de corte e modelagem e os dois fornos conseguido­s já há alguns anos. Trabalho de paciência e de amor à Arte, que permite tirar ouro raro do barro. Processo alquímico que nasce do dom das mãos e se solidifica na purificaçã­o da cozedura.

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