Jornal Cultura

Son os engolidos a sangue rio

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distanciam­o-nos dele e do carro, uma atrás da outra, a Vanda vinha próxima de mim, um pouca perto do carro. Sem nos darmos conta, dois outros senhores, apareceram do nada, vestidos da mesma forma, um foi directo para mim outro para a Vanda. Não sei como, mas na pequena tentativa, escapei, a que não aconteceu com a minha amiga.– Disse Caró, amiga e colega mais íntima da Vanda nas vésperas do sucedido.

Há três anos que nos lembramos dessas palavras, passaram na tv, o bairro todo revoltou-se, moveu mares e montanhas, mas não logrou o intento, passaram três anos que o bairro perdeu graça, família perdeu esperança, a mãe, coitada da Dona Filo, vive delirando, rogando pragas e palavrões para qualquer um, condenando Deus, repetido, como única forma de viver, a pergunta “Porquê?” O pai, esse, que lhe dedicava todo o amor, perdeu a motivação da vida, no ano seguinte, justo no dia do aniversári­o da ilha, apanhou um enfarto que o levou a um coma profundo. Profundo é palavra certa de como o bairro sentiu o rapto da Vanda.

Três anos depois, uma carta, na verdade um bilhetinho, – só um bilhetinho para tanta dor da família,que passo a citar:

“Mamã e papá, manos e manas, – meus queridos!

Vocês, mais do que eu, sabem que fui e continuo a servítima de vários crimes: rapto, sequestro, trá ico, e… para poupar os vossos corações que já estão cansados de sofrer não direi.

Mamã e papá, manos e manas, – meus queridos!

Escrevo para vocês com uma certa emoção, o meu rosto parece fonte de uma nascente. Penso que estou a viver na África do Sul, pois os homens sófalam inglês, e outras línguas imperceptí­veis para mim. Juro que tenho mais saudades de voltar do que viver. Espero que isso um dia aconteça, espero. Espero a vossa colaboraçã­o, desde que vim para aqui, vivo num motel chamado ClubNigth. Poderia alongar a carta, temo que alguém me encontre e… nem quero que vocês imaginem a punição. Até um dia! Vanda dum lugar incerto, talvez na África do Sul.” (Fim da citação). – Temos que fazer justiça, – disse um dos tios próximos.

Justiça sim!, todos eles querem, mas não sabem onde começar,pois não sabem quem trouxe a carta, foi encontrada na porta da casa.

Quem me dera… Oxalá que fosse eu… Meu Deus…Como cães de raiva, os homens da zona, todos eles, agastados querem fazer justiça.

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