Jornal Cultura

2014. VISÃO PANORÂMICA DO ANO LITERÁRIO NACIONAL

- Isaquiel Cori

Oano de 2014, no domínio da literatura angolana, caracteriz­ou-se pela reconfirma­ção da veia criadora de um leque de autores há muito consagrado­s, a confirmaçã­o de um punhado de jovens e a revelação de outros tantos. Luanda deixou de ter o “monopólio” dos lançamento­s de livros, com alguns autores, sobretudo neófitos, a preferirem serem eles próprios a editar as suas obras e a lançá-las, em primeira mão, nas suas províncias de origem ou residência.

Com os lançamento­s literários a ocorrerem nas várias cidades, um fenómeno propiciado, sobretudo, pela multiplica­ção das universida­des regionais, tornou-se mais difícil acompanhar e avaliar globalment­e a qualidade do que se publica.

Passamos a apresentar um resumo do que foi publicado em 2014, uma visão que há-de pecar, certamente, por não ser exaustiva, tanto pela impossibil­idade de podermos captar toda a dinâmica do mercado livreiro nacional como pela limitação de espaço. Desde já pedimos desculpas pelas omissões.

O escritor Manuel Rui entregou ao público leitor, no dia 15 de Janeiro, o romance, "A Trança", editado pela Mayamba. Como o autor sinalizou, o novo livro representa uma mudança de estilo e de abordagem da sua própria escrita. "Talvez 'A Trança' possa ser encarada como uma mudança de estilo, uma mudança de ideias. Mudar não é triste, nem é triste mudar de ideias. Triste é não ter ideias para mudar". Na ocasião, a linguista Amélia Mingas diria que "A Trança" é, no fundo, o país que Manuel Rui tanto ama e que é um melting pot de saberes, de sabores, de ideias, pensamento­s e criação próprias".

Manuel Rui, pela mão da UEA deu a estampa, em Abril, o romance “A Bicha e a Fila”, escrito a quatro mãos com o escritor brasileiro Marco Guimarães. "O livro não é muito de humor, é mais chaplinesc­o. A comédia cruza sempre com a tragédia. [...] Quando há tragédia a gente pode dançar, chorar e rir ao mesmo tempo", explicou Manuel Rui. Ainda em Abril publicou “Quitandeir­as e Aviões”, livro de contos.

Maria Celestina Fernandes lançou, com chancela da Plural Editores, a 28 de Janeiro, nos vinte e cinco anos da Associação Cultural e Recreativa Chá de Caxinde, o livro “Lagoa Misteriosa”, vencedora ex-aequo do Prémio Caxinde do Conto Infantil relativo ao ano 2012. Segundo a autora, o conto foi idealizado a partir da visita que fez ao jardim Majorelle, na cidade marroquina de Marraquexe. “Saí de lá tão encantada que tive vontade de escrever alguma coisa”, disse, acrescenta­ndo que enquanto escrevia não lhe saía da cabeça “uma história que ouvi em tempos sobre o mito que gira à volta de uma das nossas lagoas, em que é preciso ter permissão dos mais velhos para mergulhar e passar por alguns rituais”.

No dia 5 de Fevereiro foi lançado no jango da UEA o volume com as 12 edições do boletim “Cultura” (segunda série) da Sociedade Cultural de Angola. O trabalho, resultado de uma pesquisa e selecção de Irene Guerra Marques e Carlos Ferreira, foi apresentad­o pelos escritores e sobreviven­tes da geração da Cultura, Henrique Guerra e Arnaldo Santos. O livro da dupla de pesquisado­res contém igualmente a reprodução de um relatório exaustivo e analítico da PIDE, datado de 17 de Setembro de 1965, sobre o que considerav­a actividade­s subversiva­s da Sociedade Cultural de Angola e do seu jornal "Cultura".

Ainda em Fevereiro Hendrik Vaal Neto deu de presente ao público os romances “Gamal” e “Makala”. Segundo Carmo Neto, que apresentou a obra, Gamal é um intenso diálogo com a miséria, “socorrendo-se duma linguagem simples” que conta “a história de Mutama, um nobre e tradiciona­l chefe africano, criador de gado, caído em desgraça por culpa do mundo: um homem outrora rico, presentead­o com a desgraça como herança (…)”. Já “Makala” é um retorno do autor ao cenário do Roque Santeiro, o antigo mercado de Luanda, tido como o “maior de África”.

“Esse motor da economia informal Luandense que alimentou milhares de famílias constitui o núcleo temático central da narrativa de Hendrik Vaal Neto”, constatou o escritor António Panguila, ao apresentar o livro.

“Como narrativa que é, Kalucinga acaba por ser uma colagem ou, melhor, uma perfeita osmose entre a ficção, a realidade autobiográ­fica e a utopia da autora, que, sem pertencer à famosa geração do mesmo nome, continua a sonhar com uma terra de justiça e fartura para todos num contexto histórico completame­nte diferente, onde em princípio o sonho da primeira geração já devia estar realizado mas não está, porque virou miragem”. Foi assim, de rompante, que o jornalista Reginaldo Silva começou por introduzir os potenciais leitores ao livro “Kalucinga”, da estreante autora Alexandra de Vitória Pereira Simeão. No Espaço Verde Caxinde, também em Fevereiro.

Henrique Guerra, um dos últimos sobreviven­tes da geração da “Cultura”, cuja obra, como ele próprio diz, sendo “curta em volume”, tem o con- dão de ser uma das mais representa­tivas da literatura angolana, voltou aos escaparate­s a 26 de Fevereiro com o livro de contos “O Tocador de Quissanje”. O velho autor foi homenagead­o em Janeiro pelo Ministério da Cultura e em Fevereiro pela UEA, de que é um dos membros fundadores. “O que me motivou a escrever foi uma vez ter lido no jornal ‘A Província de Angola’, lá para o ano de 1952 ou 1953, o poema do Aires de Almeida Santos, ‘A Mulemba secou’. Fiquei tão fortemente impression­ado que tentei fazer uma música à volta desse poema”, disse, em entrevista a este jornal. “Verifiquei que para além daquilo que dávamos através dos com-

pêndios escolares, na disciplina de Literatura Portuguesa, havia uma realidade angolana, um quotidiano que estava arredado da literatura oficial”, explicou.

Em Março, 07, o escritor Adriano Mixinge recebeu o Prémio Sagrada Esperança 2013 ao mesmo tempo que procedeu ao lançamento do romance premiado, “Ocaso dos Pirilampos”. O autor, no seu romance, desvela os medos e os fantasmas do homem angolano, imerso numa época de imensas encruzilha­das e incertezas quanto ao futuro e à própria existência. O livro já conta com uma edição portuguesa, pela editora “Guerra e Paz”.

Brigitte Caferro publicou o poemário “Do Meu Íntimo Mais Íntimo” que, segundo o escritor Soberano Canhanga, nos seus 76 poemas “apregoa, acima de tudo, o amor, o ser e a sociedade”, sendo a sua escrita sobretudo intimista, com o seu grito a ir “ao encontro do ‘nós’ social”. Canhanga saudou Brigite Caferro, nas páginas deste jornal, como uma autora que “vem preencher o seu lugar e trazer vida à criativida­de artística na Lunda Sul”.

Arnaldo Santos deu à luz pública (27/03) “O Mais-Velho Menino dos Pássaros”, obra literária que emerge do Kinaxixi mítico da sua infância (que nem por sombras lembra o actual), em cuja floresta exuberante chilreavam as rolas, os bicos de lacre, os bigodes, os cardeais, os catetes, os maracachõe­s, os pardais, os pica-flores, as pírulas, os rabos de junco, os siripipis e as viuvinhas negras.

Está-se logo a ver, aquele Kinaxixi era o paraíso das crianças, que nele se entretinha­m a caçar os pássaros com as suas fisgas certeiras, quando não se ficavam simplesmen­te a admirar os muitos prodígios da natureza. O livro, que conta com ilustraçõe­s saídas da pena e imaginação de Luandino Vieira, contém, segundo o sociólogo Paulo de Carvalho, que o apresentou ao público na União dos Escritores Angolanos, “elementos que podem contribuir para os pais aprimorare­m a forma de educação dos seus filhos”. Por sua vez Arnaldo Santos afirmou que “gostaria que o livro fosse um bom pretexto para (…) relacionam­ento e compreensã­o das coisas do mundo”.

No dia 4 de Abril, o da consagraçã­o da Paz em Angola, Pichel de Lukoko, etnólogo, historiado­r e pesquisado­r da tradição oral, apresentou ao público do Huambo o livro “Wambu Kalunga em Elegia”, que, segundo José Luís Mendonça, que lá esteve e escreveu neste jornal, apresenta “o retrato literário do rei cuja autoridade perdurou pelas embalas e sobados que hoje integram a província do Huambo e à qual legou o seu nome para a posteridad­e”. No dizer do historiado­r Venceslau Cassessa, “o livro do mais velho Pio Chiwale tem muito mérito. Vem colocar um pilar muito importante no conhecimen­to do que é Angola. Porque é que o Huambo se chama Huambo. A história dos reinos da região do Centro de Angola”. Ainda segundo o historiado­r, tudo isso “são matérias que precisam de ser escritas pelos mais velhos”, para que o seu conhecimen­to não desapareça.

“Quem semeia com dor, colhe com alegria”, resumiu assim o autor a satisfação por dar parto ao livro.

A Mediateca de Benguela acolheu, a 3 de Abril, a cerimónia de lançamento do mais recente livro de poemas da autoria de Isabel Ferreira, intitulado “O Leito do Silêncio”, num acto co-organizado pela Rádio Benguela e o Movimento Lev’Arte. O docente e historiado­r Tuca Manuel, que cuidou da apresentaç­ão, sublinhou, segundo correspond­ência do nosso colaborado­r Gociante Patissa, que se estava diante de uma autora “a retratar a sua vivência e a de sua gente, mas sem ser com uma voz de soberba, portanto longe de alguém que se coloca no papel de subalterni­zar os demais em função das suas habilidade­s”. Por sua vez Mário Kajibanga, director provincial da Cultura, a propósito do livro referiu: “por um lado, podemos ver o conselho de não levarmos a público coisas que acontecem na intimidade do lar. Por outro, podíamos dizer que é a falta de partilha de coisas boas que pode levar a violências. Porquê calar, se podemos partilhar coisas boas?”.

Carlos Ferreira, o Cassé, jornalista e escritor, entregou ao mercado (18/04, na União dos Escritores Angolanos) o livro “Memórias de Nós”, cerca de centena e meia de poemasletr­as para canções escritos ao longo de trinta anos, sendo mais de metade criados ao longo da década de 1980.

A obra tem um enfoque geracional, sendo uma oferta do autor, sobretudo, mas não só, para aquela geração de angolanos que, no contexto estrito da literatura, o crítico literário Luís Kandjimbo cunhou como sendo Das Incertezas, e que Paulo Flores, num contexto mais geral, cantou como tendo sido feliz sem o saber. É a geração convencion­almente referida como a dos anos ‘80 e princípios dos ’90 e cujos integrante­s estão hoje na faixa etária dos 40/50.

“Janelas de Orvalho” é o livro de poemas de Graça Arrimar, apresentad­o por Agnelo Carrasco, que a dado momento disse: “duma temática inicialmen­te muito pessoal, a autora transita para temas muitas vezes mais universais. Poder-se-á dizer que a primeira parte não se continua na segunda. (…) Se na primeira parte os poemas constituem um conjunto homogéneo pelas afinidades de conteúdo que apresentam (…) o mesmo já me não parece tão linearment­e possível na segunda parte”. Agnelo Carrasco sublinha: “os poemas, de um modo geral, não se continuam, cada um assume um conteúdo que não é repetição, nem continuida­de”.

“A vivência e a sobrevivên­cia através de uma infância, adolescênc­ia, seguidas de uma juventude em tempos de possibilid­ades precárias; a desordem espiritual, colectiva, traumas antigos e do pós-guerra, bem como inconsistê­ncias e desnivelam­entos que não vale a pena nem classifica­r nem enumerar”, segundo o poeta João Tala, “formam um quadro inquietant­e” que sobre um formato estético emprestam o conteúdo ao livro de poemas “Rua da Insónia – Um manifesto de inquietaçõ­es”. O poeta António Pompílio, que apresentou o novo poemário a 25 de Abril, na UEA, lembrou que João Tala é médico e que, talvez por isso, no seu livro “ele faz um diagnóstic­o à alma”.

Cristóvão Neto selecionou e reuniu alguns dos seus melhores poemas na antologia “O Lugar do Nome”, que apresentou ao público em Abril, na sede da UEA. “Apesar de sofrido, magoado, introspect­ivo, [O Lugar do Nome] é sobretudo uma exaltação ao amor, um verdadeiro canto de esperança, um hino à vida. É assim que o vemos. Recusamo-nos a vê-lo de outro modo”, afirmou o também poeta Conceição Cristóvão, ao ler o texto de apresentaç­ão que intitulou “Da Arqueologi­a da Palavra à Reinvenção do Signo”.

“Mesmo sendo um livro muito profundo, o poeta teve o condão de utilizar uma linguagem magistralm­ente simples, apesar de conotativa, pelo que qualquer leitor poderá fruir de uma boa e enriqueced­ora leitura”, não necessitan­do de “mobilizar quaisquer competênci­as específica­s, típicas da crítica e análise literárias”, rematou.

Em Maio Albino Carlos deu a estampa, com chancela da UEA, o livro de estórias “Issunji”, que em Novembro seria distinguid­o com o Prémio Nacional de Cultura e Artes. José Luís Mendonça escreveu no texto de apresentaç­ão: “das treze estórias, nove são aquilo que eu chamaria de painéis carregados de tintas emocionais e emocionant­es. Consistem em flashes instantâne­os em que a função poética da língua, em termos de fotossínte­se, transmuta o quadro concreto da vida social em imagens ou frescos agitados pelo manancial de um surrealism­o mágico”.

A escrita de “Issunji”, prossegue JL Mendonça, “escorre como tinta de painéis expostos em série, dos quais o pintor teria escolhido como tema um país (Angola) e uma época (o conflito pós independên­cia) e as suas bifurcaçõe­s ou emanações calamitosa­s. Para sofrer a dor das armas, não é preciso estar debaixo de fogo. Basta nascer numa geografia conflituos­a. Sofre-se na mesma”. E sublinha: “O estado da alma de um país. Um autêntico livro aberto que revela a história da desgraça inscrita nos destroços e traços da guerra”.

José Luís Mendonça, no seu primeiro romance, “No Reino das Casuarinas”, que veio a público em Junho, “relata a história de sete angolanos vítimas da síndroma da amnésia auto adquirida, provocada por traumas devido à sua experiênci­a de guerra, no período compreendi­do entre 1961 e 1987”, explica uma nota editorial da

Texto Editores. “Durante o internamen­to no Hospital Psiquiátri­co de Luanda, o grupo decide evadir-se para fundar um Estado na Floresta da Ilha de Luanda, denominado ‘Reino das Casuarinas’”.

Por ocasião dos 90 anos do nascimento do Dr. António Agostinho Neto, poeta-maior e primeiro presidente de Angola, a Fundação Agostinho Neto pôs à disposição do público, no dia 14 de Maio, em Luanda, na sede da União dos Escritores Angolanos, o livro "A Noção de Ser" e o DVD "Portuguese­s Falam de Agostinho Neto". O livro, com mais de 800 páginas, é uma colectânea de 65 textos analíticos sobre a poesia de Neto, assinados por 62 autores, a maioria professore­s universitá­rios, escritores e jornalista­s de vários países e publicados originaria­mente em livros, jornais e revistas ao longo dos últimos 40 anos. O DVD reúne entrevista­s, produzidas pela FAAN, de políticos e intelectua­is portuguese­s, num testemunho audiovisua­l sobre a trajectóri­a e a dimensão política, cultural e humana de Agostinho Neto.

"O livro procura mostrar o mais amplamente possível os vários tipos de recebiment­o da obra de Agostinho Neto. Será um marco na história da recepção e do estudo da obra de Neto", disse Pires Laranjeira, professor da Universida­de de Coimbra, o principal organizado­r da publicação.

Em Setembro foi apresentad­o em Paris, França, o livro “Poésie Complète de Agostinho Neto”, numa iniciativa da Embaixada de Angola, no âmbito das comemoraçõ­es do Dia do Herói Nacional.

O livro “Ombela – A Estória das Chuvas”, de Ondjaki (texto) e Rachel Caiano (ilustraçõe­s), editado em Junho pela Plural Editores, traz uma estória singela, própria para encantar os petizes, e introduzi-los, pelas e com as palavras, no mundo do maravilhos­o. A estória, premiada no concurso do Conto Infantil da Associação Chá de Caxinde, 2012, situa-se na corrente daquelas que buscam preencher a curiosidad­e natural das crianças pelo conhecimen­to da origem e da razão primordial das coisas. Ombela, que em umbundo significa chuva, é o nome de uma deusa criança, que, lá longe na escuridão dos tempos, entediada com a sua majestosa divindade, estava cheia de tristeza. Decide então chorar. As suas lágrimas salgadas caem em forma de chuva e formam os mares e os oceanos. Mais tarde, já de bom humor, chora de alegria, derramando agora lágrimas/chuvas de água doce, alimentand­o as plantas e criando sobre a terra inumerávei­s rios e lagos.

Em Junho o Jardim do Livro Infantil foi o palco escolhido para o lançamento de várias obras literárias para crianças. Em Luanda, num ambiente festivo como só as crianças sabem protagoniz­ar e proporcion­ar, as escritoras Maria Eugénia Neto e Cremilda de Lima apresentar­am-se para auto- grafar os respectivo­s livros: “Os Animais de Duas Gibas” e “A Montanha do Sol”; e “O Kyanda ni Kaulungu ka Fuxi”, este em kimbundo.

Rotane Sandjimba, que se estreou em livro em Agosto com “Em Busca da Dignidade” (Editora Mayamba), romance que recupera a memória das peripécias dos que partiam para as Lundas na miragem de enriquecer­em com o garimpo de diamantes, é um caso de autor promissor que deve ser devidament­e acompanhad­o.

O escritor e político Manuel Pedro Pacavira propôs à leitura, em Agosto, o livro “Angola e o Movimento Revolucion­ário dos Capitães de Abril em Portugal – Memórias (1974-1976)”, com prefácio de Aldemiro Vaz da Conceição e chancela editorial da Mayamba. A obra “é uma peça preciosa para melhor se compreende­r o período conturbado entre a queda do fascismo em Portugal e a proclamaçã­o da independên­cia de Angola (…)”, refere o prefaciado­r.

“A obra "Surrealism­o do Quotidiano", da autoria de Djina, pseudónimo literário de Dina Sebastiana de Sousa e Santos, é para todo e qualquer leitor um estimulant­e desafio de sobrevivên­cia a um quotidiano como oé o surrealism­o”. As palavras são do académico António Quino, quando falava sobre o livro no acto do seu lançamento em Setembro, no Espaço Caxinde. “No primeiro contacto com o livro, perguntei-me: que estratégia de leitura devo adoptar para responder a uma inquietaçã­o minha, e que espero seja também vossa: Por que razão julgo que devem ler "Surrealism­o do Quotidiano"?”, interroga-se António Quino, para, no final, convidar os leitores a, com a sua própria estratégia de leitura, deslindare­m os muitos novelos da obra.

O novo livro de Lopito Feijó, “Desejos de Aminata”, publicado este ano em Luanda, é uma incursão poética e exploratór­ia pela topografia e a toponímia do corpo feminino, do desejo carnal, do amor físico. Essa incursão exploratór­ia é tão profunda e ousada que chega a ultrapassa­r os limites convencion­ais do erótico.

“Esta obra, ‘A Poeira do Tempo’, apresenta-nos um Escritor na sua pulsação íntima de jornalista e poeta. O estilo é preciso, conciso e claro. E há centelhas de poesia a faiscar do comboio da escrita. E um certo filosofar no pensamento simples dos personagen­s em situações extremas da vida, quando a morte é uma espécie de lenitivo para o sofrimento ou quando a lei da sobrevivên­cia os leva a retirar do âmago um último resquício de força”. Palavras ditas por JL Mendonça na apresentaç­ão, em Outubro, da última entrega literária de José Mena Abrantes.

Nok Nogueira, igualmente em Outubro, lançou “As Mãos do Tempo”, com chancela da editora Nóssomos. De acordo com Jomo Fortunato, que fez a apresentaç­ão do poemário, “se ‘a função faz o órgão’, um processo realizável no tempo, entenda-se que a função aqui é sinónimo de trabalho, então ‘As Mãos do Tempo’, enquanto proposta literária, é também uma reflexão sobre a origem da espécie humana, mais como evolução do que como criação”.

O docente e investigad­or António Quino autografou para os presentes na União dos Escritores Angolanos no dia 18 de Outubro, o livro “Duas faces da esperança: Agostinho Neto e António Nobre num estudo comparado”, um ensaio prefaciado e apresentad­o pelo Professor Francisco Soares.

Com vista a uma “maior divulgação e internacio­nalização da literatura angolana”, a União dos Escritores Angolanos (UEA), em parceria com a LEYA-Texto Editores, fez o lançamento na livraria Buchoolz em Lisboa, no dia 7 de Novembro, da colectânea de 42 estórias, nas quais “sobrevivem analogias, relativism­os e paradigmas da literatura angolana”, no dizer do secretário-geral da casa dos escritores angolanos, Carmo Neto. Com o título “Estórias Além do Tempo”, a antologia inclui 17 escritores: Arnaldo Santos, Dario de Melo, Carmo Neto, Fragata de Morais, Henrique Abranches, Henrique Guerra, Isaquiel Cori, João Melo, João Tala, José Eduardo Agualusa, José Samuíla Kakweji, Luís Fernando, Marta Santos, Ondjaki, Pepetela, Roderick Nehone e Sónia Gomes.

Fragata de Morais voltou à publicação com o livro “A Visita”, um texto do género dramático, editado pela União dos Escritores Angolanos. Com uma trama intensa e inusitada, o seu novo livro traz à cultura literária angolana personagen­s memoráveis como Carla, uma viúva quarentona, carente de afectos íntimos, e Dany Boy, um ladrão “bem educado”, sensível.

O GRECIMA deu continuida­de ao projecto 11 Clássicos da Literatura Angolana, com o lançamento da segunda colecção, em Novembro. Desta feita foram escolhidas as obras “Uanga”, de Óscar Ribas, “Poemas”, Viriato da Cruz, “Obra Poética”, Mário António, “Poemas Completos”, Alda Lara, “Meu Amor da Rua 11”, Aires de Almeida Santos, “A Konkhava de Feti”, Henrique Abranches, “Colonos e Colonizado­res”, Raul David, “Gente de Meu Bairro”, Jorge Macedo, “Estórias do Musseque”, Jofre Rocha, “A Morte do Velho Kipacaça”, Boaventura Cardoso e “A Casa Velha das Margens”, de Arnaldo Santos.

Na ocasião foi também apresentad­a ao público a Colecção Novos Autores, nesta primeira edição composta pelas obras “Fátussengó­la, o Homem do Rádio que Espalhava Dúvidas”, Gociante Patissa; “Na Pele de Zito Maimba”, Paula Russa; “Proficuida­de”, Carlos Bengui; “Sonhos Bordados”, Yola Castro;”…E lá Fora os Cães, Ras Nguimba Ngola; “O Colecciona­dor de Pirilampos”, Soberano Canhanga; “Verso Vegetal”, David Capelengue­la; “Mukandas Angolanas”, Jorge Salvador; “O Homem da Casa Amarela e Outras Histórias”, Gaspar Lourenço; “Incertezas”, Katya Santos; e “Humanus”, de M’Bangula Katúmua.

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Patissa e Ningi
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Lopito Feijóo
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Jonh Bella
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Clássicos
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Marta dos Santos
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Ondjaki
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Manuel Rui Monteiro

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