Jornal Cultura

BULAMBEMBA E YELALA PATRIMÓNIO­S ESQUECIDOS

HISTÓRIA (CESBC – Centro de estudos estratégic­os da bacia do Congo)

- www.serge-diantantu.com

YELALA

Durante a sua segunda viagem (1485-1486), em Outubro ou Novembro de 1485, perto das quedas de Yelala, a montante de Matadi, Diogo Cão deixa uma inscrição gravada numa pedra, testemunho da sua passagem e da dos seus homens.

Esta inscrição situaria assim o primeiro contacto da expedição com o rio Congo a 23 de Abril de 1482.

BULAMBEMBA

Para os congoleses este nome evoca o local de detenção dos membros do MLC ( Movimento de Libertação do Congo) de Patrice Lumumba e dos opositores ao regime de Mobutu. Esta ilha situada na embocadura do Congo acolheu Gizenza, Tshisekedi, Kamitatu, etc.

Mas esta Bulambemba arrasta consigo outra reputação: foi um porto activo no comércio de escravos. Filhos da África central atlântica capturados como escravos foram enviados para Portugal, para a Madeira e Açores para trabalhar nas plantações de cana- de- açúcar por volta da primeira metade do século XV. É o princípio do que viria a tornar- se no tráfico atlântico. Isto passa- se cerca de alguns decénios antes de as Américas se tornarem o novo destino dos escravos e de Goreia se converter na plataforma de correspond­ência para o continente americano.

No Senegal, as autoridade­s implementa­ram uma política especí ica para que a ilha de Goreia, testemunho de "uma experiênci­a humana sem precedente­s na história dos povos" seja "uma terra de peregrinaç­ão para toda a diáspora africana", e "um espaço de partilha e de diálogo das culturas através do confronto dos ideais de reconcilia­ção e de perdão". "A ilha de Goreia foi classi icada como local de interesse histórico em 1944, com medidas de protecção em 1951 (durante a época colonial). Posteriorm­ente foi inscrita na lista do património nacional em 1975 (Decreto N°012771 de 17 de Novembro de 1975) e na do património da humanidade em 1978.”

Como Goreia, Bulambemba "traznos um testemunho excepciona­l sobre uma das maiores tragédias da história das sociedades humanas: o trá ico negreiro." Mas Bulambemba não bene iciou de qualquer atenção. A ilha é vítima da sua situação numa região caracteriz­ada por con litos armados (Angola Congo) e outras perturbaçõ­es políticas quase ininterrup­tas (Congo) desde o inal dos anos 1950. Tendo sido alternadam­ente um lugar militar destinado a controlar a embocadura do Congo e uma ilha- prisão para os opositores políticos do regime de Mobutu, Bulambemba permanece mais do que nunca uma terra de sofrimento.

Chegou a altura de proteger Bulambemba e tudo o que testemunha o seu passado histórico. A ilha deve tornar- se num local de memória, um destino de peregrinaç­ão à imagem da ilha de Goreia.

Bulambemba e Yelala, são testemunho de mais de cinco séculos de História da África Central atlântica. Não merecem o destino que lhes está reservado.

Serge DIANTANTU tentou "falar desta história tão difícil sem complexos". Como ele diz "no fundo, as pessoas querem saber o que se passou…" Escolheu a banda desenhada para romper o esquecimen­to e falar desta história publicando Memórias da Escravatur­a. Ele reflecte sobre as acções a levar à prática para restaurar e salvaguard­ar estes locais de memória a fim de devolvê-los à consciênci­a universal.

Para contactá-lo através do seu site, siga a ligação Internet seguinte:

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 ??  ?? A inscrição autêntica numa rocha perto das quedas do Rio Mpozo (Angola) (Aqui chegaram os navios do esclarecid­o rei D. João II de Portugal – Diogo Cão, Pero Anes, Pero da Costa”)
A inscrição autêntica numa rocha perto das quedas do Rio Mpozo (Angola) (Aqui chegaram os navios do esclarecid­o rei D. João II de Portugal – Diogo Cão, Pero Anes, Pero da Costa”)
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Padrão Saint Augustin
 ??  ?? Decalque da inscrição junto às quedas do rio Mpozo
Decalque da inscrição junto às quedas do rio Mpozo

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