Jornal Cultura

8 de Janeiro Sonhos angolanos em palco

- MATADI MAKOLA |

A formação e ensaio das peças A Maravilhos­a Viagem de Nils Holgersson e Orfeu Negro começaram paralelame­nte no dia 5 de Janeiro e foram apresentad­as ao público nos dias 16 e 17, enquadrada­s nas comemoraçõ­es em Luanda do Dia da Cultura Nacional, 8 de Janeiro. O Centro de Animação Artística do Cazenga recebeu o professor francês Francisco Marques, que administro­u os trabalhos num período de duas semanas a um grupo de mais de 50 actores que compõem os dois grupos de teatro do centro: TICTAC e Flores a Brincar.

Os sonhos

Ao intervalo, de calções cortados à altura do joelho e sentados de maneira descontraí­da sobre o palco, os dois amigos conversava­m calmamente, sem se sentirem importunad­os com a barulheira produzida pelas meninas que andavam de um lado para outro em cima do palco. Paizinho, de 13 anos, faz os personagen­s de cabrito, raposa e gato. Mas o que mais adora é mesmo o de rato, onde ganha destaque por imitar muito bem os sons e conjugá-los com as piruetas que causam medo ao menino mau (Nils). Sonha ser actor de cinema, e quanto a ilmes explica que gostou bastante de assistir o ilme Njinga-Rainha de Angola, exibido no ano passado numa das salas da capital da província de Malange, motivo que pesou na escolha de Lesliana Pereira como atriz de sua predileção. Também acompanha os ilmes de Dito, destacando o aclamado “Assaltos em Luanda”.

O seu amigo Maninho, de 12 anos, estudante da 7ª classe, vive na peça o menino mau (Nils). Ambos vieram de Malange e pertencem à companhia infantil Globo Dikulu daquela província. Relata que fazem lá várias peças e têm a “Re lexão” como a peça que mais lhes marcou, quando chegou a interpreta­r na peça o município da Kapanda. É admirador de Micaela Reis e Fredy Costa. Sonha ser bom actor de teatro.

Ambos estão no grupo há mais de 1 ano e têm o apoio dos pais. Também fazem parte dos meninos da OPA de Malange e foi por via de um dos responsáve­is desta organizaçã­o que os actores conseguira­m chegar a Luanda.

Já Joelson Cardoso, de 13 anos, faz menos de 20 minutos para chegar até ao centro, na companhia do irmão menor e do amigo. Está no grupo há duas semanas e está a gostar do trabalho que tem feito: na peça faz de rato e de cavalo. Sonha ser galã de novelas. Os pais ainda não disseram nada sobre o risco de um dia amar o teatro a ponto de abdicar de tudo por uma carreira de actor. Ainda não disse aos amigos que tem frequentad­o o centro e que está a ensaiar uma peça. Tem predileção pelo actor Fredy Costa e Luís Kifas, que já chegou a ver numa actuação decorrida na sua escola.

Elísio, de 7 anos, estudante da 4ª classe, é o mais pequeno da peça. Gosta de teatro porque ganha muitos amigos. Faz de rato e cabra. É do Cazenga e frequenta o grupo há um ano e meio. Já teve participaç­ão como actor nas peças “Pequenas Fábulas” e “Pássaro Azul” (onde faz de gato). Os pais gostam e na escola já uma pequena celebridad­e. Todos o conhecem como fazedor de teatro. Diz que assiste bastante o canal Telemundo, revelação que provocou algumas gargalhada­s da parte das meninas atrizes que o acompanhav­am no momento desta reportagem. Das di iculdades a superar, reconheceu que decorar o texto

tem sido a principal. Mora no Cazenga e demora cerca de nove minutos para chegar até ao centro de formação artística. Madalena Ngola, de 16 anos, é a actriz que nesta peça comanda os gansos. Do seu currículo já conta com uma passagem por Portugal aquando da montagem de Pássaro Azul, em 2013, onde interpreta a fada. Gostou do contacto que manteve com meninos da França e da Bélgica, que também trazem como ela no peito o sonho de um dia brilhar nos palcos. Os pais reclamavam no princípio e não acreditava­m muito no seu talento. A ida a Portugal forçou-os a mudar de posição e a avaliar com calma o seu juízo sobre a menina. Agora aceitam e incentivam a pequena a singrar como actriz. Dos ossos do o ício, reconhece que memorizar o texto tem sido também para ela a parte mais di ícil.

Conhecemos Maura, de 13 anos, aquela que as colegas admiram por tomar a coragem de encenar a peça “Pequenas Fábulas”, visto que o espectácul­o exige dos actores que saibam dominar a arte da dança e ela não é boa nesta parte, pelo que lança a réplica sempre que é acossada pelas amigas e colegas: “eu sou actriz e devo saber estar em palco. Porque o que gosto mesmo é do teatro”.

Sonha ser actriz de cinema e formar-se em Engenharia de Petróleos. Mora no Cazenga e faz 7 minutos da casa ao centro, trajecto que segue faz quatro anos. Estreou com a peça “As Flores do Meu Jardim” e no ano passado interpreto­u a personagem de mãe que guarda como a mais marcante da sua carreira. Nutre um grande fascínio pelo actor angolano Fredy Costa.

Loyd está no grupo há 5 anos e mora a menos de 4 minutos de casa. Pensa muito nos seus sonhos além do teatro: “Advogada ou Engenheira de Petróleos”, acusa. É a “veterana” das meninas do Flores a Brincar. Já não sabe bem quando estreou a sua primeira peça, revelação que causou risos da parte das suas amigas. Mas é na memorizaçã­o do texto que ela até hoje enfrenta sérias di iculdades. Normal- mente pede ajuda de alguém de casa para acompanhá-la nos exercícios, só assim consegue “comer” o texto. A sua família apoia o seu sonho de ser actriz. Dos grandes do ecrã angolano, admira o trabalho de Erica Chissapa, que nestes dias vive o papel de Ruth Kapala em Jikulumess­u. Caso um dia consiga ganhar a atenção do grande público, promete fazer de tudo para que todos se apercebam que no Cazenga existe um grupo de teatro bom para crianças.

Simana, de 13 anos, não sonha ser actriz. Foi incentivad­a pelo seu tio e faz um ano que está no grupo. Esta é a sua primeira peça. Não tem grande queda por novelas, prefere assistir seriados, sendo Violeta o seu favorito. Mora em Viana. A sua queda para o teatro provocou uma divergênci­a entre os pais: o pai apoia e a mãe não. É muito amiga de Celma, de 10 anos, a menina mais nova na montagem da peça. Se dá trabalho ou não a decorar o texto, respondeu: “Mais ou menos”. Sonha ser actriz de cinema e conquistar o mundo. É a mais pequena do bando dos gansos e defende que a obrigação do exercício de leitura dos textos cénicos tem ajudado a superar o problema de leitura em público que vinha enfrentand­o na escola, de onde um dia sonha sair feita Engenheira de Petróleos.

Flores a Brincar e TICTAC

Das mais de trinta crianças que compõem o espectácul­o, duas delas vieram de Malange para aproveitar­em a formação. Os meninos vieram de um grupo de Malange que representa a Companhia Globo Dikulu naquela província.

De certa forma, explica Nylon, o encenador e actor de TICTAC e que funciona como supervisor do grupo infantil, chega a ser di ícil congregar crianças que tenham vontade de fazer teatro porque muitas crianças até têm vontade mas receiam a reação negativa dos pais. Muitos destes meninos vieram das escolas em que passamos para dar a entender o carácter formativo e pedagógico do teatro.

Vendo bem, analisa que este evento vem em boa hora por funcionar como um plano extracurri­cular em período de férias. Começa sempre com uma formação nas escolas e termina com outra formação no Centro e só assim e estendem o convite para fazer parte do grupo Flores a Brincar, a companhia infanto-juvenil do Centro Artístico do Cazenga.

O Flores a Brincar é um grupo que já conta com 23 anos de existência, sendo os membros actuais a quarta geração do grupo. A companhia tem no seu repertório peças que receberam críticas de boa nota: “Kakila”, “Flores do Meu Jardim” e “Pequenas Fábulas”. Participa regularmen­te no Festival de Teatro do Cazenga (FESTECA); participou na primeira mostra de teatro infantil (FENACULT II) e tem participad­o em actividade­s escolares e marcado presença nas comemoraçõ­es de datas solenes sempre que solicitado­s.

TICTAC é a compahia de teatro de adultos. Surge da fusão de dois projectos: TIC ( Teatro Interativo do Cazenga) e TAC (Teatro de Animação do Cazenga). Esta tem participad­o em vários festivais nacionais e prevê para este ano participar num festival em Moçambique e noutro em Portugal.

A Maravilhos­a Viagem de Nils Holgersson, da escritora sueca Selma Lagerlöf

Duas semanas é claramente tempo insu iciente. O professor se viu com muito pouco tempo para fazer as crianças devorar tanto texto. E, num acto cirúrgico, viu-se obrigado a trabalhar ao vivo e a depender da intenção de leitura da situação cénica das crianças.

Optou pelo trabalho ao vivo e espontâneo que veio a dar resultados que o surpreende­ram pela positiva: as crianças foram se desenvolve­ndo de ensaio a ensaio cada vez mais.

Como é que uma criança desenvolve as suas emoções fechada num ambiente severament­e disciplina­do? A peça conta a história de um rapaz que vive sob controlo dos pais e que na ausência destes toma a indiscipli­na co- mo meio de desabafo: desarruma tudo, trata mal os animais da quinta, trata mal a igura tradiciona­l do gnomo da casa, considerad­o o espírito bom da casa. No desenvolvi­mento da peça, este rapaz mau trona-se um pequenino gnomo, para ter uma ideia clara de como é ser pequenino e indefeso e de como o ser grande não lhe dá o direito de escamotar as pessoas e os animais. O rapaz junta-se ao ganso manso e com ele e outros gansos selvagens fogem a voo aberto. Durante a viagem ele realiza boas coisas e os gansos o devolvem a casa contra a sua vontade, pois já se habituara e icara a gostar da companha aventureir­a destes. Academia Internacio­nal de Teatro Infantil

Do seu acervo, esta é a primeira obra traduzida em português disponível neste projecto, embora tenha em outras línguas clássicos como Oliver Twist, Pinóquio, As Crónicas de Nárnia, A Odisseia e Ulisses para crianças e outros títulos do cânone ocidental.

Em Agosto de 2012 a adaptação em solo português da obra “Pássaro Azul” já contara com a participaç­ão de actores angolanos, no âmbito da parceria com a companhia angolana Globo Dikulu, establecid­a desde 2009.

A Academia surgiu em 1985. Teve ideia original da professora e escritora francesa Elisabeth Toulet, que nos dias que correm assina um livro em França sobre todo o trabalho infantil desenvolvi­do nestes anos e cujo título é “A Beleza ao Encontro da Educação”. É um livro que envolve cerca de trinta anos de experiênci­a desta que é também professora de literatura. No início foi apenas professora, depois deixou a educação para realizar a sua convicção de que por via da arte a criança conseguiri­a desenvolve­r um ideal humano capaz de reconhecer o outro e presar o Ser acima de tudo: reposição satisfatór­ia do conceito de homem e de como a beleza é uma questão de relação.

O nosso interlocut­or, o professor Francisco Marques, um dos pioneiros

do projecto, toma contacto com as ideias da autora quando ambos se envolvem num projecto em 1984: um ilme que envolvia 400 crianças entre índios da América do Norte que viviam em reservas (ameríndios), crianças do Quebeque e crianças francesas. O efeito histórico deste ilme traz como pano de fundo a ida de Jack Cartier à América do Norte. O ilme, numa tradução feita na hora pelo professor, intitula-se “O Futuro nos Olhos de uma Criança”. Comenta que o ilme explora a visão de um encontro com o outro e como é que as crianças podem fazer isso de maneira alegre e com muita paz. Isso levou as crianças francesas a passar um tempo com as americanas e as americanas retribuíra­m ao gesto, tendo constatado neste encontro (à primeira vista pueril) elementos importante­s sobre a relação humana. O ilme foi apoiado pela UNESCO e foi exibido em canais franceses e americanos. Estes projectos deram certeza da utilidade da academia. A Bélgica não se fez indiferent­e e acolheu o projecto, onde ixaram residência faz 15 anos.

A ligação a Angola está ser estabeleci­da por via da Academia Globo Dikulu, que pretende assentar a criação de uma academia lusófona.

As crianças e o teatro

O professor explica que Elizabeth e muitos pedagogos dizem que o teatro para crianças ( entre 9 e 12 anos, período em que as ideias ainda não estão tão moldadas) é uma ferramenta importante para poder perceber esta arte como a linguagem da relação, uma resposta ao comportame­nto materialis­ta e individual­ista do mundo moderno. Acreditam que o teatro surge sempre como um acto comunitári­o, sempre ao serviço da comunidade. E é bom empreender isso nesta fase da vida da pessoa. É isso que tentam levar às pessoas, e não é uma procura das crianças com mais capacidade ou uma tentativa de capacitá- las, ou de criar líder, vedeta e estrela, já que tudo isso é o que eles percebem por via da televisão. Mas o teatro pode dar algo além destas perspectiv­as, a procura de talentos para afirmá- los como um bem útil à comunidade, visto ser um trabalho árduo e que sempre busca a verdade, a autenticid­ade e a originalid­ade.

Mas, continua o professor, é preciso não confundir a linha social da artística, fazendo entender que o teatro não dá respostas às problemáti­cas das crianças, isto porque ao teatro não compete se ocupar de áreas indicadas ao trabalho social: apenas fazer trabalho artístico.

A exemplo de Paris, onde trabalha há 15 anos com crianças muito pobres, trabalhar com crianças do Cazenga não foge à regra: a grande intenção é por as crianças em contacto com o melhor que o teatro oferece de autores e obras como Antígona para crianças, em que se desvenda da tragédia grega um forte sentido de geografia e história. E no fundo, define, o teatro é viajar, entender o autor, o que toca ou contrasta com a realidade do leitor. E repara que em tudo isso há algo de adulto que leva as crianças a estarem para lá dos limites e dos medos que às vezes a escola impõe, porque escolas há que deixam as crianças em situações críticas no que toca ao reconhecim­ento diferencia­l de outrem e ao humanismo. “Há medos ali à volta”, aponta, acrescenta­ndo que o teatro vem precisamen­te mostrar que as mesmas podem ultrapassa­r problemas e desenvolve­r capacidade­s para compreende­r com as suas emoções e sentimento­s as situações inerentes ao seu dia-a-dia, e que a cultura pode ser vista assim como um alimento muito importante para alma e para a vida interior.

O professor Francisco Marques

É a terceira vez que vem a Angola. Se é ou não difícil trabalhar com crianças, nos responde com um sorriso a sair dos cantos dos lábios que o mais difícil é ser adulto porque isso implica muitas manias, e uma delas é a de estar toda a hora a mandar calar as crianças. Retorquiu que não é difícil: “Não gosto de me dirigir a elas como se fossem quadradas. A minha exigência é mais para assentar respeito pelos outros. A falta de respeito e dizer coisas ruins são duas coisas a ultrapassa­r, porque é preciso que saibam desde criança que um homem não deve ofender outro”, reflecte.

Há vinte anos que vive em Paris. É formador na área de teatro e faz parte de uma companhia de teatro profission­al, que está baseada numa província francesa. Descobriu o teatro quando tinha 21 anos e não era a sua primeira formação: primeirame­nte formou-se em Gestão Mecânica. A escola não foi um lugar que lhe completou, por culpa também de alguns professore­s que demonstrav­am contra ele um certo grau de chauvinism­o pelo facto de ser filho de emigrantes portuguese­s. Percebeu cedo que não queria trabalhar com pessoas que o podiam prejudicar. Tinha foco em áreas que definia como prestadora­s de serviço social, como é caso da medicina, onde se inicia como ajudante de enfermeiro.

Uma vez, na cidade francesa aonde emigraram os seus pais, apareceu uma companhia de teatro de expressão popular que levou ao palco uma peça sobre a história da cidade, uma cidade famosa por possuir várias fábricas. Foi um dos 15 actores a actuar e teve muito impacto, e desde essa data que percebeu de forma irrevogáve­l que o teatro seria o caminho certo para estar em contacto com várias culturas, comunidade­s e idades. Deixou o seu antigo trabalho e se aventurou numa formação de quatro anos em Teatro, Filosofia e História. Desde então tem desenvolvi­do a actividade como formador.

NAYLON (Nelson Gonçalves)

Está sempre em movimento aqui e acolá. Brando, simpático, deixa sempre à vista o seu gosto em ser prestá- vel. É um pouco o que nos pareceu Naylon, ou melhor, o professor Nelson Gonçalves, que encontramo­s a rodar sobre o palco em passos muito cuidadosos como se de um desenho se tratasse. Naylon começa a fazer teatro numa das comunidade­s da igreja metodista. Recorda com orgulho acentuado que um dos primeiros personagen­s que interpreto­u foi a da figura de Pedro. Entra para o grupo de teatro do Centro de Animação Artística do Cazenga em 2010, após participar numa formação ministrada pelo actor Dalton Borralho.

Dos actores que admira, a estrela americana Denzel Washington é o primeiro da lista. Admira-o pela capacidade singular que tem em preencher cada momento de um ilme em que participa.

“Kakila” foi a peça com que se estreou no Cazenga. Interpreto­u um jovem guerreiro que se apaixona pela filha do seu inimigo. Mas a segurança de estar em palco e de encarar o centro do Cazenga como o seu ninho seguro veio a revelar- se firme quando interpreta o monólogo “Tarde demais”, que considera como linha separadora ( o antes e depois) quanto aos desafios por encarar na carreira de actor: “foi assim que me senti preparado e confiante. A peça foi montada em 2012 e veio a revelar muito do que quis fazer em palco”.

Fica a residir por um ano em Portugal e como trabalho de fim do seu projecto de formação volta a montar a mesma peça que novamente recebe junto dos lusitanos uma crítica positiva, tanto que mereceu uma segunda sessão depois da estreia.

Residente no Cazenga, repara que geralmente as pessoas deste município gostam do teatro, mas não têm muita cultura de assitir aos espectácul­os.

Acentua que hoje já têm conseguido cativar algum público. Antes, era muito pior. Superaram considerav­elmente este problema quando decidiram não cobrar nada, simplesmen­te para cativar e poderem ver a função do teatro nas suas vidas.

 ??  ?? Um momento do ensaio de A Maravilhos­a Viagem de Nils Holgersson
Um momento do ensaio de A Maravilhos­a Viagem de Nils Holgersson
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O professor Francisco Marques (ao centro)
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Os actores do Flores a Brincar
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 ??  ?? NYLON (à direita)
NYLON (à direita)
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