O Canto de Intervenção e as ex-colónias portuguesas antes durante e depois da guerra colonial
nador de Goa por temer que viesse a agravar a tensão que então se vivia por aquelas paragens .
Em 1956 Amália retoma o êxito, agora com David Mourão Ferreira a substituir o sofrimento negro pelo da companheira do pescador Eu sei, meu amor, que nem chegaste a partir, pois tudo em meu redor me diz que estás sempre comigo
leitava-mos com poemas de intelec- Sem dúvida que a vida de Amália se tuais angolanos, cabo-verdianos e de deixava muitas vezes levar pelos dita- outras paragens e embalávamo-nos mes do coração. Ainda em 1953 canta- ao som de músicas de resistência co- va, com letra de Reinaldo Ferreira, fi- mo MUXIMA, SEIS ONE NA TARRA- lho do célebre jornalista Reporter X FAL, FIDJO MAGOADO, MINDJER DI
PANO PRETO, BIRIM-BIRIM e outros No conforto pobrezinho do meu lar, temas de Liceu Vieira Dias que denun- há fartura de carinho.e a cortina da ja- ciavam a repressão colonial . a nossa nela é o luar, mais o sol que bate nela . proximidade com a República Kimbo
dos Sobas, onde viveu Agostinho Neto Em 1961, também com letra de Da- quando estudou em Coimbra, funda- vid Mourão Ferreira, cantava Abando- mentalmente constituída por angola- no, mais conhecido pelo Fado de Peni- nos não era meramente física - pois es- che, onde se lembravam lutadores pe- cassos metros nos separavam -, mas, la liberdade encerrados junto ao mar, essencialmente política.", nas pala- ano em que Álvaro Cunhal e outros on- vras do Presidente de Cabo Verde Jor- ze dirigentes comunistas fugiram do ge Carlos Fonseca em visita a Luanda Forte de Peniche no ano de 2013.
Estes intelectuais africanos canta- Por teu livre pensamento vam a revolta dos negros explorados, Foram-te longe encerrar. exprimindo nos seus poemas ou can- Tão longe que o meu lamento ções a dor da "Mãe África" e a neces- Não te consegue alcançar. sidade de libertação. Porém, nem E apenas ouves o vento sempre as palavras denunciavam E apenas ouves o mar. claramente injustiças ou apelavam à
luta, pois simples músicas tradicio- Levaram-te, a meio da noite: nais africanas, como MUXIMA, po- A treva tudo cobria. diam transformar- se em empolgan- Foi de noite, numa noite tes hinos de resistência, quando as De todas a mais sombria. circunstancias para isso contribuíam . ou impeliam.
Bem sabemos como canções que Como já referimos, durante os fi- apenas cantam a paz se tornam revo- nais dos anos 40 e até finais de 50 co- lucionárias quando cantadas em tem- meçaram a chegar à "Metrópole" inte- pos de guerra injusta ( se a guerra for lectuais africanos que ao conhecerem de libertação já o apelar à paz terá sig- movimentos como a Negritude cimen- nificado bem diferente .)! taram posições ideológicas que vie- ram a dar origem às lutas de liberta- Começámos estas linhas referindo ção. Esses estudantes juntavam-se em que a balada MENINO DO BAIRRO NE- residências universitárias onde os GRO, composta e interpretada em ideais nacionalistas eram aprofunda- 1963 por José Afonso e onde se retra- dos, sendo disso exemplos em Lisboa tava a pobreza num bairro do Porto, a já referida CEI e em Coimbra a Repú- pode ser considerado o primeiro tema blica dos Mil-Y-onários, onde "nos de a denunciar a exploração do negro de- pois do inicio da guerra da guerra co- lonial. Todavia, nesse mesmo ano,