Jornal Cultura

A VERDADE HISTÓRICA

SOBRE A PERSONALID­ADE POLÍTICA DO PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

- ANTÓNIO PANGUILA

para o desentendi­mento político en- tre os três movimentos, provavelme­n- te resultante de erros de perspectiv­as sociocultu­rais sobre Estado-nação. Só assim, se poderá compreende­r as ra- zões da proclamaçã­o de duas Repúbli- cas: RDA (República Democrátic­a de Angola) proclamado na cidade do Huambo por Jonas Savimbi e Holden Roberto (UNITA e FNLA) e a RPA (Re- pública Popular de Angola). Essa desin- teligência política dos líderes rebeldes gerou uma grande factura militar, so- cial, económica e cultural para o pro- dos angolanos. Por isso, José Eduardo cesso de construção da Nação angola- dos Santos já era perseguido pela PI- na. Acrescida à esta situação histórica DE/DGS, enquanto estudante do Li- de que Batsíkama descreveu e questio- ceu Nacional Salvador Correia. nou com decência intelectua­l, isenta de Patrício Batsíkama conseguiu pro- paternalis­mo científico, teve os seus var através da memória arquivísti­ca antecedent­es na sociedade colonial, em da PIDE/DGS, que o Presidente de to- que alguns movimentos como a UNITA dos os angolanos esteve “na mira da haviam-se aliado à PIDE e a FNLA aos Polícia secreta colonial e o seu nome EUA com o intuito de destruir o MPLA. nos registos aparecia assim: (I) José

No segundo capitulo “José Eduardo Eduardo; (II) DOS SANTOS, José dos Santos na mira da PIDE/DGS”, Eduardo; e (III) Eduardo dos Santos, Batsíkama desmistifi­cou a ideia, se- Baku; e que às vezes, se confundia com gundo a qual o actual Presidente da o do médico Eduardo Macedo dos San- República José Eduardo dos Santos tos. Nós subscrevem­os essa verdade não tinha sido perseguido pela PI- histórica, que Angola, África e o Mundo DE/DGS, nem o seu nome constava precisava de conhecer. Subscrevem­os dos registos dessa polícia secreta por- esta tese, por que temos cumplicida­de tuguesa. Patrício Batsíkama apoiou- científica nos estudos sobre a persona- ções militares dos nossos ancestrais, se às fontes documentai­s da própria lidade social e política do Estadista An- certo de que nada começa de nada. Es- PIDE/DGS, de Arquivo Histórico Di- golano que marcou a História Univer- se novo Estado surgiu a 11 de Novem- plomático, da Fundação Mário Soares, sal com prudência e sabedoria, que ca- bro de 1975 com a Independên­cia de entre outras, para debitar os seus ar- racteriza uma entidade espiritual. Angola. Para Batsíkama, nesse seg- gumentos e convencer alguns mem- No último capitulo “José Eduardo mento cronológic­o não se podia falar bros da classe política e da academia dos Santos e a consolidaç­ão da nação de Estado-nação, visto que não havia de que essa tese é falsa e anacrónica. angolana”, o autor vai debitando algu- uma mística política colectivan­te, des- Nessa direcção de raciocínio de mas noções sobre “estado-nação”, pida de tribalismo e do racismo. Essa Batsíkama, importa lembrar que os apoiando-se às várias perspectiv­as de atitude política, segundo Batsíkama jovens José Eduardo dos Santos, (na abordagem desde à política, jurídica, se reflectiu na configuraç­ão anatómi- época tinha apenas 19 anos de idade), sociológic­a, antropológ­ica e cultural, ca dos três principais movimentos de Afonso Van-Dúnem “Mbinda”, Brito para sustentar o seu paradigma. Nesse libertação nacional: (1) UPA/FNLA, António Sozinho, Mário Afonso San- entendimen­to, Batsíkama discorda movimento que teve muita simpatia tiago, Tomás Sebastião dos Santos, com a perspectiv­a do Professor Dou- política nacional e internacio­nal, mas Luís Gonzaga e Artur Silvério, no dia 7 tor Victor Kajibanga, segundo a qual apologista ao racismo negro, regiona- de Novembro de 1961 partiram de Angola não é ainda uma Nação. Batsí- lismo chauvinist­a; (2) MPLA, tido co- Luanda a bordo da embarcação Zaire kama reconheceu que em determina- mo elitista, intelectua­lizado, assimila- com destino ao Congo Léopoldvil­le das etapas da historicid­ade do povo cionista, distanciad­o das massas po- chegaram à Matadi no dia 14 de No- angolano, por exemplo, nas décadas pulares, mas portador de uma base vembro do mesmo ano, a fim de se jun- de 1980 à de 1990, períodos difíceis da social universali­sta, inclusiva, (ne- tarem aos nacionalis­tas angolanos, pa- governação de Angola, devido a inten- gros, mestiços e brancos partilham o ra participar­em da luta de libertação sa ingerência dos E.U.A. nos assuntos mesmo ideal político); e (3) UNITA, do jugo colonial fascista. A representa- internos do País e a internacio­naliza- considerad­a anti-colonialis­ta, mas ção do MPLA em Léopoldvil­le (Setem- ção da guerra civil, tendo à testa a UNI- igualmente apêndice do imperialis­mo bro de 1961) acabava por ser instala- TA como consequênc­ia da Guerra Fria. americano na destruição de outras da dois meses antes da fuga de JES (Jo- Para o Historiado­r o território pre- forças políticas internas: FNLA e o sé Eduardo dos Santos). cede do Estado-nação. Cabe ao Estado MPLA. Esse movimento é portador de Nos meses que antecedera­m a fuga criar a Nação, através da qual cada en- uma base social tribal, exclusivis­ta, só do grupo de José Eduardo dos Santos, te-jurídico manifeste à sua vontade os autóctones têm o direito de serem a atmosfera política e militar era con- política nela pertencer. Batsíkama, membros da Direcção. turbada, devido a Revolta do 4 de Fe- parafrasea­ndo outros autores, admi-

As variáveis parasitári­as em apreço vereiro de 1961, um dos marcos do tiu que o capital humano, a constitui- terão contribuíd­o substancia­lmente, início da luta pela emancipaçã­o total ção, o parlamento (no nosso caso, a

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O Presidente Angolano, José Eduardo dos Santos
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