1. Multiplicidade e desintegração
DA UNIDADE NA OFICINA DE ESCRITA DE LUANDINO VIEIRA
conserva em si unidade, quando é um todo completo, não um fragmento; fi- nalmente, possui unidade, no sentido rigoroso do termo, tudo aquilo cujas No âmbito da reflexão ontológica, é
partes se encontram fortemente vin- sempre relevante discutir a questão da
culadas umas às outras, de tal modo unidade de um objecto, seja ele qual for,
que a separação de uma parte corres- sobretudo no que concerne à sua com
ponde à destruição de todo o resto, tal posição. Em tratando-se de obra literá
como a agregação de uma parte não ria, não é difícil deparar-se com juízos
solidária de igual modo o debilitaria. deveras assombrosos acerca da sua
Considere-se, nesta última definição unidade, adquirindo este conceito sen
de unidade (donde avulta claramente tidos que não se aplicam a outros ob
a problemática da coesão interna), a jectos. Diz-se, por exemplo, que a obra x
questão da unidade de uma obra lite- ou y não possui unidade, ou que a sua
rária, pois, nela, é levada em linha de unidade é diminuta – juízos de valor ne
conta não só a coerência inteligível da gativo, que partem do pressuposto de
lógica causal da história representa- que a unidade de uma obra é um atri
da, como a consistência do género da buto valioso e condição sine qua non.
obra no seu conjunto. Em suma, uni- Juízos deste género podem ser valida
dade numérica, integridade e coesão dos, aliás, pela sua persistência ao lon
ou necessidade (inteligível e estilísti- go do tempo, sendo a formulação mais
A complexidade do conceito de uni- ca) das três partes, são as três notas influente procedente de Aristóteles. dade deve ser abordada de três ângu- fundamentais do conceito de unidade los distintos: em primeiro lugar, a uni- da obra literária singular, ocorrendo dade entendida como um valor numé- nitidamente nos argumentos aristoté- rico, no sentido de que o valor do nú- licos sobra a unidade de acção. mero 1 não está nele próprio, está, an- A unidade configura-se, por isso, tes, no número 2, 3, 4, etc.; em segundo como uma estrutura essencial do ser lugar, considera-se que algo é uno e das coisas, uma categoria, no sentido