NA DEFESA DOS INTERESSES NATIVISTAS
David Birmingham, no seu livro “Portugal e África”, traduzido para português pelo ilustre académico angolano Arlindo Barbeitos, considera que, na sequência do início da luta armada, em 4 de Fevereiro de 1961, logo de seguida, em Março desse ano, “ocorreu o maior levantamento de sempre na África colonial. A guerra de libertação de 13 anos, que começara nos campos de algodão e se espalhara para os musseques da cidade, explodiu na região angolana do café”.
Entre a declaração do im do trá ico negreiro,pelo decreto de 10 de Dezembro de 1936,assinado pelo marquês de Sá da Bandeira e o início da implantação da República em Portugal, a 5 de Outubro de 1910, várias experiências alternativas de exploração tropical foram levadas a cabo, tais como: “o açúcar, o tabaco, a vinha, a extração do carvão, a caça à baleia, a prospecção do cobre e o cultivo do trigo”. Contudo, foi o café que melhor resultou, tendo a sua produção chegado às 11 mil toneladas/ano, em meados dos anos 90 do século XIX, mas bem distante de um milhão de toneladas produzidas pelo Brasil para o mercado mundial.
A irregularidade do cultivo do café levou a que, apenas, na década de 30 do século XX, se voltasse aos índices da última década do século anterior. Depois disso, a produção do café cresceu signi icativamente chegando a ultrapassar o rendimento da Diamang, cuja proprietária era, à época, a de Beers. Com a chegada crescente e voluntária de portugueses, a imagem de Angola como uma colónia de degredados foi- se modi icando. Os novos imigrantes, comerciantes do mato, transformaram-se em fazendeiros de café e gerentes de plantações, graças à sistemática alienação de terras dos nativos e do recrutamento forçado de mão-de-obra.O empobrecimento e a perda de prestígio social por parte da elite nativa levaram à emergência do associativismo em Angola, nomeadamente, da Liga Angolana, em 1912, sendo relatada por Eugénia Rodrigues a constituição, entre 1914 e 1922, de alguns membros desta agremiação, dos quais destacamos a história de vida de alguns deles:
- Manuel Inácio Santos Torres foi, em 1914, presidente da Assembleia Geral, vice-presidente da Assembleia Geral, em 1917, suplente da Direcção, em 1921 e presidente da Direcção, em 1922, aquando da extinção da Liga Angolana. Nasceu em 23 de Outubro de 1879, era funcionário dos Correios e Telégrafos, tendo trabalhado em Benguela e em Luanda. Foi um dos mais activos dirigentes nativistas das décadas de 1910 e 1920 e reconhecido como orador talentoso. Acusado de ser o depositário das armas na alegada conspiração de 1914 (ataque às instalações portuguesas em S. Salvador e “revolta de Malange”), foi preso durante alguns dias.
- Maurício Ferreira Rodrigues de Almeida foi Secretário interino da Câmara Municipal de Luanda em 1907. Membro do centro democrático, concorreu pelas suas listas em 1916 e demitiu-se em 1917. Foi um dos principais dirigentes da Liga Angolana, tendo integrado a direcção entre 1914 e 1917. Acusado de ser o líder da alegada conspiração de 1914, foi preso durante alguns dias. Faleceu em 1932.
- João de Almeida Campos foi condutor da Direcção dos Caminhos de Ferro de Luanda, casado com Maria Eduarda Simões de Abreu. Em 1913, exerceu as funções de fiscal do governo junto do Caminho de Ferro de Ambaca. Foi um dos principais dirigentes da Liga Angolana e provavelmente o seu primeiro presidente. Integrou a direcção, pelo menos em 1914, 1916 e 1917.
- Fernando Torres Vieira Dias, filho de José Vieira Dias, agricultor e comerciante, foi despachante das Obras Públicas. Foi eleito para o senado municipal em 1926 e foi um dos principais dirigentes da Liga Angolana, mas também, mais tarde, da Liga Nacional Africana, de que foi fundador, integrando por inúmeras vezes os corpos dirigentes de ambas as associações.
- Evaristo Nicolau Correia, funcionário da Secretaria Geral do governo, foi dirigente da Liga Angolana, em 1915 e 1916. Faleceu a 4 de Novembro de 1933.
- Francisco António Octávio, funcionário público, foi dirigente da Liga Angolana em 1916, 1917 e 1921.
- João Batista Sousa e Andrade, originário de uma família antiga de Luanda, foi funcionário dos Correios e Telégrafos, tendo-se aposentado como primeiro o icial. Foi dirigente da Liga Angolana, em 1917. Em 1923, dirigia a cooperativa dos funcionários públicos. Foi director do jornal “O Direito”. O seu ilho Álvaro Sousa e Andrade estudava em Portugal, onde concluiu medicina, em 1939.
Sebastião Francisco de Sousa, ilho do tenente-coronel Pedro Francisco de Sousa, um dos militares da ocupação dos Dembos, em 1908, foi funcionário dos Correios e Telégrafos, tendo-se aposentado como primeiro o icial. Foi dirigente da Liga Angolana, em 1917.
* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais