A lusofonia é uma bolha 2. Um multiculturalismo vazio
sidades, opinião, che ias ou governo); além de um baixo horizonte de expectativas, nas escolas, nos meios intelectuais e artísticos.
Na ausência de oportunidades ou estímulos sócio-culturais e económicos, o desânimo assola: foi na capital do império que eu montei a minha barraca / não consigo afastar a minha pistola, enquanto menino não conheci nenhuma escola, no liceu nunca vi / reformatório já fugi / Saramago nunca li / preparatório desisti, cantam os Phillarmonic Weed.
A vida apartada do centro (da tal Lisboa cool e multicultural) que habita em dormitórios, que se arrasta em comboios e barcos de exaustão, ou passeios a centros comerciais, é uma espécie de condição reproduzida em várias gerações, excluída deste cartão de visita que crêem fazer valer quando se fala de uma sociedade onde cabem todas as culturas. Mas, a partir da periferia, a nova diáspora africana “ultrapassa em grande parte as visões simplistas de diferença cultural e racial que dominam o discurso público” (Teresa Fradique, Fixar o Movimento, 2002, p.69), por exemplo através do rap, construindo um discurso crítico sobre essa mesma condição.
6. pensar o “Outro”: um multiculturalismo vazio
A única forma de pensar o “Outro” até agora tem sido ou assimilar ou tolerar (Sanches, 2006: 8), ou apenas explorar. Entenda-se tolerância no sentido do ilósofo esloveno Slavoj Zizek: tolerar o “Outro enquanto este não é o verdadeiro Outro, mas o Outro asseptizado da sabedoria ecológica pré-moderna (…)a partir do momento em que se trata do Verdadeiro Outro (digamos, à clitoridectomia, às mulheres condenadas ao uso do véu, à tortura que acarreta a morte dos inimigos), da maneira como o Outro regula a especi icidade do seu gozo, a tolerância detém-se.” (Zizek, 2006: 76) Ou seja, ou se procura o semelhante (omiti-lo em nome da homogeneização da nação) ou o respeito distante, sempre por aquilo que é inofensivo e ‘tratável’, o que pressupõe uma despolitização de todo este processo ou estratégias de convivência.7
Se a multiculturalidade surgida na Europa é entendida como um veículo que proporcionou políticas de reconhecimento, há que contextualizá- la. No meio de tantas ofertas culturais e tantas boas vontades de ‘abertura ao Outro’, há que ter cuidado comas versões de multiculturalismo para as quais somos convocados,