Jornal Cultura

Soul e Jazz de Diana Debrito

- MATADI MAKOLA |

A três ou quatro passos da porta de entrada do aconchegan­te espaço musical da Taberna e Galeria Art Room, situada na Mutamba, estava sentada a jovem que ninguém descon iava ser a grande estrela da noite. Visivelmen­te tensa e de ar abstrato, trajada à maneira provocante das divas pop, a presença dela parecia ser o pormenor que tornava aquela velha sala num ambiente requintada­mente boémio, uma imitação iel de alguns fundos de temas não undergroun­d como os de Sade ou Michael Jackson.

A interpreta­ção com arranjos de jazz de Azulula, de Gabriel Tchiema, tinha posto de fora a inicialmen­te tímida noite de quinta-feira, 5 de Março. Era dia de Aniversári­o de Diana, que também denunciava estar tímida, acompanhad­a no saxofone pelo israelita Ilia, no piano pelo kota Terinho e, surpreende­ntemente, na guitarra pelo grande Xerife, uma estrela do Afra Sound Star, por sinal seu pai. A pausada interpreta­ção de Slow, de John Legend, começara como sinal de um início distinto de melodiosos arranjos e interpreta­ções musicais trazidas nas pontas de uma terna e nova voz que caprichosa­mente não se dissipava no ar, icava sempre no ouvido e preenchia os presentes. Aliás, Ngoy Salucombo, fotógrafo e um dos organizado­res, foi preciso ao de inir que este espaço privilegia artistas talentosos que ainda não façam parte do cardápio dos mídias.

Ela não segue o canto à maneira de cantoras clássicas do jazz americano, determinan­te feminista e condutor militante de conceitos que se revêem com a luta pela justiça racial no mundo, com aquele tom melancólic­o e carregado de profundas e perspicaze­s análises.

Destinado a ser um concerto intimista com a sua voz suave numa mistura de jazz e soul, a banda espontanea­mente denominada Até Jazz acertou arrojadame­nte e passeou por um repertório que cruzava Bob Marley, Nat King Cole, Gretchem Parlato, Lianne La Hava, Tom Jobim, Djavan e Burgaboy, suas referência­s na educação estética esmerada que busca em Inglaterra.

Cantora desde os cincos anos, Diana Debrito estudou Performing Arts na conceituad­a escola inglesa St.Pauls Catholic High School, cidade de Wythenshaw­e, sendo que em Manchester adquiriu o seu diploma de Vocal Artist no Trafford College. Para esta que foi a sua primeira apresentaç­ão no país que lhe viu nascer, há quase duas décadas, neste concerto de conceito livre, predominan­do a praia musical do artista, a cantora mostrou ser uma voz promissora e detentora de um canto vergável e ainda à procura de vozes angolanas enraizadas que podem servir de modelo e direcciona­r o conhecimen­to e o talento à recriação de propostas estéticas à altura das suas quali icações.

Na breve troca de palavras mantida a meio da sessão, colhemos que sonha que a sua música produza um efeito de cura às pessoas e leve a entender que podem sempre contar com ela e que nunca estarão sozinhas, uma presença viva e uma mensagem que procure confortar e acalentar este vazio das sociedades modernas. Esta a construir uma mixtape para lançar este ano. Sobre o género, acha que ainda é muito cedo para criar rótulos, mas garante ser qualquer coisa numa onda muito suave e pura. Nas suas visitas a Angola tem procurado formas de travar conhecimen­tos com vários artistas angolanos. Em Londres, tem exibições disponívei­s no seu soundcloud e já conseguiu chamar a atenção de produtoras da Alemanha e França.

Mas a noite não foi só dela, Zé Turra mostrou aos presentes o seu dom especial de usar o cerrote e uma régua escolar como instrument­os musicais, fazendo resultar da fricção de ambos sons semelhante­s aos do violino.

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Diana Debrito

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