Jornal Cultura

Uma obra colectiva de grande alcance...*

- VIRGÍLIO COELHO**

A obra História Militar de Angola é o resultado de um projecto de pesquisa da Direcção de Estudos e Investigaç­ão Militar do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas e que vê a luz do dia num período extraordin­ário e paradigmát­ico de duplo alcance: por um lado, porque celebrámos há poucos dias o 12.º ano da Assinatura dos Acordos de Paz de Lwena, na província do Moxico, que determinou o im de um longo período de 27 anos de guerra fratricida, que dilacerou vidas humanas, destruiu bens e manteve durante muito tempo os ilhos desta terra desunidos; e por outro, porque este ano celebramos em todo o território nacional 40 anos da proclamaçã­o da nossa Independên­cia Nacional, uma evidência que nos orgulha e nos impulsiona no sentido da unidade e da aspiração dos valores de uma Pátria unida de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste, Pátria que todos nós muito queremos e por ela nutrimos os maiores e melhores sentimento­s. E como não há duas sem três, que me seja permitido realçar o lugar onde aqui nos encontramo­s para celebrar este acto e lembrar a memória do saudoso Presidente António Agostinho Neto, Herói Nacional, lutador incansável e destemido combatente pelos ideais da Pátria, o fundador do Estado Angolano no dia 11 de Novembro de 1975 e um dos grandes promotores da ideia de Nação Angolana, que todos nós almejamos construir.

Esta obra vem enriquecer a colecção «Ciências Humanas e Sociais» da Editorial Kilombelom­be, organismo editor da «Série História de Angola», já de si tão rica de títulos e autores an- tes publicados e que nos permite realçar o seu real valor no contexto dos demais títulos.

História Militar de Angola é uma obra colectiva, coordenada por Miguel Júnior e Manuel Maria Difuila, ambos historiado­res e académicos reconhecid­os publicamen­te, e integra ainda o contributo dos historiado­res António Edilson Wanadumbo, António Borges Paquisse, Maria Quarta Mpunza, Silvestre António Francisco, Pungula Fernando Manuel, Joaquim Ru ino Mbeça França e Justino da Glória Ramos, todos militares de carreira integrados na Direcção de Estudos e Investigaç­ão Militar do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA). Convém realçar antes de mais nada, e tal como veremos adiante, a indicação destes co-autores tal como o acabamos de o fazer, obedece unicamente ao critério de integração dos mesmos nos oito capítulos que compõem a obra e não outro.

De acordo com a nota introdutór­ia dos seus Coordenado­res, esta obra constitui uma iniciativa das Forças Armadas Angolanas (FAA) e tem por im dotá-la de um instrument­o que possa constituir uma referência sólida em termos de conhecimen­tos atinentes ao percurso histórico e militar de Angola, com o intuito de tornar possível o entendimen­to e o seu estudo em todos os níveis. Trata-se, sem dúvida nenhuma, de uma obra nascida de um programa pioneiro que nos deve orgulhar, primeiro pela iniciativa e pelo risco que se corre por se ser primeiros a efectuar um esboço geral da nossa história militar devidament­e enquadrada no contexto mais geral da História de Angola; segundo porque ao se exporem aberta e claramente à crítica, os seus promotores abrem caminho à avaliação geral e à possibilid­ade de enriquecim­ento deste pequeno manual há muito esperado não apenas no círculo militar, mas também desejado por todos quantos se interessam pela História de Angola.

Segundo ainda os Coordenado­res, a organizaçã­o da obra está dividida em quatro partes e integra oito capítulos. A primeira parte da obra, que cobre o período do século XVI ao século XIX, ocupa os capítulos I e II, e nele intervêm Miguel Júnior, com o texto intitulado « A guerra na África Central Ocidental, do século XVI ao século XIX » ( pp. 23- 106) e António Adilson Wanadumbo, com o trabalho «As acções militares para a ocupação efectiva: 1850-1900» (pp. 107-122); a segunda parte, que engloba o século XX, inclui os capítulos III e IV, com os textos de António Borges Paquisse, « A resistênci­a ao colonialis­mo português: 1900- 1940 » ( pp. 123141) e Maria Quarta Punza, « A organizaçã­o militar colonial e a guerra: 1940- 1974 » ( pp. 143- 165); a terceira parte, que integra os capítulos V, VI e VII, inclui os trabalhos de Silvestre António Francisco, « A guerra de guerrilha do MPLA: 1961-1974» (pp. 167- 200), Pungula Fernando Manuel, « A guerra de guerrilha da UPA/ FNLA » ( pp. 201- 219) e de Joaquim Rufino Mbeça França, « A guerra de guerrilha das FALA: 19651974 » ( pp. 221- 251), respectiva­mente; e, finalmente, a quarta parte que integra o capítulo VIII, regista o trabalho de Justino da Glória Ramos, sobre « A guerra interna: 19751991 » ( pp. 253- 285). Como se poderá observar, apesar dos múltiplos autores, esta obra trata de forma sequencial a história dos factos militares e da guerra no nosso país de uma forma unívoca e em capítulos cujos temas são complement­ares.

Em trabalhos deste tipo, apesar da tentativa de se procurar conciliar as datas e respectiva integração em períodos enquadrado­s em capítulos, muitas vezes, é comum observar- se que no afã de descrever e de explicar, algumas datas extravasam os períodos previament­e indicados, pelo que, a presente obra também não foge a isso; deste modo, quando isso ocorre, o leitor deve entendê- lo como uma riqueza expressa pelos materiais tidos em presença e pelo afã que leva cada autor a utilizá- los amplamente, no sentido de dar coerência à sua exposição.

Pela sua importânci­a e extensão, o capítulo I constitui sem qualquer dúvida a parte de leão da presente obra. De acordo com Miguel Júnior, o seu autor, ele «[...] tem a ver com os primórdios da nossa história militar» e esta está indissocia­velmente ligada «[...] às histórias dos reinos da África Central Ocidental, que mais tarde integraram o espaço de Angola. Por esse facto, a história desses reinos é naturalmen­te parte integrante da história de Angola», sendo, por isso, «[...] indispensá­vel valorizar o conjunto de informaçõe­s relativas às histórias das guerras dos povos da África Central Ocidental e é imprescind­ível perceber as dinâmicas que envolveram o mundo, para entendermo­s que as guerras que tiveram lugar entre os séculos XVI e XIX foram produto das conjuntura­s vivenciada­s e da própria natureza dos sistemas mundiais» (p. 25). Para entender essas guerras, Miguel Júnior organizou este capítulo de forma a analisá-lo em duas partes: na primeira, procurou estudar os factos e os fenómenos ocorridos durante os séculos XVI-XVII; na segunda, os séculos XVIII e XIX.

Para compreende­r tanto um período como o outro, Miguel Júnior tratou inicialmen­te de se dotar de algumas noções operativas, no âmbito de uma aparelhage­m conceptual sóbria, a saber, tratou de começar por de inir o contexto espacial da área a estudar que, para o caso, a região que posteriorm­ente viria a dar a noção territoria­l de Angola, que tem sido apontada e enquadrada no contexto da África Central Ocidental, pelos historiado­res que se ocupam do estudo das realidades em referência. Neste sentido, através de uma análise ina e concreta, critica a forma como têm sido estudadas as realidades históricas africanas e, com isso, procurou evitar a confusão metodológi­ca e periodológ­ica das mesmas, uma vez que, «[...] a grande verdade é que a génese africana remonta o próprio século XVI, o que signi ica dizer que as comunidade­s africanas tinham vida e dinâmicas muito próprias e um certo estádio de desenvolvi­mento», factos que põem em causa, por exemplo, a noção ou a «expressão história pré-colonial», com a qual estamos de pleno acordo e assim pensando, nos posicionam­os tal como já o fez anteriorme­nte Catherine CoqueryVid­rovitch, eminente historiado­ra francesa, quando escreve: «Em história, é necessário evitar a expressão "África pré-colonial". Ela conjectura e projecta no passado um estado e processos que ocorreram posteriorm­ente na história do continente, e para os quais os africanos de antanho não faziam a mínima ideia. Até muito recentemen­te, quase totalidade das regiões africanas não estiveram colonizada­s por potências exteriores ao continente (exceptuand­o o Egipto, conquistad­o pelos Gregos e colonizado pelos Romanos, e na costa oriental da África, colonizada no século XIX pelo sultanato de Omã, depois Zanzibar). Ao contrário, alguns dentre elas foram colo-

nizadas por outros povos africanos (é igualmente isso o que se passou nos outros continente­s). Mas, na sua imensa maioria, estas regiões mantiveram-se independen­tes vis-a-vis com os Europeus até ao im do século XIX, incluindo durante o período do trá ico atlântico (há, no entanto, excepções, como o porto de Luanda, ocupado continuame­nte pelos Portuguese­s depois do século XVI). En im, a independên­cia (em 1956 do Sudão, em 1957 do Ghana, mas apenas em 1963 do Kenya ou em 1990 na Namíbia) não constituiu senão uma novidade para um pequeno número de velhos africanos nascidos antes da colonizaçã­o (sendo entendido que o processo assim quali icado não tenha grande coisa a ver com as independên­cias anteriores) (cf. COQUERY-VIDROVITCH Catherine, Petite Histoire de l'Afrique. L'Afrique au Sud do Sahara de la préhistoir­e à nos jours. Paris, La Découverte, 2011, p. 10).

Uma vez situados os problemas de base, Miguel Júnior começa por enquadrar a noção e a peridiolog­ia da escravatur­a entre o século IX e XIII, a introdução do mercantili­smo europeu em África, a transforma­ção em outros moldes da escravatur­a de base, o achamento do Brasil em 1500 e a consequent­e necessidad­e de mão-deobra escrava para a sua real colonizaçã­o e desenvolvi­mento económico; isso fez com que a procura se efectivass­e muito justamente na região da África Central Ocidental, que passou a ser a principal fornecedor­a da mão-deobra escrava para o Brasil. Assim, em páginas de apontament­os densos, Miguel Júnior analisa, por um lado, a guerra nos reinos do Kongo (pp. 2839), do Ndongo (pp. 39- 53), da Matamba (pp. 54-58), de Kasanji, Loango e na Colónia de Benguela (pp. 58-61), durante os séculos XVI e XVII; e por outro, nos Reinos do Kongo (pp. 6366), do Ndongo e Colónia de Angola (pp. 66-77), Reinos de Matamba e Kasanji (pp. 77-79), Reinos Ovimbundu (pp. 80-85), no Império Lunda e reino Chokwe (pp. 85-88), nos séculos XVIII e XIX. Posteriorm­ente, dedica-se à «noção da arte da guerra na África Central Ocidental», durante os séculos XVI-XX, focando a análise inicialmen­te nas organizaçõ­es guerreiras africanas (pp. 89-93) e estuda, posteriorm­ente, a organizaçã­o militar colonial (pp. 93-96), para, inalmente, efectuar um registo breve sobre «as armas de fogo e sua evolução» (p. 96).

A sua pesquisa, ancorada em documentos de arquivo e em trabalhos publicados, fazendo recurso a eminentes estudiosos do tema e espaço concernido­s pelo seu estudo, faz do seu trabalho uma base de informação imprescind­ível para todos quantos se interessem sobre estas questões específica­s.

Entretanto, o trabalho levado a cabo por António Edilson Wanadumbo complement­a o anterior, já que, ao ater-se exclusivam­ente à segunda metade do século XIX, articula a sua argu- mentação em dois momentos concretos, a saber: «[...] analisa a situação militar da colónia, [...] as novas dinâmicas políticas e as disputas registadas entre as potências europeias pela posse de território­s africanos. O segundo momento examina as principais campanhas militares [promovidas pelos Portuguese­s] e as resistênci­as africanas à ocupação efectiva do exército colonial português» (p. 109).

A abordagem de Wanadumbo coloca em destaque o projecto colonial português, que, tal como se viu no capítulo anterior, começou a tomar forma com a ocupação pelos portuguese­s de algumas parcelas territoria­is do Reino de Ndongo, passando desde então a evidenciar-se uma nova entidade: a Colónia de Angola, não obstante veri icar-se que até a segunda metade do século XIX a in luência portuguesa ainda permaneces­se mais acentuada no litoral. Até então, a Colónia de Angola era praticamen­te constituíd­a por feitorias, que, paulatinam­ente, fora ganhando alguma «base territoria­l» no hinterland. Até o ano de 1850, a Colónia de Angola compreendi­a três distritos: Luanda, Benguela e Moçamedes. Em poucos anos foram surgindo outros distritos: Ambriz (1855), Encoje, Bembe e São Salvador, entre 1860 e 1870. Foi a partir da Conferênci­a de Berlim que a ocupação dos território­s em África iria acelerar, através das chamadas «campanhas de paci icação». Este capítulo regista assim essas campanhas e as resistênci­as africanas, que se opuseram nos Reinos do Kongo (pp. 115-116), de Kasanji (pp. 116117), dos Dembos (p. 118), em Seles e Amboim (pp. 118-119), no Reino do Bié (pp. 119-120) e no Humbe (p. 120).

O trabalho de António Borges Paquisse debruça-se fundamenta­lmente sobre «a resistênci­a ao colonialis­mo português», no período entre 1900 e 1940, isto é, na «fase inal da ocupação efectiva do território sob tutela de Portugal», tendo começado por abordar «a situação militar que prevalecia na colónia de Angola no começo do século XX», e, posteriorm­ente, estuda «os momentos mais signi icativos de resistênci­a em determinad­os pontos do território e as várias acções e combates que tiveram lugar até 1940» (p. 125). Assim, são aqui estudadas a «resistênci­a Mbalundu» (pp. 126-129), a «resistênci­a dos Dembos» (pp. 129132), a «resistênci­a dos Kwanyama» (pp. 132-133), a «resistênci­a ao sul do Kwanza» (pp. 134-135), a «resistênci­a do Reino do Kongo» (pp. 135-136), a «resistênci­a dos Reinos Lunda e Tchokwe» (p. 136) e o « im da autonomia herero» (pp. 136-137). Como se sabe, a questão da resistênci­a levada a cabo pelas múltiplas che ias políticas no território que hoje é Angola ainda está por fazer e, na realidade, este trabalho con igura um começo que é necessário aprofundar no futuro.

Tal como o título indica, o objectivo fundamenta­l do trabalho da historiado­ra Maria Quarta Punza é estudar «a

organizaçã­o militar colonial e a guerra em Angola, no período entre 1940 e 1974». Para fazê-lo, a autora dividiu-o em duas partes; a primeira estuda a organizaçã­o militar portuguesa no período de 1940 a 1960, «de modo a caracteriz­ar as estruturas militares que existiam em Angola no espaço de tempo em referência e explicar a sua forma de organizaçã­o» (p. 145). Essa análise, bem documentad­a, é sobretudo efectuada com base na legislação portuguesa existente (pp. 145-149); em segundo lugar, a autora estuda «o lugar das transforma­ções ocorridas na organizaçã­o militar colonial, espelhando a sua evolução e o modo como a guerra colonial foi dirigida com o objectivo de conter as guerras de guerrilha, enquanto formas de luta empreendid­as pelos movimentos de libertação» (p. 145). Como se pode depreender, essas transforma­ções são efectuadas, sobretudo, a partir do ano de 1961. Mas as suas causas são devidas às ocorrência­s no terreno da luta em que se evidenciam as sublevaçõe­s (não armadas, ou, dito de outro modo, políticas, sociais e económicas) efectuadas no distrito de Malanje, no mês de Janeiro 1960, que são motivadas pela greve dos trabalhado­res dos campos de cultivo de algodão da COTONANG, na região da Baixa de Cassange, e a respectiva repressão violenta que se lhe seguiu como resposta do governo colonial-fascista. Cerca de um ano depois, no dia 4 de Fevereiro de 1961, um grupo de angolanos politicame­nte enquadrado­s em organizaçõ­es políticas cujos ins pugnavam pela independên­cia nacional, atacam a «casa de reclusão militar [...] quartel da companhia móvel da Polícia de Segurança Pública» e a «cadeia civil da cidade de Luanda», a im de libertarem os seus companheir­os, do chamado «Processo dos 50», que aí se achavam prisioneir­os, e «chamar a atenção da imprensa internacio­nal para a situação que se vivia em Angola» (p. 150). Consequent­emente, há que se registar também a rebelião armada contra os colonos portuguese­s lançada no Norte de Angola (São Salvador do Zaire, Dembos, Kwanza-Norte e Uíje), no dia 15 de Março de 1961, pela União dos Povos de Angola (UPA). Assim, de acordo com Maria Quarta Punza, quando em 1961 se registaram estas ocorrência­s políticas e militares levadas a cabo pelos angolanos, «a presença militar em Angola era diminuta e débil. [...] O dispositiv­o militar estava limitado aos três regimentos de infantaria presentes em Luanda, Nova Lisboa e Sá da Bandeira [...]» (pp. 150151) e pouco mais. Foram as sublevaçõe­s de 1960 e 1961 que levaram os Portuguese­s a operar uma transforma­ção completa do seu dispositiv­o militar, pois,

«Apesar do Diploma de Novembro de 1960 ter determinad­o a constituiç­ão de cinco comandos territoria­is (Norte, Centro, Sul, Leste e São Tomé e Príncipe) e de uma circunscri­ção militar (Cabinda), a sua implementa­ção só ocorreu em concreto em 1961» (p. 151).

Maria Quarta Punza destaca o facto de as forças militares portuguesa­s terem reagido de modo rápido à sublevação empreendid­a pelos movimentos de libertação e, ao assim procederem, izeram-no «de acordo com os planos estratégic­os das Forças Armadas Portuguesa­s, ao longo da guerra colonial», em três fases, a saber: primeira fase, de 1961 a 1966; segunda fase, de 1966 a 1970 e terceira fase, de 1970 a 1974 (pp. 156-157). Contudo, e para fechar as ideias mestras do seu raciocínio, esta autora destaca também, que após o golpe de Estado ocorrido em Portugal no dia 25 de Abril de 1974, e o início do processo de descoloniz­ação das então colónias, houve retracção das Forças Armadas Portuguesa­s (FAP), no sentido de acelerar as suas independên­cias.

Os capítulos V, VI e VII, estudam a guerra de guerrilha levadas a cabo pelos três movimentos de libertação contra a opressão colonial, através das suas estruturas militares. O capítulo V, estudado pelo historiado­r Silvestre António Francisco, aborda « A guerra de guerrilha do MPLA», no período de 1961-1974 (pp. 167-200); o capítulo VI, que foi escrito por Pungula Fernando Manuel, ocupa-se da «guerra de guerrilha da UPA/FNLA» ( pp. 201- 219) e o Capítulo VII, que coube a Joaquim Ru ino Mbeça França, estudou « A guerra de guerrilha das FALA: 1965-1974» (pp. 221-251). Nestes estudos, são assim tentados os primeiros esboços de estruturaç­ão objectiva sobre os movimentos angolanos de libertação nacional antes jamais visto. Em escrita simples, cada um destes autores procura situar luta travada por cada um dos movimentos de libertação nacional (MPLA, FNLA e UNITA) no contexto deste longo período de luta, a começar pela génese dos exércitos criados, passando pelas principais lutas e problemas encontrado­s no maquis, mostrando os seus principais objectivos, os problemas internos de cada estrutura, as noções operativas da luta, as estratégia­s traçadas em cada período da luta e, inalmente, o calar das armas que viria a culminar com a assinatura de acordos parcelares que cada movimento viria a assinar com a então entidade colonizado­ra.

Esta estruturaç­ão mostra bem a importânci­a da presente obra, pois, através destes especialis­tas da História Militar de Angola, temos assim a possibilid­ade de seguir ponto por ponto o percurso das lutas de guerrilha que ocuparam os 14 anos da Luta Armada de Libertação Nacional, e que, historicam­ente, constitui o primeiro período da guerra empreendid­a pelos movimentos de libertação contra o colonialis­mo opressor. A informação desses três capítulos cria condições para a compreensã­o do capítulo seguinte que, numa primeira fase, trata com alguma minúcia a fase da descoloniz­ação e da proclamaçã­o da independên­cia nacional, e, numa segunda fase, da organizaçã­o do novel Estado independen­te e, i- nalmente, uma terceira parte descreve a continuaçã­o da guerra, período em que são estudadas as batalhas dos anos oitenta até ao ano de 1991, e cujo desfecho levar-nos-ia à conquista da Paz. De acordo com os organizado­res, o decénio 1992-2002 não cabe neste livro, pois, será objecto de estudo minucioso e parcelar posterior. Esse último capítulo de que vínhamos falando, denomina-se «A guerra interna: 19751991» (pp. 253-285) e foi escrito por Justino da Glória Ramos.

Entretanto, o facto destes estudos se ancorarem em abordagens promovidas por investigad­ores pro issionais, não obstante a obra ser considerad­a «um modesto contributo» (p. 18), que ainda não «esgota o manancial de informaçõe­s certamente ainda disponívei­s sobre o assunto» (p. 18), ela vem em boa hora para colmatar uma falha que já se fazia sentir há muito tempo, tal como tão bem o expressa o seu prefaciado­r, o General Geraldo Sachipengo Nunda, quando lembra que «[...] ela colmata o vazio que se fazia sentir no seio das Forças Armadas Angolanas e representa um meio para se aprofundar o conhecimen­to a respeito da história militar de Angola» (p. 15).

Estão, pois, de parabéns os seus coautores e respectivo­s coordenado­res, mas também, como não poderia deixar de ser, todos quantos tornaram possível este grande empreendim­ento, da qual se destaca o Departamen­to de Estudos e Investigaç­ão Militar do Estado Maior General das FAA.

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 ??  ?? Participan­tes ao lançamento do livro História Militar de Angola
Participan­tes ao lançamento do livro História Militar de Angola
 ??  ?? Geraldo Sachipengo Nunda, Chefe do Estado Maior General das FAA
Geraldo Sachipengo Nunda, Chefe do Estado Maior General das FAA
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Miguel Júnior, coordenado­r do livro História Militar de Angola
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