CACIMBAS DA MÔNGUA SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA
O soba da sede da comuna da Môngua, no município do Cuanhama, Cunene, a irmou, segundafeira, durante uma reportagem do Jornal Cultura que a batalha para a defesa das famosas Cacimbas da Môngua foi das mais sangrentas de todos os tempos, uma vez que marcou uma viragem decisiva no processo de ocupação colonial do sul de Angola. Hilinanye Jonas contou que a batalha para a defesa das Cacimbas da Mongua, que teve precisamente o seu inicio em 1914, ano em que o rei Mandume ya Ndemufayo subiu ao trono, sendo o último soberano dos Cuanhamas, foi das mais importantes pelo facto de ter determinado o desfecho dos acontecimentos na região sul de Angola e a consequente ocupação.
Sublinhou que a resistência foi zlonga. Os guerreiros combatentes de Mandume mostraram determinação e coragem contra os portugueses durante quatro anos de batalha para a posse das Cacimbas da Môngua.
Ao todo são 12 cacimbas classificadas como património cultural nacional. O ancião ressaltou, na ocasião, que a região era tida como estratégica e das áreas mais importantes para a defesa e sobrevivência da Ombala grande de Oipembe, situada a 10 quilómetros ao Oeste de Ondjiva, quiçá para as aspirações do rei, pois a ocupação da área em finais de 1917, pelas tropas portuguesas foi acima de tudo um duro golpe para a resistência africana e em particular dos Cuanhamas, Cafimas, Ovambadjas, Ndombodolas, Ovavales, todos pertencentes ao grupo etnolinguístico Ambó.
De acordo com Hinyenenua Jonas face a seca cíclica que sempre se fez sentir na região, as cacimbas da Mongua constituíam único recurso para os guerreiros combatentes do último soberano dos Ovakuanhama, pois como disse era único sítio onde se podia conseguir água, daí que se tenha tornado numa área bastante disputada pelas partes em con lito pois a sua ocupação teve um signi icado singular para as tropas portuguesas.
Fez saber que por volta de 1914, os portugueses atravessam o rio Cunene, através do Vau do Pembe e, a partir do Forte Roçadas, desencadeiam a ofensiva para a ocupação do território Ovambulândia, situado na margem direita do rio Cunene.
O rei Mandume ya Ndemufayo, apercebendo-se do perigo que o avanço dos ocupantes representava para o seu reino, fez deslocar várias unidades para a comuna da Mongua, onde instala o quartel-general e, consequentemente, funda as famosas Cacimbas da Môngua.
Lembrou que guerra de ocupação das Cacimbas da Môngua, que durou quatro anos, isto é, de Janeiro de1914 a Novembro de 1917, teve batalhas memoráveis, sobretudo a de 1917, onde os portugueses, apesar da sua superioridade em meios humanos e material militar, teriam perdido numa única batalha mais de seis generais e uma centena de soldados e sargentos, todos sepultados num cemitério local.
Disse que foi a batalha que determinou a derrocada do rei, já que uma vez ocupadas as Cacimbas, os combatentes do soberano ficaram praticamente sem água e alimentos, tendo forçado o seu recuo para a localidade de Bulungangala, próximo de Ondjiva e na última fase para a localidade de Oihole, no município de Namacunde.
No local, para além das 12 cacimbas existentes e classi icadas como património cultural, pode-se notar e constatar alguns objectos como munições de Mauser que os combatentes do rei utilizavam. Existe ainda um pátio onde o soberano reunia com os seus próximos colaboradores chamados Omalengas para delinear estratégias para a guerra.
Aquela autoridade tradicional aproveitou a ocasião para apelar as autoridades competentes do município do Cuanhama no sentido de se pôr ali uma vedação com o objectivo de se proteger aquele património cultural para além do melhoramento da sua imagem.
Por seu turno, a administradoraadjunta da comuna da Môngua, Engrácia Kuafeinge, garantiu que a Administração local vai trabalhar no sentido de vedar o local com material local, com o intuito de evitar que os animais provoquem danos, uma vez que a população também tira água para consumo daí.
Engrácia Kuafeinge disse por outro lado que Administração Comunal tem vindo a desenvolver esforços junto das instituições de direito, no caso a Cultura, para que aquele sítio histórico e patrimonial seja modernizado como forma de honrar a memória e a bravura do rei Mandume Ya-Ndemufayo.