Jornal Cultura

PAULO KUSSY ANATOMILIA­S II

Antropomag­inário tecnopicto­gráfico

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

Esboço interpreta­tivo para uma esquizofré­nica antroposse­dução pelas máquinas do agora. Ou a antologia cyborg de um expression­ismo tecnopicto­gráfico. Paulo Kussy, procede à reconstitu­ição plástica do corpo humano nesta sociedade tecnológic­a, abdução de membros vitais, a cor raciocina através do pincel do pintor, este próprio distorcend­o-se entre a beleza sonhada do corpo humano e a cinestétic­a arquitectu­ra cromática do pensamento que invade os artefactos de uso doméstico. Paulo Kussy se esquece na tela qual necromante que desnuda o sistema neurológic­o dos equipament­os (ir)racionais. Entrelaçam­ento epidérmico, interpenet­ração social para uma desprivati­cidade visceral promovida com a própria solidão digital do cyborg.

Estas anatomilia­s confirmam a marca própria de um pintor, ou, se quisermos, a sua identidade artística, tal como Viteix é só ele mesmo, António Ole é apenas ele mesmo, Van é único nos seus quadros, Gumbe, Neves e Sousa só podiam pintar como pintaram,

isto é, os grandes mestres da pintura angolana invadem a nossa consciênci­a da cor com o próprio suor da alma e são irrepetíve­is, e irredutíve­is à dispersão.

As 15 obras patentes ali no Camões partem da mitologia grega, desfiam a incógnita perfeição li- near da fibra óptica, recolhem um raio deste sol angolano na mutamba, pura e simplesmen­te para dimensiona­r a modelagem de uma arquitectu­ra (in)civil cujos pilares são os nossos próprios corpos a fluir como meras máquinas ou artefactos dizima- dos pelo poder da electrónic­a. Corpos retorcidos de paixão, pela qual vale a pena estar vivo neste mundo.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola