PAULO KUSSY ANATOMILIAS II
Antropomaginário tecnopictográfico
Esboço interpretativo para uma esquizofrénica antropossedução pelas máquinas do agora. Ou a antologia cyborg de um expressionismo tecnopictográfico. Paulo Kussy, procede à reconstituição plástica do corpo humano nesta sociedade tecnológica, abdução de membros vitais, a cor raciocina através do pincel do pintor, este próprio distorcendo-se entre a beleza sonhada do corpo humano e a cinestética arquitectura cromática do pensamento que invade os artefactos de uso doméstico. Paulo Kussy se esquece na tela qual necromante que desnuda o sistema neurológico dos equipamentos (ir)racionais. Entrelaçamento epidérmico, interpenetração social para uma desprivaticidade visceral promovida com a própria solidão digital do cyborg.
Estas anatomilias confirmam a marca própria de um pintor, ou, se quisermos, a sua identidade artística, tal como Viteix é só ele mesmo, António Ole é apenas ele mesmo, Van é único nos seus quadros, Gumbe, Neves e Sousa só podiam pintar como pintaram,
isto é, os grandes mestres da pintura angolana invadem a nossa consciência da cor com o próprio suor da alma e são irrepetíveis, e irredutíveis à dispersão.
As 15 obras patentes ali no Camões partem da mitologia grega, desfiam a incógnita perfeição li- near da fibra óptica, recolhem um raio deste sol angolano na mutamba, pura e simplesmente para dimensionar a modelagem de uma arquitectura (in)civil cujos pilares são os nossos próprios corpos a fluir como meras máquinas ou artefactos dizima- dos pelo poder da electrónica. Corpos retorcidos de paixão, pela qual vale a pena estar vivo neste mundo.