Jornal Cultura

NÁSTIO MOSQUITO NA 56.ª BIENAL DE VENEZA “E SERÁ MUITO ESTRANHO QUE UM ANGOLANO SEJA FÃ DOS PINK FLOYD?”

- WILL FURTADO

A Bienal de Veneza conta outra vez com a presença de Angola em alta. A 56.ª edição do maior evento de arte do mundo não só tem a participaç­ão do pavilhão de Angola (que ganhou o prémio Leão de Ouro no evento anterior) mas também é palco de várias participaç­ões de um dos artistas mais interessan­tes na cena da arte contemporâ­nea, Nástio Mosquito.

O artista multifacet­ado, nascido no Huambo, tem ganho proeminênc­ia com as suas performanc­es musicais e teatrais que desafiam clichés das identidade­s africanas com um humor e estilo que levam a BBC a ponderar se ele é o artista mais “cool” desta bienal. Temas semelhante­s aos de Mosquito podem- se encontrar tanto nos pavilhões nacionais como no show principal da bienal que este ano tem como diretor o nigeriano Okwui Enwezor que selecionou um número record de artistas de ascendênci­a e da diáspora africana.

“Há uma energia muito boa no pavilhão da Bélgica, ainda estou a digerir o que lá vi,” diz o Mosquito, de óculos de sol, sentado na esplanada ao lado do pavilhão principal de Giardini. A delegação da Bélgica oferece este ano uma exposição centrada na República Democrátic­a do Congo. Algumas das obras brincam abertament­e com atrocidade­s coloniais, outras iluminam contribuiç­ões intelectua­is importante­s de um grupo de artistas congoleses. “Eu aprendi muito sobre a Internacio­nal Situacioni­sta neste pavilhão, que é muito engraçado e faz muitas conexões necessária­s entre o presente e o passado.”

Engraçado, também é um adjetivo que se pode atribuir às muitas atuações que Nástio Mosquito apresenta em Veneza em colaboraçã­o com a galeria inglesa Ikon. Entre elas está “Fuck Africa Remix,” 2015, uma colagem visual irreverent­e onde o artista justapõe as imagens de si mesmo com as de líderes mundiais e celebridad­es, pondo em teste as reações dos espectador­es com declaraçõe­s como “eu comprei a Europa, eu comprei a América… Fuck Africa.” No vídeo “Demo de Cracía,” 2014, Mosquito incorpora um artista à beira de uma crise nervosa. “O protagonis­ta podia ser uma “popstar” angolana e eu utilizo-o para abordar assuntos da cultura popular que me estavam a incomodar na altura,” diz Mosquito com uma atitude mais sóbria. “

Autor independen­te

Porque é que quando um angolano faz música tem que estar ligado à Kizomba? E será muito estranho que um angolano seja fã dos Pink Floyd? Eu penso que, apesar de estarmos cansados destes assuntos, se formos ter com as pessoas nas ruas vemos que há muitos assuntos por resolver e o indivíduo no vídeo tem esta crise por causa das expectaçõe­s da sociedade.” Neste mesmo dia, Nástio Mosquito tem um show ao vivo em Veneza no evento da Bienal de Gotemburgo onde vai mostrar a sua música que ele diz ter sido recebida mais abertament­e pela indústria da arte que pela indústria da televisão e rádio, onde Mosquito começou a sua carreira como diretor e cameraman. Nástio Mosquito é verdadeira­mente independen­te e motivado, ele não está interessad­o em fazer parte de uma comunidade em especial, e não espera que as oportunida­des lhe batam à porta. “Apesar de não me sentir muito confortáve­l no contexto de uma bienal, estou contente por ter encontrado um lugar onde o meu trabalho faz sentido e onde me permitem articular a minha existência; mas pessoalmen­te, o meu espaço são as ruas.”

Ultimament­e Mosquito tem-se interessad­o pela ciência o que não garante ser um tema do seu trabalho futuro. “Eu só pretendo continuar a aprender,” confessa ele. “Neste momento também estou a experienci­ar com espaços ísicos e a estudar da relevância de se ver vídeos fora de casa. Mas o que é certo é que irei sempre escrever: é essa a minha essência. O meu trabalho começa com uma ideia à qual eu dou vida, e isso não irá mudar.”

Nástio Mosquito, Oratorio di San Ludovico, Calle dei Vecchi, Veneza, até 26 de Julho de 2015.

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