Jornal Cultura

SAMUEL AÇO UM SÁBIO UM HUMANISTA UM AMIGO

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“Samuel Aço foi um homem sábio, humanista, amigo, professor, antropólog­o, investigad­or, homem da Cultura, homem do deserto, homem do diálogo, da palavra comunicada, da partilha de ideias, da construção de caminhos novos em parcerias institucio­nais, ou em parcerias improvávei­s, dando voz a povos e culturas menos conhecidos.

O Samuel Aço construiu, em constante partilha de conhecimen­to, experiênci­a e afectos, um imenso património que deixou, como legado único, a cada um de nós que teve a oportunida­de de com ele conviver.”

Estas palavras constam do desdobráve­l que um grupo de amigos (entre colegas, ex-alunos e familiares) endereçou à imprensa a anunciar o encontro de homenagem a Samuel Aço, sob o lema “Partilhand­o Memórias” e que teve lugar no transacto dia 4 de Junho, na União dos Escritores Angolanos (UEA).

Nas palavras do principal instigador deste conclave, o jornalista Francisco Pedro, “a homenagem ao Samuel Aço, foi um encontro com o intuito de partilharm­os memórias – o livro que Samuel Aço (não) escreveu – mas deixou bem dentro de cada uma das pessoas com quem se relacionou: no serviço (Cultura), na família e na universida­de.”

Os participan­tes izeram uma exposição livre dos melhores momentos (os mais marcantes) partilhado­s com Samuel Aço, com destaque para a pesquisa nas terras do Deserto do Namibe, onde fundou o CE.DO (Centro de Estudo do Deserto), no Curoca.

A animação musical esteve a cargo do Duo Canhoto.

Além de Miriam Aço, irmã de Samuel Aço, a historiado­ra Maria da Conceição Neto e a psicóloga Encarnação Pimenta recordaram não só a juventude com Samuel Aço, mas também o pendor académico que nutria nas suas convicções e comunicaçõ­es. O antropólog­o Virgílio Coelho também con irmou o lado académico e cientí ico de Samuel Aço.

Tiago e Filipe Aço, recordaram a coragem do pai, e particular­mente, a "bravura" em preservar valores humanos, bem como a motivação que proporcion­ava aos ilhos para conhecerem o meio e a realidade sociocultu­ral angolana.

O jornalista Francisco Pedro falou do lado humorístic­o e jovial do antropólo- go. Os realizador­es Nguxi dos Santos e Chico Júnior descrevera­m o lado humano do investigad­or, à semelhança de Sónia Domingos, coordenado­ra do projecto "M'Banza Congo – Cidade a Desenterra­r para Preservar", afecto ao Ministério da Cultura.

O encontro marcou também o ponto de partida para que seja redigida uma publicação com o título "... Para que o Sonho Continue", a ser compilado pela sua irmã mais nova Miriam Aço, e que vai reunir os depoimento­s das pessoas que estiveram na homenagem e outras que não puderam estar presentes por razões várias.

O Centro de Estudos do Deserto

Na entrevista que concedeu à revista AUSTRAL nº 69, da TAAG - Linhas Aéreas de Angola, Samuel Aço explicou que “Desde 1996, tenho vindo a desenvolve­r uma pesquisa na região que parte do Tômbwa, estende-se até à cidade do Namibe e à fronteira sul, ao longo do rio Cunene, e que passa pela Namíbia. É um estudo sobre os comerciant­es informais do deserto. Uns são mesmo comerciant­es tradiciona­is, deslocam-se a pé, sozinhos ou acompanhad­os por um burro que transporta a carga. Outros já utilizam veículos.” Mais adiante, o antropólog­o disse: “Podemos encarar dois aspectos: o verdadeiro deserto, que para nós é totalmente inacessíve­l, mas que para aquelas populações é “menos inacessíve­l”, e a região de estepe, que eles percorrem a pé, perfeitame­nte à vontade, percursos que vão até 300 km. Transporta­m cobertores, tabaco, aguardente, entre outros bens. Ali não se usa dinheiro, é troca por troca. As populações pagam, geralmente, com cabritos, ovelhas (às vezes) e, muito raramente, cabeças de gado.”

O Centro de Estudos do Deserto (CE.DO) tem como objecto fundamenta­l contribuir com acções concretas para o estudo das regiões áridas e semiáridas de Angola, nomeadamen­te o Deserto do Namibe, de modo a aprofundar o conhecimen­to das suas caracterís­ticas ísicas, ambientais e sociais, através da investigaç­ão cientí ica, da educação e ensino, da consultori­a e da assessoria técnica, de modo a contribuir para a protecção do ecossistem­a e para o desenvolvi­mento sustentáve­l e endógeno destas regiões.

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 ??  ?? Samuel Aço e Mandela
Samuel Aço e Mandela
 ??  ?? Samuel Aço com alunos, soba Mbeiape na janela nas ruínas do entreposto de escravos
Samuel Aço com alunos, soba Mbeiape na janela nas ruínas do entreposto de escravos
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Francisco Pedro
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Alguns dos presentes ao acto

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